Ainda em semana de lançamentos editoriais, compartilhamos uma seleção clássicos da literatura brasileira publicados - e reeditados - pela Global Editora. E como a obra de Marina Colasanti sempre está em nossas listas de leitura, escolhemos três títulos para indicar aqui no blog: Mais de 100 Histórias Maravilhosas; Melhores crônicas; Hora de alimentar serpentes. Aliás, se você estiver no Rio de Janeiro no mês de maio, poderá conhecer um pouco mais da obra de Marina na terceira edição do Clube do Livro Livraria Da Vinci! Aguardamos vocês para uma ótima conversa <3
Abaixo, mais algumas sugestões de clássicos publicados pela Global:
Melhores Contos Lygia Fagundes Telles
(Pocket)
Um dos nomes mais importantes da literatura brasileira, romancista notável, é no conto que Lygia Fagundes Telles encontra o seu mais autêntico meio de expressão e de renovação. As suas histórias, onde a mulher ocupa quase sempre o primeiro plano, desvendam com mão de mestre o íntimo do ser humano, suas dúvidas e perplexidades.
"As histórias apavorantes das noites na escada. Eu fechava os olhos-ouvidos nos piores pedaços e o pior de todos era mesmo aquele, quando os ossos da alma penada iam caindo diante do viajante que se abrigou no casarão abandonado. Noite de tempestade, vinha o vento uivante e apagava a vela e a alma penada ameaçando cair, Eu caio! Eu caio! — gemia a Maricota com a voz fanhosa das caveiras. Pode cair! ordenava o valente viajante olhando para o teto. Então caía um pé ou uma perna descarnada, ossos cadentes pulando e se buscando no chão até formar o esqueleto. Em redor, a cachorrada latindo, Quer parar com isso? gritava a Maricota sacudindo e jogando longe o cachorro mais exaltado. Nessas horas sempre aparecia um dos grandes na janela (tia Laura, tio Garibaldi?) para impor o respeito.
Quando Maricota fugiu com o trapezista eu chorei tanto que minha mãe ficou preocupada: Menina mais ingrata aquela! Acho cachorro muito melhor do que gente, ela disse ao meu pai enquanto ia arrancando os carrapichos do pêlo do Volpi que já chegava gemendo, ele sofria com antecedência a dor da retirada de carrapichos e bernes."
(Lygia Fagundes Telles, Que se chama solidão)
Antologia poética - Cecília Meireles
4ª edição
Antologia poética Cecília Meireles, coletânea publicada pela primeira vez em 1963, um ano antes de sua morte, é a única cujos textos foram escolhidos pela própria poeta. Composta por poemas retirados de diversos livros seus, inclusive alguns textos inéditos – a obra revela, assim, um precioso autorretrato da escritora. Uma obra sobre as pequenas maravilhas da vida até os questionamentos sobre o destino do mundo e da humanidade.
Antologia poética Cecília Meireles, coletânea publicada pela primeira vez em 1963, um ano antes de sua morte, é a única cujos textos foram escolhidos pela própria poeta. Composta por poemas retirados de diversos livros seus, inclusive alguns textos inéditos – a obra revela, assim, um precioso autorretrato da escritora. Uma obra sobre as pequenas maravilhas da vida até os questionamentos sobre o destino do mundo e da humanidade.
A autora no prefácio comenta: "Há muita maneira de fazer-se uma antologia e não se sabe qual seja a melhor. Pode-se usar um critério estético, ou didático, ou outros, conforme o objetivo que se tenha em vista. Para o leitor, a melhor antologia é a que ele mesmo organiza, ao eleger, na obra completa de um escritor, aquilo que mais lhe agrada, embora com o passar do tempo se possa ver como o gosto pessoal varia, e o que nos agrada numa época já não nos agrada igualmente noutra, tão volúveis somos em nossas preferências e tão diferentes as perspectivas, no caminho a nossa evolução."
Antologia poética - Manuel Bandeira
Antologia poética Manuel Bandeira, coletânea organizada pelo próprio autor em 1961, reúne poemas publicados em diversos livros. No prefácio o autor comenta: A antologia atual é mais completa que as anteriores por incluir também poemas de circunstâncias, constantes do livro Mafuá do malungo, e traduções que fiz de poetas estrangeiros, tiradas do livro Poemas traduzidos. Além disso, recolhem-se nela alguns poemas recentes ainda não coligidos em livro. Como nas duas primeiras, aqui o critério foi marcar a evolução da minha poesia, aproveitando de cada livro o que me parecia representar melhor a minha sensibilidade e a minha técnica.
Nesta obra é possível perceber o conflito, inteligentemente resolvido, entre o moderno e o canônico, as brincadeiras com os temas da vida e da morte e a sua extrema sensibilidade aliada a um domínio técnico apurado. Segundo os estudiosos, Manuel Bandeira, em sua poesia, abandonou o tom retórico de seus predecessores e usou a fala coloquial para tratar, com objetividade e humor, de temas triviais e eventos do dia a dia. Apesar de sua refinada sensibilidade, que remonta aos clássicos portugueses, o autor era capaz, também, de se fascinar com o insólito e o corriqueiro.
Melhores crônicas - Lima Barreto
As crônicas de Lima Barreto, escritas em sua maioria entre 1918 e 1922, revelam a sua revolta e insatisfação com as instituições políticas e sociais. Sem se exaltar, em tom de conversa familiar, ele denuncia aspectos cruéis da sociedade brasileira como o racismo e as injustiças sociais, o que mantém esses textos extremamente atuais.
"Um amigo, muito meu amigo mesmo, paga atualmente, nos confins dos subúrbios, o avantajado aluguel de duzentos e cinco mil-réis por uma casa que, há dois anos, não lhe custava mais de cento e cinqüenta mil-réis. Para melhorar um tão doloroso estado de coisas, a prefeitura põe abaixo o Castelo e adjacências, demolindo alguns milhares de prédios, cujos moradores vão aumentar a procura e encarecer, portanto, ainda mais, as rendas das habitações mercenárias.
A municipalidade desta cidade tem dessas medidas paradoxais, para as quais chamo a atenção dos governos das grandes cidades do mundo. Fala-se, por exemplo, na vergonha que é a Favela, ali, numa das portas de entrada da cidade - o que faz a nossa edilidade? Nada mais, nada menos do que isto: gasta cinco mil contos para construir uma avenida nas areias de Copacabana. (...) De forma que a nossa municipalidade não procura prover as necessidades imediatas dos seus munícipes, mas as suas superfluidades.
(...) A casa, como ia dizendo, é nos dias que correm, um pesadelo atroz. (...) O Governo Federal - não há negar - tem sido paternal. A sua política, a respeito, é de uma bondade de São Francisco de Assis: aumenta os vencimentos e, concomitantemente, os impostos, isto é, dá com uma mão e tira com a outra."
(Lima Barreto, Marginália, 14-1-1922)
Antologia poética - Manuel Bandeira
Antologia poética Manuel Bandeira, coletânea organizada pelo próprio autor em 1961, reúne poemas publicados em diversos livros. No prefácio o autor comenta: A antologia atual é mais completa que as anteriores por incluir também poemas de circunstâncias, constantes do livro Mafuá do malungo, e traduções que fiz de poetas estrangeiros, tiradas do livro Poemas traduzidos. Além disso, recolhem-se nela alguns poemas recentes ainda não coligidos em livro. Como nas duas primeiras, aqui o critério foi marcar a evolução da minha poesia, aproveitando de cada livro o que me parecia representar melhor a minha sensibilidade e a minha técnica.
Nesta obra é possível perceber o conflito, inteligentemente resolvido, entre o moderno e o canônico, as brincadeiras com os temas da vida e da morte e a sua extrema sensibilidade aliada a um domínio técnico apurado. Segundo os estudiosos, Manuel Bandeira, em sua poesia, abandonou o tom retórico de seus predecessores e usou a fala coloquial para tratar, com objetividade e humor, de temas triviais e eventos do dia a dia. Apesar de sua refinada sensibilidade, que remonta aos clássicos portugueses, o autor era capaz, também, de se fascinar com o insólito e o corriqueiro.

As crônicas de Lima Barreto, escritas em sua maioria entre 1918 e 1922, revelam a sua revolta e insatisfação com as instituições políticas e sociais. Sem se exaltar, em tom de conversa familiar, ele denuncia aspectos cruéis da sociedade brasileira como o racismo e as injustiças sociais, o que mantém esses textos extremamente atuais.
"Um amigo, muito meu amigo mesmo, paga atualmente, nos confins dos subúrbios, o avantajado aluguel de duzentos e cinco mil-réis por uma casa que, há dois anos, não lhe custava mais de cento e cinqüenta mil-réis. Para melhorar um tão doloroso estado de coisas, a prefeitura põe abaixo o Castelo e adjacências, demolindo alguns milhares de prédios, cujos moradores vão aumentar a procura e encarecer, portanto, ainda mais, as rendas das habitações mercenárias.
A municipalidade desta cidade tem dessas medidas paradoxais, para as quais chamo a atenção dos governos das grandes cidades do mundo. Fala-se, por exemplo, na vergonha que é a Favela, ali, numa das portas de entrada da cidade - o que faz a nossa edilidade? Nada mais, nada menos do que isto: gasta cinco mil contos para construir uma avenida nas areias de Copacabana. (...) De forma que a nossa municipalidade não procura prover as necessidades imediatas dos seus munícipes, mas as suas superfluidades.
(...) A casa, como ia dizendo, é nos dias que correm, um pesadelo atroz. (...) O Governo Federal - não há negar - tem sido paternal. A sua política, a respeito, é de uma bondade de São Francisco de Assis: aumenta os vencimentos e, concomitantemente, os impostos, isto é, dá com uma mão e tira com a outra."
(Lima Barreto, Marginália, 14-1-1922)
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