“Palavras vagas têm poder na política, especialmente quando invocam algum princípio que envolva as emoções das pessoas.”
Antes de tudo, o livro de Thomas Sowell não fala de pessoas, não fala de partidos. Thomas Sowell, economista norte-americano de perspectiva liberal, professor da Universidade Stanford e autor de mais de 40 livros, apresenta ao leitor fatos e controvérsias a respeito de temas coletivos, como moradia, transporte, programas sócio-governamentais, disparidades salariais e outros mais. Ainda que muitas das questões do livro sejam especificamente americanas, problemas relacionados a administração pública (e ao poder muita das vezes totalitário de seus representantes) são comuns a diversos países e, portanto, bem próximos da realidade do leitor brasileiro.
A epígrafe já dá o tom do livro: "Fatos são teimosos; sejam quais forem nossos desejos, nossas tendências ou os ditames das nossas paixões, eles não podem alterar os fatos e as evidências". Em oito capítulos (O poder das falácias; Fatos e falácias urbanos; Fatos e falácias masculinos e femininos; Fatos e falácias acadêmicos; Fatos e falácias relacionados à renda; Fatos e falácias raciais. Fatos e falácias do Terceiro Mundo; Considerações finais), Sowell afirma que muitas ideias "são passíveis de crença apenas por serem consistentes com uma visão de mundo amplamente difundida" (p.9), e, quanto maior esta impressão de verdade, maior o seu apoio político. E suas consequências, claro.
Já no primeiro capítulo do livro, encontramos um exemplo prático de como fatos contrapõem-se a ventos ideológicos: quando questionado a respeito do excesso de poluição e veículos na Manhattan de hoje, o autor coloca em questão se a Nova York no século XIX (ou seja, a da era pré-automóvel) fora menos poluída que a do século XXI. Afinal, se considerarmos que o transporte à cavalo produzia a cada dia útil toneladas (sim, toneladas diárias) de estrume e urina nas não-pavimentadas localidades do Estado, há que se considerar que o problema da mobilidade humana e de sua consequente "imundície" é um pouco mais complexo que a equação "quanto mais carros, maior a poluição". É claro que com esta comparação de episódios não estamos dizendo que "a poluição não existe" ou que "a mobilidade urbana não é um problema"; neste contexto, o que não é plausível é a crença de que para se combater o caos viário de uma metrópole basta apenas derrubar um viaduto e substitui-lo por um espaço público de convivência (olá, Rio de Janeiro olímpico da Odebrecht). Afinal, o contingente de trabalhadores que saem dos subúrbios para a capital, aliado a deficiência do sistema de transportes públicos, são situações factuais, e que não "desaparecem" ao primeiro escombro de uma avenida. Desvios e avanços urbanos são mesmo uma herança de mandatos e décadas, e justamente por isso não solucionáveis em um único e "engenhoso" plano governamental, por maior que seja seu apelo emocional e sua aparência de justiça.
Como diria o comentador político Ben Shapiro, "facts don't care about your feelings", que, em tradução livre, soa como uma necessidade de se compreender que o factual "acontece", independente de nossos "sentimentos" a respeito disso. Já nas palavras de Sowell, "lidar com os fatos" é parecido com a experiência de um aluno em idade escolar que compreende a matemática de maneira errônea, e que tão logo perceberá que a demanda por uma "resposta certa" em uma prova não deixará de existir por conta desta divergência de aprendizado. Parece um exemplo banal, mas pode ser a centelha para inúmeras questões cotidianas que, queiramos ou não, não esperam de nós uma "resposta subjetiva".
Colocar em debate o cotidiano social e político em que vivemos talvez seja um dos maiores stresses de nossa época; no entanto, é importante que cada um encontre o que é essencial para si, em sua vida privada e junto aos seus, e argumente por isso; da mesma forma, é necessário que nosso trato com a política não seja uma "relação de afetos", cuja cegueira certamente nos impedirá de ver o desejo "deles" de controlar multidões e indivíduos. Como diria Sowell, "o que chamamos por este nome, na retórica política, é a supressão, pelo governo, do planejamento de cada uma das pessoas, sobreposto por um coletivo criado por terceiros, armado com a força do governo e isento de arcar com os custos impostos aos demais".
Fatos e falácias da economia é um livro que possivelmente irá de encontro a muitas de nossas perspectivas políticas, especialmente se o leitor for afeito a ideologias; no entanto, independente de nossas escolhas, certos fatos são impossíveis de serem encobertos: seja um imposto, um flagra ou um tiro, há situações inevitáveis, justamente por atingirem diretamente a nós mesmos, como um fato, e não uma fatalidade.
Com argumentação brilhante e extrema clareza, o aclamado economista Thomas Sowell demonstra de forma objetiva como os dados econômicos e as crenças populares são construídos de forma tendenciosa pelo senso comum, reforçados pelos políticos e divulgados pela mídia. Ao analisar algumas das falácias mais populares da economia, desfaz crenças amplamente difundidas sobre problemas urbanos, desigualdade de renda entre homens e mulheres e questões relacionadas às diferenças entre raças e países em desenvolvimento, entre outras. Fatos e falácias da economia se destina a todos que desejem compreender questões econômicas sem jargões e gráficos tediosos, mostrando que o exame cuidadoso das falácias que nos cercam é um exercício importante, e até divertido.
Sobre o autor: Thomas Sowell – Um dos mais influentes economistas americanos em atividade, é um destacado defensor da economia de mercado. Graduou-se em Harvard, obteve o título de mestre na Universidade de Columbia e o de doutor na Universidade de Chicago. Como intelectual público, ganhou notoriedade por, sendo negro, opor-se a ações afirmativas como cotas raciais. Escreveu mais de 30 livros e lecionou em Cornell, California, UCLA, Stanford, entre outras universidades. Colabora com The Wall Street Journal e as revistas Forbes e Fortune.
O único acréscimo que eu faria ao seu texto, seria o de inserir a palavra "pseudo" antes de ideologias, porque quem estuda e conhece o funcionamento da política de verdade, não pode ser "afeito a ideologias" cegamente. Fatos são fatos e ponto. Lacrou!!!! ♥
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