navegar pelo menu
junho 12, 2017

Uma declaração de amor - A Carta #1 | Texto por Diego França

 
12 de junho de 2017
Salvador – Ba

Oi, Arthur!

Primeiramente vou dizer que não sabia como organizar as palavras, talvez a minha motivação tenha me guiado nessa escrita e eu finalmente possa ter chegado onde realmente quero com esta carta. Há dias venho pensando em falar com você, mas não sei como fazer isso. Então essa foi a melhor maneira de dizer o que desejo.

Foi numa sexta-feira, fim de tarde. A vista do sol se pondo é sempre muito bela do prédio onde moramos, se olharmos da sacada. E neste dia eu estava tão entediado de não fazer nada – estava de férias do trabalho e da faculdade – e tão reflexivo, que decidi ir até lá em cima respirar um pouco e ver o grande espetáculo no céu. Eu já havia encontrado você outras vezes, principalmente no dia em que você chegou para ocupar seu mais novo apartamento. Nos cumprimentamos e eu segui meu caminho para o trabalho – acredite eu estou sempre saindo em cima da hora ou atrasado.

E foi assim nos próximos encontros. Você chegando da rua bem cedo e eu saindo de casa para mais um dia de trabalho e estudo.

Eu nunca senti nada por você, mas sempre te achei bonito. E posso dizer que não entendo porque tanta gente precisa de pessoas de olhos verdes e peles perfeitas e cabelos arrumadinhos para atribuir uma gentileza como “você é lindo” a outra pessoa. Você é a prova viva de que um rosto sereno, com traços simples e leve, além de um corpo comum também pode ser muito interessante. E belo. Você tem um charme especial. Mas verdade seja dita, não quero dizer nada disso a você neste momento. O foco não é esse.

Acontece, Arthur, que mesmo te vendo todos os dias eu nunca, em momento algum, senti por você o que senti no dia em que olhei nos seus olhos por mais tempo, enquanto o sol deixava a paisagem mais bonita naquele fim de tarde.

Fiquei surpreso quando cheguei e te vi observando a paisagem. Meu coração acelerou – eu não entendi nada – e quando você me olhou deve ter percebido como me senti envergonhado e sem reação, quando você abriu um sorriso para mim. Eu amo sorrisos, amo como ele é capaz de iluminar espaços, mundos e moradas. Amei como o seu sorriso iluminou a minha tarde naquele dia. Eu retribuí sem jeito e me senti péssimo. Você deve ter percebido com certeza. Porque fui tão cruel quando me virei e olhei para o céu sem lhe dirigir uma palavra.

O estranho é que nunca desviei o olhar dos olhos de alguém ou simplesmente me senti tão sem norte como quando te encontrei aquele dia. E foi a partir daquele momento que eu percebi o quanto você me deixa intimidado e ao mesmo tempo é capaz de extrair o melhor de mim mesmo sem saber, mesmo sem estar.

Bom, acho que agora você já deve entender o por quê desta carta. Eu sei que vou morrer de vergonha depois disso, se te encontro descendo as escadas ou subindo; saindo ou chegando. Só sei que senti necessidade de escrever porque simplesmente vou todas as tardes ao terraço esperando pelo brilho do sol, pelo brilho das estrelas, pelo brilho do sorriso mais lindo que tenho visto nos últimos meses. Tenho procurado por você, como nunca procurei outra pessoa antes. E isso está soando tão clichê que tenho medo do risco de parecer forçado ou superficial. Mas neste momento a única coisa que posso lhe oferecer são palavras sinceras.

Entre meus amigos eu sou aquele que está mais focado no trabalho e nos estudos que qualquer outra coisa. Por isso, nunca me permiti fugir disso. Sou considerado por eles “o coração mais gelado” do grupo porque sinceramente nunca entendi a necessidade daquelas declarações de amor, daquele sentimentalismo todo que presenciei em vários momentos com os casais ao meu redor. Também não sentia falta, não me enxergava naquelas cenas, elas não me abalavam.

Mas agora eu entendo cada sentimento que meus amigos tentavam descrever para mim. Entendo como é se sentir assim, entendo como é desejar alguém e olhar para alguém que não seja para mim mesmo. Porque agora eu olho para você e uma chama se acende dentro de mim. É diferente de tudo o que já senti. E tudo sempre fora atração, desejo que ia embora quando amanhecia o dia. Mas então você apareceu.

Até você subir as escadas e esbarrar em mim no seu primeiro dia no prédio, carregando aquelas caixas; até você me dizer um bom dia, uma boa tarde e um boa noite, além de um simples olá acompanhado de um sorriso gentil; até mesmo quando você simplesmente ficava sentado com os olhos fechados escutando música na beira da piscina e eu achava você um belo de um desocupado eu tinha tudo organizado na minha vida.

Mas foi quando você olhou fundo nos meus olhos e sorriu tão convidativo, naquela sexta-feira em que meu mundo parecia sem cor, que tudo virou uma bagunça dentro de mim. O brilho do sol, o céu, cada segundo daquele silêncio barulhento que se fez naquele momento presenciou o instante em que pensar em você passou a ser uma constante na minha vida. E eu preciso que você saiba disso agora porque eu adoraria ver esse horizonte tão bonito ao seu lado, no mesmo lugar, onde toda essa bagunça começou.

Você gostaria de viver o pôr-do-sol comigo outra vez?

Com carinho,

Eduardo.


[ leia a parte #2 desta apaixonada conversa no Blog Vida e Letras ]


Um comentário:

  1. Eu adoraria conhecer um cara como Arthur. Já escrevi uma carta para uma pessoa que eu amava, mas nunca recebi uma de quem eu amasse! Amei o final: "O brilho do sol, o céu, cada segundo daquele silêncio barulhento que se fez naquele momento presenciou o instante em que pensar em você passou a ser uma constante na minha vida. E eu preciso que você saiba disso agora porque eu adoraria ver esse horizonte tão bonito ao seu lado, no mesmo lugar, onde toda essa bagunça começou.
    "Você gostaria de viver o pôr-do-sol comigo outra vez?"

    ResponderExcluir

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial