- Eu posso levar-te mais longe que um navio, disse a serpente.
Ela enrolou-se na perninha do príncipe, como um bracelete de ouro:
Aquele que eu toco, eu o devolvo à terra de onde veio, continuou a serpente. Mas tu és puro. Tu vens de uma estrela ...
O pequeno príncipe não respondeu.
- Tenho pena de ti, tão fraco, nessa Terra de granito. Posso ajudar-te um dia, se tiveres muita saudade do teu planeta. Posso ...
- Oh! Eu compreendi muito bem, disse o pequeno príncipe. Mas por que falas sempre por enigmas?
Eu os resolvo todos, disse a serpente.
E calaram-se os dois.
Antoine de Sant-Exupéry retorna ao deserto
Quando você lembra de algo ou conta uma história a respeito de acontecimentos que julgou importante, é mais ou menos como se encontrasse uma brecha de saída para a luz dentro de você. Você ajusta o foco numa tela e a projeta como filme. Então, ao menos nesse momento, a pequena imagem bordada em luz tem um valor maior do que mil joias de ouro e diamantes, mais do que um oceano inteiro de prata, pois nesta volátil obra de lembrança reflete um lustre, não um lustre de pedras preciosas, mas um feito de vidas de infinitas. E essas são as cores infinitas com que você preenche de beleza o mundo. Bem, talvez seja exagero dizer um mundo todo, mas, como diria a sábia raposa, ao menos com essa luz tinja de memória o trigo.
Acredito que Antoine de Saint-Exupéry tenha usado tal palheta de cores para ilustrar as páginas de O Pequeno Príncipe. Então, para este breve texto será necessário que você esqueça de tudo ao redor e fantasie comigo. Fantasie que O Pequeno príncipe é verdadeira lembrança de Antoine, e não se deve importar em refletir ser de fato influenciada por uma lembrança dos tempos em que sobrevoou os continentes ou se tratou só de um sonho. Para nós não importa.
Bem em nossa fantasia, o autor - que também era piloto de aviões - caiu pela primeira vez no deserto e despertou com a pequena figura a lhe pedir que desenhasse um carneiro. Por aí eu ouvi dizer que desenhar um carneiro para uma criança poderia significar um punhado de coisas. Você se surpreenderia com o volume criativo de interpretações que os adultos costumam descobrir através de um carneiro numa caixa ou quando o menino conta sobre os seus problemas com gigantescas baobás, ou ainda obscuridades sobre o cuidado com sua amada rosa. Entretanto em nossa fantasia o que importa é: Antonine desenhou um carneiro; os baobás davam trabalho e eram bastante perigosos para um planeta anão; e a rosa amava um menino que também a amava. Nada mais.
Imaginemos que Antoine então voltou para casa. Os biógrafos afirmam que em seguida teve de voltar para guerra, e que seu avião foi abatido por lá nunca mais sendo visto com vida. Dizem até ter encontrado um corpo com uma bandeira da França bordada no casaco e ter recuperado uma carcaça de aeronave que juram pertencer a dele. Mas em nossa fantasia não passam de histórias. É óbvio, ao menos para mim, que no ano de 1944 seu avião não tenha caído, e sim continuado adiante, na direção de um deserto. Era o mais lógico a fazer. Qualquer criança não entenderia o contrário. E penso que no meio do deserto Antonie tenha encontrado um caminho iluminado por uma estrela, e, sem hesitar, por ele seguiu, subindo até um asteroide. E no final sentou-se numa cadeira confortável para assistir quarenta e quatro vezes o pôr-do-sol pela primeira vez.
Jonatas T. B.
Escute a versão narrada da resenha de O Pequeno Príncipe feita em parceria com o Vooozer,
uma plataforma de áudio criada para dar voz a internet.
Aperte o play, escute o áudio e dê sua opinião nos comentários :)
O Pequeno Príncipe é um livro que sempre vou levar com muito carinho. Foi com ele e com Alice no País das Maravilhas que descobri o amor pela literatura. Adorei esse texto tào repleto de sentimento e qualidade :)
ResponderExcluirwww.blogdahida.com
De fato O Pequeno Príncipe é capaz de nos deixar em uma sintonia afinada com um lado sutil quase imperceptível. Agradeço por seu apreço e só me motiva a continuar além!
ExcluirEu adoro O Pequeno Príncipe e sempre peço aos meus alunos para lerem em espanhol, adorei o final para o autor que você deu, lindo!
ResponderExcluirBjs, Michele
O que tem na nossa estante
Coincidentemente o li para meus alunos ano passado. Experiência que levarei para toda a vida... fico felicíssimo que tenha gostado!
ExcluirBjs!
J.
Amei o post! Adoro ler seus textos!
ResponderExcluirMuito obrigado, Dayane. Eu também adoro ser lido por você! O próximo já está pertinho de sair do forno!
ExcluirInteressante o desfecho, parabéns =D.
ResponderExcluirValeu, rapaz! Vamos que vamos!
ExcluirNunca me canso de ler O Pequeno Príncipe nem de ler textos referentes a ele, não só por ser o livro mais antigo de que tenho lembrança de ler, mas também pelo renovo emocional que ele traz a cada leitura. Bom encontrar pessoas que também enxergam um carneirinho dentro de uma caixa com furos para que ele possa respirar. Parabéns mais uma vez Jonatas.
ResponderExcluirBeijo, beijo.
Blog da Gih
Olá mais uma vez, Regiane! Também foi uma experiência de tirar o fôlego, se imprimiu profundamente nas juntas de minha memória. E é maravilhoso que nos encontremos nesse pequeno universo que Antoine teceu. Obrigado pelo estímulo, sempre!
ExcluirBjs e ótimo final de semana!
J.