Uma das maiores recompensas da literatura atual é o fato de que um autor pode ter o reconhecimento por seu trabalho ainda em vida, diferente do que acontecia há alguns séculos. Mas, o que faz um autor ser digno de ser lembrado? A qualidade de sua obra? A quantidade de pessoas que o leem? A aprovação da sociedade literária? O número de vezes em que seus livros estiveram na lista de mais vendidos?
Para mim, um autor é digno de honrarias quando sua obra consegue tocar e sensibilizar a vida das pessoas – no caso, ao menos a minha -, se for um romance de ficção, é preciso que seus personagens sejam críveis e a gente consiga enxergar um pouco de nós em cada um deles. É preciso refletir problemas reais que cada um de nós pode vir a enfrentar de um jeito ou de outro.
Existem muitos nomes que se enquadrariam nesses critérios, mas hoje eu vou falar – mais uma vez – de Nicholas Sparks. Seu livro Querido John, um dos mais emblemáticos de sua carreira, completou esse ano o marco de 10 anos de seu lançamento mundial e ainda é um dos mais discutidos entre os fãs do autor norte-americano, e para comemorar essa data, a Editora Arqueiro está relançando o livro em uma nova edição – mais bela do que a anterior, preciso dizer – que chegou recentemente às livrarias de todo o país.
O enredo conta a história de John Tyree e Savannah Curtis, dois jovens que se conhecem durante um verão e tem suas vidas alterdas para sempre.
John foi um típico adolescente rebelde, sem interesse por estudos ou um trabalho que agregasse à sua vida. Criado somente pelo pai, um homem introspectivo e metódico, com um interesse peculiar e quase obssessivo por moedas raras, ele quase se perdeu para uma vida desregrada e sem limites ao ver sua vida comparada a de seus amigos que tinham muito mais regalias que ele e alimentar um grande ressentimento contra isso. Mas, um dia John desperta para a realidade e pensando principalmente no futuro do pai, decide se alistar no Exército, onde aprende a ser disciplinado, a levar uma vida mais saudável, a estudar e a ter um propósito, nem que seja temporário.
“Um dia eu me cansei daquela vida. Não me lembro de ter ficado especialmente infeliz, eu só não aguentava mais” – pág. 19.
“O erro que muita gente comete é se perguntar como é que soldados são capazes de arriscar suas vidas dia após dia, ou como conseguem lutr por algo em que talvez não acreditam. Ninguém faz isso. (...) Encontrei gênios e idiotas, mas no fim das contas fazemos o que fazemos uns pelos outros. Por amizade. Não pelo país, não por patriotismo, não porque somos máquinas programadas para matar, mas por causa do cara que está a seu lado. Você luta por seu amigo, para mantê-lo vivo, e ele luta por você. Tudo que diz respeito ao Exército se baseia nessa simples premissa” – pág. 23.
Em uma de suas licenças, John conhece Savannah, uma jovem encantadora que está na cidade de passagem, realizando trabalho voluntário para ajudar algumas famílias a terem um teto sobre suas cabeças. Ambos veem algo no outro que os atrai e acabam se aproximando, o que faz John rever a própria vida e perceber coisas a respeito de si mesmo que ele não se dava conta antes de conhecê-la.
“Tudo nela – desde o jeito fácil com que ria, até sua perspicácia, sua evidente preocupação com os outros – me impactava, como algo novo e desejável. Além disso o tempo que passamos juntos também me fez perceber como eu sou solitário. Não tinha admitido isso para mim mesmo, mas após dois dias com Savannah, eu sabia que era verdade” – pág. 64.
Com delicadeza e suavidade, eles vão se apaixonando conforme passam os dias juntos, mas Savannah com seu jeito doce e simples, faz com que John refreie os próprios instintos, esperando o momento certo de dar cada passo nesse relacionamento delicado e diferente de tudo o que ele já vivenciou.
Savannah consegue até mesmo fazê-lo rever o relacionamento com o pai, do qual ele sempre se ressentiu e se manteu distante por serem tão diferentes. Mas, agora sob um novo prisma, John percebe o quão injusto ele foi e seus sentimentos em relação ao homem que o criou da melhor maneira que pode, mudam.
“No entanto, eu me importava com meu pai. Compreendi que ele era afetado por uma condição e tinha formado um conjunto de regras que o ajudava a se encaixar no mundo. E, mesmo com essa dificuldade ele encontrara um caminho para que eu pudesse me tornar o homem que eu era. Para mim, isso era mais do que suficiente. Ele era meu pai e tinha feito o melhor que podia” pág. 118.
Quando a licença de John chega ao fim, eles já estão completamente apaixonados e fazem juras de aguardarem o período de alistamento de John terminar para ficarem juntos definitivamente, ainda que enfrentem alguns percalços no caminho, já que Savannah continua levando sua vida em frente, com a rotina de estudos e trabalho, enquanto John sente que sua vida está estagnada, presa ao Exército em coisas que já não fazem sentido para ele. Da melhor maneira que conseguem, através de ligações, e-mails, mas principalmente cartas, eles tentam manter uma comunicação constante que os alivie da saudade durante a separação.
O que nenhum dos dois esperava, era que em 11 de Setembro de 2001, houvesse um atentado terrorista que alteraria completamente seus planos. Sabendo que tinha uma grande responsabilidade em mãos com seu pelotão, John se realistou no Exército, estendendo seu período de serviço militar e ainda que Savannah entendesse e apoiasse o trabalho dele, essa decisão levou a um afastamento gradual entre os dois amantes, até que uma carta mudou completamente o futuro que eles tinham planejado.
“Você é um herói e um cavalheiro, é gentil e honesto; porém, mais do que isso, é o primeiro homem que amei. E não importa o que o futuro trará, você sempre será, e sei que minha vida será melhor por causa disso” – pág. 169.
Narrado pelo ponto de vista de John, conseguimos enxergar o amadurecimento de sua personalidade ao longo dos anos em que esteve no Exército, adquirindo uma seriedade e intensidade comum somente às pessoas que viram de perto e em pouco tempo, muito além do que a maioria das pessoas vê durante uma vida inteira e isso pautou a mudança de seu relacionamento com o pai, valorizando os pequenos momentos que compartilhavam, bem como as decisões que tomou ao encontrar uma realidade complexa e sofrida na vida de Savannah após anos sem se verem.
Como em todos os livros de Nicholas, há muitos questionamentos morais em seus personagens, que buscam tomar as melhores decisões, ainda que essas causem algum sofrimento, especialmente a si mesmos e é difícil ficar indiferente a essas questões, acabamos nos perguntando o que faríamos se estivésemos em seus lugares e a resposta nem sempre é simples de encontrar.
Delicadamente e com brandura, Nicholas nos presenteia com uma história sobre o poder que o amor tem de mudar nossas vidas e nosso olhar sobre as verdades que consideramos absolutas, sabendo que nem sempre as coisas são como gostaríamos e que só podemos fazer o melhor que estiver ao nosso alcance.
“Amar significa se preocupar com a felicidade de outra pessoa mais do que com a sua” – pág. 246.
Sinopse: Após uma juventude de rebeldia e bebedeira, John Tyree decidiu dar início a um novo capítulo em sua vida e se alistou no Exército. Um ano depois, agora um novo homem, ele retorna a Wilmington, na Carolina do Norte, para passar um tempo com o velho pai.
Uma tarde, enquanto admira o pôr do sol da pequena cidade litorânea, ele conhece a garota de seus sonhos. Além de ser linda, Savannah é amigável, de sorriso fácil, um exemplo de boa conduta e altruísmo. Curiosamente, esse contraste de personalidades não impede que um sentimento arrebatador nasça entre os dois.
No entanto, John precisa voltar para a Alemanha a fim de concluir o serviço militar. Em nome do amor, Savannah decide esperar por ele, enquanto o jovem soldado promete que, após esse período, vai ficar para sempre ao lado da mulher que conquistou seu coração.
O que nenhum dos dois poderia esperar eram os eventos do 11 de Setembro. Enquanto John entra em combate no Iraque, Savannah precisa reunir forças para superar a dor da distância. Nesse cenário de saudade e incertezas, uma simples carta pode mudar a vida dos dois para sempre.
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