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novembro 27, 2016

Uma semana e(m) um dia #6

Domingo, dia de post e reflexões coletivas. Como nossa amiga Regiane comentou anteriormente de sua ida ao cinema para conhecer Elis - O Filme, nesta postagem, Bruno e Jonatas apresentam suas leituras mais recentes, e Rebeca apresenta suas comprinhas de Black Friday, e de algum modo se aproxima da conversa iniciada pelos guris. E de algum modo tudo saiu meio "reflexivo demais" também. Mas... a gente é assim. E não tem receios de ser assim não :) Conheçam as histórias de nossa semana:



Bruno

"Naturalmente, portanto, essa gente fala "dos bons tempos que hão de vir", do "paraíso futuro", da "humanidade liberta das grilhetas do vício e da virtude", e assim por diante. (...)  Também às massas que aplaudem eles falam da felicidade futura e do gênero humano por fim libertado. Mas nas suas bocas (...) estas frases felizes têm um significado medonho. Eles não têm ilusões, são demasiado intelectuais para pensar que neste mundo o homem se possa libertar completamente do pecado original e da luta pela vida. O que eles querem é a morte. Quando falam no gênero humano por fim livre, querem dizer com isso que a humanidade se suicidará. Quando falam em paraíso sem certo nem errado, querem dizer o túmulo. Têm apenas dois objetivos: primeiro, destruir a humanidade; depois, destruírem-se a si próprios." (G..K Chesterton) 

Poderia falar da ida ao Maracanã nesse fim de semana, ver o meu time voltar ao lugar que nunca deveria ter saído, entretanto, depois de postar sobre UFC e Turf, vou quebrar minha sequência esportiva e ao ar livre para falar de uma leitura muito satisfatória que comecei esse fim de semana, e provavelmente terminarei até segunda, pois trata-se de um livro muito curto.

Estou falando de The Man Who Was Thursday de G.K Chesterton, de apenas 120 páginas e que trata com humor e muita criatividade em uma leitura leve de uma história que tem como tema a Anarquia. Estamos falando de um livro que completará 100 anos em 2018, mas tão popular e atual como o tema são os "inocentes" anarquistas do dia-a-dia que nem sabem bem o que estão fazendo e convivem entre nós. Não mudou nada em 100 anos... digo, agora eles usam Iphone.

A propósito: “Viva Cuba livre!"

*

"(...) - Que quer dizer com isso? Eles não podem dominar assim o Mundo. Há certamente muitos trabalhadores que não são anarquistas, e se assim não fosse, certamente simples multidões não poderiam vencer a polícia e os exércitos modernos!

- Simples multidões! - repetiu, trocista, o seu novo amigo. - Com que então você fala de massas e de classes operárias, como se fosse disso que se tratasse. Você tem essa ideia fixa e idiota que a anarquia virá dos pobres. Porquê? Os pobres têm sido rebeldes, mas nunca foram anarquistas, têm mais interesse do que quaisquer outros na existência de Governos decentes. Quem está verdadeiramente ligado à pátria é o homem pobre; o rico não, esse pode partir no seu iate para a Nova Guiné. Os  pobres às vezes repontam por serem mal governados, os ricos têm repontado sempre contra qualquer forma de Governo. Os aristocratas foram sempre anarquistas, tem como exemplo as guerras dos barões."
(G.K Chesterton)


Jonatas

O Livro do Cemitério, Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho, Os Pássaros, A História Sem Fim, Coração das Trevas, e agora, prosseguindo uma das minhas melhores sequências de leitura até hoje, O Pavilhão Dourado, do autor japonês Yukio Mishima, publicado pela editora Companhia das Letras. Não lhes posso dar-lhes muitas informações, pois pouco li, mas acentuo que a lentidão é justa pela delicadeza com que Mishima conduz a narrativa. Não consigo ler nenhum parágrafo apenas uma vez.

O Pavilhão Dourado é a história de um filho de monge, gago, orgulhoso, que relata sua dificuldade em comunicar-se com o mundo inacessível. Sente-se feito pássaro preso no próprio interior viscoso, e traduz seus sentimentos, muitas vezes hostis, igual a um amante confesso ante ao menor gesto da pessoa amada. A ambígua relação de amor e ódio com o mundo é irresistível. O Pavilhão Dourado, local sagrado sobre o qual seu pai sempre falava, torna-se a representação da máxima beleza, espécie de mito pessoal de Mizogushi. Sendo orientado pela visão do Pavilhão Dourado, residência, símbolo e essência da beleza imutável, o jovem atravessa os conflitos naturais da alma humana.

"Tenho certeza de que nesse momento uma clara consciência despertava em mim: a consciência de que eu me encontrava em um mundo envolto em trevas, com ambos os braços abertos em expectativa; de que, com o tempo, as flores de maio, o uniforme, os colegas de classe maldosos, todos viriam ter em meus braços estendidos; de que eu sustentava o mundo, sofreando-o pelas bases. Porém, essa espécie de consciência era por demais opressiva para um adolescente como eu para constituir motivo de orgulho.

O orgulho deveria ser algo mais leve, mais luminoso, fisicamente visível, mais resplandecente. Algo visível –– eis o que eu queria. Algo que todos pudessem ver e que me fosse de fato motivo de orgulho, como, por exemplo, o espadim que ele trazia à cintura." 




Rebeca 


Seria quase impossível riscar novembro do calendário e não comentar qualquer coisa sobre a Black Friday. E sim, como estamos em nosso post de domingo, onde nos permitimos falar de um universo não apenas literário, compartilho com vocês algumas comprinhas realizadas no próprio dia 25 em um shopping do Rio, e um segundo assunto também, logo em seguida.

Eu que pouco adiciono cores ao guarda-roupa (saudações, cinza branco e preto!), dificilmente penso em colorir olhos e face em tons de veraneio. No entanto, "me encontrei" neste novo universo do cobre e do coral disponível na linha Intense do Boticário, assim como em diversos produtos Color Mania da Maybelline. Gestalt aguçada pelo vermelho, comprei algumas coisinhas então: esmalte, batom, pó e gloss. Gostei das texturas, das embalagens, e claro, do preço - neste clima promocional, o mais caro foi o pó, que custou 19.90. Valeu a pena!

*

Também na sexta-feira, uma postagem no Instagram me chamou a atenção. Sem nomear instituições, claro, porém, o exemplo descreverei: junto a imagem de um post, uma densa legenda a respeito da febre do consumo e da desordem que a mercadoria pode causar no emocional da pessoa (especialmente a mulher) brasileira. Confesso que ao ler este "alerta" no Instagram me senti em um banco de universidade lá nos anos 2000 - ou seja, a Academia de Humanas permanece a mesma pelo visto.

Só que o post era de uma empresa. E de uma "empresa que vende produtos". E que por sua atividade é formada por todo um time operacional de vendedores, caixas, tios da limpeza e demais trabalhadores cuja sobrevivência depende desta engrenagem de vendas. Apesar disso, a equipe de Marketing preferiu compartilhar um pequeno tratado sobre a febre do consumo e em 140 caracteres imputar suas bandeiras políticas. Pois bem, vamos às possíveis reflexões a partir deste exemplo:

Ponto 1: Sim, é claro que há práticas de trabalho desumanas, tanto na China, no Brás, como nas inúmeras Zaras do ocidente. Daí a possibilidade (pra não dizer obrigação) de incentivar e consumir o trabalho desenvolvido pelos empreendedores locais, e não o das "grandes corporações", se isto nos fere profunda e ideologicamente. Aliás, se não me engano, antes de inventarem a tal Sustentabilidade, este sentimento de fortalecimento da vida e economia locais chamava-se Senso de Comunidade. Talvez nossos pais ou até muitos de nós se lembrem ainda disso...

Ponto 2: Queria entender quando foi que o homem passou a ser (convencido de que é) tão vulnerável, e tão suscetível aos "apelos do mundo"... Assim: desde quando passou a ser tão impossível entendermos nossa própria realidade e desejos? (por ora, não mencionemos o desejo sexual-amoroso; acho que não cabe neste momento da conversa) Afinal, a realidade construída pelo ser humano é desigual, assim como o próprio ser humano, que sempre foi e sempre será esta balança que pende ou para a aptidão ou para a fraqueza, ou para a coragem e a covardia, ou ainda a obsessão e a apatia, sem falar do senso de justiça ou a sociopatia. Enfim, tudo isso são fatos, não sentimentos, a espécie humana é assim, por mais dolorosa que seja a constatação de tudo isso.

Ponto 3: "Ah, mas eu penso na ofensa que é este consumo desenfreado para as pessoas que não podem sequer comprar um pão...". Sim, não digo que seja fácil conviver em uma realidade social que a cada momento desafia nossas próprias forças, sustento e estima; porém, concordo com as citações do Bruno: se vivêssemos o Fazer o Bem em uma escala ao alcance de nossas mãos, ao invés de depender de uma (i)lógica Governamental, acredito que o mundo-perto-da-gente poderia ser menos medíocre. Por exemplo: por que ao pensarmos em Solidariedade sempre lembramos das "Ongs sem fronteiras" ou dos paliativos assistenciais de nossas prefeituras e demais instâncias de governo? Por que não podemos cada um de nós estender uma ajuda a uma vizinha que perdeu o marido, ou ao senhorzinho que ainda não se recuperou do incêndio de sua casa, ou ainda apoiar a causa dos que coletam roupas e mantimentos para o auxílio das famílias carentes de nosso próprio bairro? São tantos os exemplos... 

Enfim... muito poderia ser dito, mas não em um (textão de) fim de domingo. 

E... o que nos resta em meio a tudo isso? Olha, apenas torcer pra que o coração da gente consiga ser um pouquinho melhor a cada dia. Porque o dos Grandes Irmãos será sempre mesquinho mesmo...



3 comentários:

  1. Tenho um casaco da Adidas igual a um do Fidel, só to falando~

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Impecável seu comentário Rebeca, é uma onda que a gente não entende bem de onde vem que engloba grandes instituições estatais e grandes empresas, parecem ditar uma maneira de pensar, que no fundo até contribui para não acharmos tão malucos aqueles que devagam sobre teorias de conspirações e nisso perdemos uma humanidade típica de nossa sociedade ocidental, em muito devido a organização social GRECO/ROMANA e espiritual cristã : olhar para o próximo. A menina do textão social no facebook é a mesma que não dá bom dia pro porteiro por achar ele "nojento", exemplos no dia dia não faltam, mas eu serei breve, pois ao contrário desse pessoal que parece estar com a vida ganha, eu preciso trabalhar. Bjs

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