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novembro 02, 2015

[Resenha] Perdão, Leonard Peacock - Um livro de Matthew Quick

Realmente não dissemos muito mais do que isso, nada de extraordinário aconteceu, só a conversa idiota de garotos daquela idade.
Talvez seja o tipo de onda que apenas garotos assim podem ter e entender.
Havia centenas de adultos bebendo, jogando e fumando naquela noite, mas aposto que nenhum deles teve a mesma onda que Asher e eu.
Talvez seja por isso que os adultos bebem, jogam e se drogam: porque não conseguem mais ter isso naturalmente.
Talvez a gente perca essa capacidade à medida que envelhece.
Asher com certeza perdeu.
(p. 110)


try to erase it from the blackboard


Não consigo imaginar este livro sem uma trilha sonora como Jeremy. Principalmente por ser o menino do vídeo um pouco como Leonard Peacock: uma voz que em algum momento grita. Ainda que não entendamos a intensidade de suas histórias, talvez Leonard e Jeremy desejem apenas lembrar-nos que a cada momento algum menino (como eles, como nós mesmos) gostaria de ser ouvido. E quando a voz encontra o fôlego de um silêncio, talvez seja a melhor hora para retribuirmos a escuta, quem sabe até com algum sorriso.

Apesar de não conseguir dizer os porquês de tanta música aqui no blog e tampouco por que apenas Pearl Jam em mais de um post, acredito que durante a leitura muitas das histórias saiam do papel e passem a conviver em nossas lembranças; daí essas aproximações, como se o texto-do-autor encontrasse o-diário-do-leitor ou algo próximo disso. Ou ainda algum outro sentimento indizível, como o que sinto ao ouvir as histórias de Matthew e Eddie, e que provavelmente você sente junto a infinitos outros autores. Aliás, infinito é uma palavra que define bem esse sentimento, esse isso.

Perdão, Leonard Peacock talvez seja o livro 'mais denso' de Matthew Quick. E não por lidar com o suicídio como tema (olá, Por lugares incríveis), mas por compartilhar em cada página uma angústia do tipo insuperável, sem alguma perspectiva de que tudo irá acabar bem. Nos outros livros do autor, especialmente em Quase uma Rockstar, a narrativa de acontecimentos trágicos é de alguma forma acompanhada por um flashback de boas lembranças, o que torna o passado algo precioso demais, e portanto algum motivo para resistir aos piores dias. Leonard Peacock não consegue esta superação; os acontecimentos da infância são ainda fortes demais.

A história se passa na Filadélfia, em um cenário comum a inúmeros adolescentes, onde apenas os mais fortes e populares sobrevivem. E nos corredores da escola e da vida Leonard tem sido forte apenas por resistir aos longos dias. Não há muitos personagens; poucos foram os encontros significativos em sua vida. Daí o cotidiano ser acompanhado apenas por Walt, o vizinho idoso e fã de cinema dos anos quarenta; Lauren, a jovem cristã por quem acreditou se apaixonar; e Herr Silverman, professor de Holocausto, cujas aulas e conselhos serão realmente importantes para Leonard.

Como alternativa aos dias ruins, Herr Silvermann sugere que Leonard escreva algumas Cartas para o Futuro, destinada àqueles com quem gostaria de compartilhar seus próximos dias. Escrever seria importante, especialmente em momentos tristes, pois a carta poderia tornar-se uma promessa, uma espécie de "oi, estarei aí sim, no futuro, para encontrá-los". Só que O Pior dos Dias Ruins chega e Leonard Peacock acredita que as cartas e tudo o mais são apenas alguma bobagem sem sentido. Até o momento em que uma das poucas vozes em que mais confia o encontra pelo caminho.

Para quem já está acostumado com o gênero sick-lit e personagens introspectivos, esta será também uma obra importante; recomendo a leitura! Afinal, embora triste, Leonard tem suas razões, e realmente merece ser ouvido.


Como medir o sofrimento?
Quer dizer, o fato de eu viver em um país democrático não garante que minha vida seja livre de problemas.
Longe disso.
(p. 84)


Matthew Quick, Perdão, Leonard Peacock. RJ: Intrínseca, 2013.
Leia um trecho em pdf.

3 comentários:

  1. Faz quase dois anos que tenho esse livro aqui em casa e nunca li. Quando comprei estava super na vontade, pois tinha lido e amado O Lado Bom da Vida, mas acabei deixando ele de lado, e cá estou eu dois anos depois. Adorei ler a sua resenha, pois ela me despertou novamente a vontade de lê-lo. Me fez lembrar porque eu tive vontade de comprá-lo <3 Ótima resenha! Espero poder comentar esse livro com você em breve hahaha.

    Beijos,
    Bia.

    www.nasuaestanteblog.blogspot.com | @NaSuaEstante_

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  2. Ler resenha com direito a música de fundo é show de bola. Gostei da experiência. kkkk
    Sua resenha foi ótima! Muito bem escrita e despertou-me o interesse para ler um livro que ainda não conhecia. Adoro quando os livros falam sobre sentimentos de uma forma um pouco mais profunda, saindo dos simples romance adolescente.

    Parabéns!

    Mari
    conchegodasletras.blogspot.com.br

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  3. Gente, estou ensaiando para ler esse livro e sempre empaco no meio do caminho :(

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