“E aquele mundo, vibrante de deslumbramento, acabou também. Quase todos os mundos acabam.”(pg. 10)
Inspirado em eventos da Segunda Guerra Mundial, Resistência é o relato de duas irmãs gêmeas tiradas dos laços de seu avô e mãe pelo Dr. Mengele e levadas ao campo de concentração em Auschiwitz, na Polônia tomada pelas forças nazistas. Lá, junto a anões, albinos e outras pessoas portadoras de alguma singularidade genética, são submetidas a testes científicos que vão desde injeção de substâncias químicas à extração de órgãos e o que parece ser lavagem cerebral.
Inspirado em eventos da Segunda Guerra Mundial, Resistência é o relato de duas irmãs gêmeas tiradas dos laços de seu avô e mãe pelo Dr. Mengele e levadas ao campo de concentração em Auschiwitz, na Polônia tomada pelas forças nazistas. Lá, junto a anões, albinos e outras pessoas portadoras de alguma singularidade genética, são submetidas a testes científicos que vão desde injeção de substâncias químicas à extração de órgãos e o que parece ser lavagem cerebral.
“Ainda bem que ela não esmiuçou nossas diferenças de identificação. Pearl usava um prendedor de cabelo azul. O meu era vermelho. Pearl falava normalmente. Minha fala era apressada, interrompidas às vezes, cheia de pausas. A pele de Pearl era branca como a neve. Eu tinha pele de sol, toda pintada. Pearl era toda feminina. Eu queria ser toda Pearl, mas por mais que me esforçasse, só conseguia ser eu.” (pg. 16)
Stasha é a gêmea sonhadora. Inquieta e inventiva, a pequena tece, entre as fendas duras que sua mente abre na realidade, outra realidade onde abriga aqueles mais próximos que, assim como ela, lutam para sobreviver. Apesar de resistir à fome, frio e morte, ela é capaz de transformar situações das mais terríveis em ambíguos jogos narrativos, ao mesmo tempo cruéis, curiosos. Em um desses jogos imagina-se na trajetória de formação médica. Consegue inclusive um paciente, um menino semi-vivo que chama de Paciente Número Azul, e a quem promete a cura, analisando e anotando todos os dias dados sobre sua doença, planejando com ele a melhor forma de assassinar o “tio” Mengele.
“O homem que esconderia sua relação com a morte em todos esses nomes. Ele nos disse para chamá-lo de “Tio Médico”. Ele nos fez chamá-lo por esse nome uma vez, depois outra, até que nós o reconhecêssemos, sem erro. Quando acabamos de repetir o nome e ele ficou satisfeito, nossa família já tinha desaparecido.” (pg. 17)
Desde cedo, Stasha desejou ser exatamente como sua irmã, Pearl, que, além de atraente e habilidosa dançarina, torna-se espécie de âncora, para que esta não flutue longe demais em seus sonhos e permaneça ainda atenta à realidade. Entretanto, os traumas causados pelas experiências e condição desumana pouco a pouco afastam ambas as personalidades, e cada uma é modelada pela percepção particularmente sensível diante de suas experiências no “zoológico” de Mengele, - o que parece apetecer muito os estranhos apetites do “tio”.
“Ela o chamava de cobaia, mas eu sabia que o menino nomeado Paciente Número Azul era mais do que isso. Eu sabia que ela o considerava um irmão, um trigêmeo, outro membro da família que ela não podia perder. Avisei para ela não se apegar. E ela me acusava de ser insensível. Não estava errada, mas eu não podia evitar ficar insensível com o Paciente porque estava muito cansava de ser sensível por nós duas. Meu corpo estava sobrecarregado de sofrimento, não precisava acrescentar o sofrimento de Paciente.” (pg. 71)
Apesar da realidade atroz, a narrativa de Konar permite espaço o suficiente para que floresça um botão de descoberta do amor. Pearl, mesmo tendo os sentidos fragilizados e o corpo perdendo lentamente sua vida, acaba por conhecer Peter, um menino com certos privilégios por parecer descendente de arianos.
“(...) ele se arrastou para frente em seu delírio moribundo, como se quisesse ver se aquele chifre de marfim continha alguma última coisa para ele, uma mensagem, um ruído, um grito... Mas o guarda, ao ver o interesse dele, o derrubou com uma bala nas costas, no momento em que o homem agarrava o objeto. Só então ele se aquietou. Nuvens vermelhas brotaram entre as listras do uniforme dele. Eu vi quando escorreram e viajaram pelo horizonte dos seus ombros." (pg. 90)
Entre ameaças de nunca mais se voltar de um simples banho por ser, na verdade, um passeio para a câmara de gás, ou a morte por febre tifóide devido a uma histórica praga de piolhos, temo dizer que pouca ou nenhuma esperança resta para aqueles que abrirem as páginas de Resistência. Nenhum sonho ou bela lembrança de outrora é capaz de afastar a contundência do contexto terrível de um campo de concentração. No entanto, em contraste, não há um instante que a habilidade poética de Konar não torne a o texto atraente, como se refinasse a matéria cruenta e bruta: uma mancha que brota do buraco feito à bala por um tiro nas costas durante um jogo de futebol contra os guardas de Auschiwitz, aqui, se torna uma nuvem a subir pelo horizonte dos ombros do morto. Neste sentido, é, de fato, inoportuno deleite.
“Ela o chamava de cobaia, mas eu sabia que o menino nomeado Paciente Número Azul era mais do que isso. Eu sabia que ela o considerava um irmão, um trigêmeo, outro membro da família que ela não podia perder. Avisei para ela não se apegar. E ela me acusava de ser insensível. Não estava errada, mas eu não podia evitar ficar insensível com o Paciente porque estava muito cansava de ser sensível por nós duas. Meu corpo estava sobrecarregado de sofrimento, não precisava acrescentar o sofrimento de Paciente.” (pg. 71)
Apesar da realidade atroz, a narrativa de Konar permite espaço o suficiente para que floresça um botão de descoberta do amor. Pearl, mesmo tendo os sentidos fragilizados e o corpo perdendo lentamente sua vida, acaba por conhecer Peter, um menino com certos privilégios por parecer descendente de arianos.
“(...) ele se arrastou para frente em seu delírio moribundo, como se quisesse ver se aquele chifre de marfim continha alguma última coisa para ele, uma mensagem, um ruído, um grito... Mas o guarda, ao ver o interesse dele, o derrubou com uma bala nas costas, no momento em que o homem agarrava o objeto. Só então ele se aquietou. Nuvens vermelhas brotaram entre as listras do uniforme dele. Eu vi quando escorreram e viajaram pelo horizonte dos seus ombros." (pg. 90)
Entre ameaças de nunca mais se voltar de um simples banho por ser, na verdade, um passeio para a câmara de gás, ou a morte por febre tifóide devido a uma histórica praga de piolhos, temo dizer que pouca ou nenhuma esperança resta para aqueles que abrirem as páginas de Resistência. Nenhum sonho ou bela lembrança de outrora é capaz de afastar a contundência do contexto terrível de um campo de concentração. No entanto, em contraste, não há um instante que a habilidade poética de Konar não torne a o texto atraente, como se refinasse a matéria cruenta e bruta: uma mancha que brota do buraco feito à bala por um tiro nas costas durante um jogo de futebol contra os guardas de Auschiwitz, aqui, se torna uma nuvem a subir pelo horizonte dos ombros do morto. Neste sentido, é, de fato, inoportuno deleite.
Leia um trecho da obra. Disponível no site da Rocco.
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