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fevereiro 12, 2017

Ruído Branco - Ana Carolina | Editora Planeta de Livros | Review por Gih Medeiros



“Ruído branco – considerado o som mais complexo que existe por misturar todas as frequências do espectro sonoro simultaneamente. Um ruído que leva à percepção de que algo flutua na música, como um fundo musical que não se define, mas que, sabe-se está ali” – definição encontrada na página 7.

A mineira de Juiz de Fora Ana Carolina de Souza, por volta dos seus 11, 12 anos, começou a dar voz, através de palavras, a sentimentos que lhe acompanhavam e lhe causavam dúvidas, transportando-os para um caderninho que permaneceu guardado durante muito tempo, como um precioso tesouro. Aos 25 anos de idade, Ana Carolina decidiu compartilhar esses mesmos sentimentos que a acompanham desde criança com outras pessoas, mas através da música, usando sua voz para encantar a todos nós ouvintes, tornando-se desde então uma das maiores referências da música brasileira. 

Agora, mais recentemente através de Ruído Branco, livro lançado pela Editora Planeta de Livros no final de 2016, Ana Carolina se reencontra com a Ana Carolina de Souza e une de maneira surpreendente e delicada, os sentimentos que a acompanham e inspiram, transbordando através de palavras que nos emocionam e arrepiam tanto quanto suas músicas. Até porque não é possível distinguir a poeta da musicista. Quando canta, Ana faz poesia e quando escreve, a voz de Ana ressoa em nossos ouvidos, transformando a leitura numa experiência musical.


Em Ruído Branco, encontramos nos poemas e textos de Ana, muito de nós mesmos (assim como ocorre em suas canções) e essa empatia, nos faz esquecer por um momento de que quem nos fala é a artista Ana Carolina, reconhecida internacionalmente por seu timbre de voz peculiar, e traz para perto a mulher Ana, que sente e sofre como qualquer pessoa:

“De mim, estou alheio,
enquanto meu desejo de ser outro
me atravessa em cheio”
– Desejo, pg.19

“Não sei onde me dei um fim
Fiquei em algum lugar distante
E nunca mais voltei a mim”
– Suíça (passaporte), pg. 27

“Como um choro ao contrário
o mar me entra pelos olhos”
– Rotatória, pg. 45

 
“Me misturei com a parede. Pele com cimento. Frieza com reboco.
Concreto com apatia. Tijolo com indiferença”
– Ausência, pg. 61

“Quando deixamos passar muito tempo depois que algo nos magoou, ficamos distanciados do acontecimento a ponto de deixar o outro usar do ‘esquecimento’ para dizer ‘também não foi tanto assim’ e diminuir ao máximo a importância do fato”- Paris - Café de Flore – Ansiedade industrial, pg. 79

“Minha dor é um terreno vazio onde sempre há a promessa de tudo caber e doer. Minha dor é um espaço onde posso furar um poço e jogar nele minhas frustrações, mesmo sabendo que na hora da sede mais terrível eu terei que voltar ao poço para beber e, com isso, engolir um a um os sonhos que não realizei” – A selva, pg. 90

Assim como acontece quando ouvimos Ana Carolina cantar, ler suas palavras nos aproxima da artista e nos conecta com a pessoa que há por trás dela. Não há escapatória aqui, sua musicalidade e honestidade nos pegam desprevenidos através de seus versos, rimados ou não, sem definição e ao mesmo tempo tão exatos, adentrando nossos corações e tornando-nos aliados e cúmplices de sua exposição, da demonstração do tesouro que ela vinha guardando desde a infância.


Editora Planeta de Livros

Ana Carolina é uma das mais populares cantoras de MPB na ativa. Em 17 anos de carreira ela já vendeu mais de 5 milhões de discos e acumulou prêmios nacionais além de duas indicações ao Grammy Latino. Seus fãs conhecem seu lado de compositora, arranjadora e pintora, mas em Ruído Branco, seu primeiro livro, eles serão apresentados a uma nova faceta que desconhecem: poeta. Neste livro de capa dura e recheado de telas e fotos exclusivas de sua intimidade, Ana Carolina apresenta mais de 50 poesias, prosas e letras inéditas escritas ao longo da sua vida.

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