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agosto 30, 2015

Sigamos então. Okay.

Moço, moça, pai, mãe, melhor amigo, terapia. Na vida da gente nem sempre cabe muita gente. Ainda que a família seja grande e a lista de contatos também. Mas há momentos de poucos personagens, e é bom que assim seja. 

Porque a conversa muda com o tempo e o que fica é a estranheza. Entre os corpos, acordos e afetos. E a vida segue, tu e eu ou apenas eu, cada um num canto ou em nenhum lugar, meio invisíveis até, principalmente quando há escadas pelo caminho. E haverão sempre escadas. 

Sempre.


Gosto do John Green deste livro. Especialmente por desde o início (e não apenas do-meio-pro-final-do-livro) encontrarmos infinitos de dor e alegria. Sim, desde o início, já que a dor é um oxigênio que nos acompanha e sustenta. Assim como a alegria.

Gosto da ideia de que em uma página qualquer - ou em um dia qualquer - haverão infinitos do tamanho de um suspiro. Porque ao vivermos na expectativa do Sempre (ou o para-sempre de Isaac) deixamos de viver os dias que estão à nossa frente, à porta de casa, na mensagem de boa noite ou no calor do bom dia, ainda que o dia não esteja tão bom assim. E em cada dia-de-agora podemos sim encontrar uma grande história. Ou inspiração para escrevermos a nossa História. Afinal, a grandeza do mundo nem sempre estará nos grandes acontecimentos. E ok por isso. 

Okay? Okay. 

 Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
(...)
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro. ¹
 

Caro leitor, qual a sua Aflição Imperial? Um de meus autores da vida é T. S. Eliot. Não lembro bem quando o encontrei mas lembro de encontrar-me nos poemas desta geração que sobrevive às desilusões de um mundo quase no fim (o das primeiras guerras do século XX; o da perda de toda uma História e senso de comunidade) e ainda encontra forças e beleza nas ruínas de suas cidades, histórias e de seu próprio Tempo. E quem poderá dizer que tal narrativa difere dos tempos de hoje?

Daí a certa 'alegria melancólica' dessa literatura-jovem geração John Green, cujos personagens retratam em tom de diário suas pequenas guerras do cotidiano. E por mais que soe infantil, ingênuo, toda dor é pra ser sentida, especialmente em literatura. Com moderação, claro, senão o leitor desiste no primeiro acidente de carro ou por volta da página 157 (onde talvez aconteça o tal acidente que irá te fazer chorar por 4 dias ou simplesmente jogar fora o livro).



Este livro é uma obra de ficção. Eu o inventei. 
Nem os textos nem os leitores se beneficiam de tentativas de descobrir 
se há fatos reais por trás de uma história fictícia. 
Tais esforços são um ataque direto à crença de que 
histórias inventadas podem ser relevantes, 
o que é mais ou menos a crença fundamental da nossa espécie.  

(Jonh Green)


Se você fosse escrever um livro, sobre o quê seria? Se fôssemos escrever um livro, conseguiríamos fugir do trágico ou dos romancinhos? Porque se não optamos pela literatura fantástica (que é também lotada de perdas e casaizinhos), o que mais pode ser escrito que não denote essa "terapêutica" de compartilhar o que mais atinge o nosso coração?

Eu sinceramente ainda não sei.

Sigo apenas.

Sempre.

Sempre?

Okay.

Okay?



John Green. A culpa é das estrelas. RJ: Intrínseca, 2012.
T. S. Eliot. Poemas. Trad. Ivan Junqueira. SP: Nova Fronteira, 2002 (7ª impressão).


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¹ Trecho do poema Os homens ocos. T. S. Eliot, 1925. 

2 comentários:

  1. Estou maravilhada com seus textos, com os posts e com tudo no blog ❤❤

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