"Que estranho é ser uma mulher do campo depois de tantos anos sendo uma londrina típica! É possível que esta seja a primeira vez em minha vida que não tenha um teto em Londres... Você nunca compartilhou de minha paixão por essa grande cidade. No entanto, em algum nicho estranho de minha mente sonhadora, ela é tudo quanto representa Chaucer, Shakespeare, Dickens. Eis o meu único patriotismo." (trecho de carta de V. Woolf à sua amiga Ethel Smyth)
Em uma coleção de ensaios, Virgina Woolf tece impressões de sua cidade. Por sua atenção aos detalhes, até a menor das passagens tem a grandiosidade de uma travessia. Escritos entre 1931 e 1932, a memória afetiva da autora retrata o ritmo das manhãs e o das marés, em versos que circulam pelas docas do East Side, por catedrais e abadias, pela história de homens extraordinários e comuns, assim como pelo burburinho dos mercadantes e das mercadorias da Oxford Street.
Nos relatos de Virgínia, a beleza de Londres está em sua grandiosidade, que é também sinônimo de vida breve e passageira. Porque é preciso que haja multidão para entender-mo-nos e sozinhos, e esta condição de exílio era todo o coração de Virgínia. Seja em Londres ou em sua cidade literária, a autora alimenta a saudade das imagens que um dia a seduziram, assim como a melancolia diante daquilo que, em sua percepção, a todo momento se desfazia.
Nestas cenas de Londres e Virgínia, o que permanece é uma ambígua incompletude: enquanto literatura, a cidade é uma metáfora de confronto e vida, e desta vida que exaspera em seu próprio sono e viço; enquanto morada de quem a tudo sobrevive, a literatura é o que nos faz tomar partido, e eventualmente partir: "Por tempos imemoriais, Londres tem estado ali, uma cicatriz mais e mais profunda naquela extensão de terra, cada vez mais inquieta, encaroçada e tumultuada, marcada de modo indelével. E ali jaz em camadas, em estratos, eriçando-se, ondulando, (...) justamente ali, onde naquele exato instante o rapaz de sempre senta-se num banco de ferro abraçando a moça de sempre."
"Assim,
para conhecer Londres não apenas como um espetáculo deslumbrante, um
mercado, uma corte, uma colméia de indústria, mas como um lugar onde as
pessoas se encontram, conversam, riem, casam-se e morrem, pintam,
escrevem e atuam, mandam e legislam, era essencial conhecer mrs. Crowe.
Era em sua sala de estar que os inúmeros fragmentos da vasta metrópole
pareciam juntar-se num todo animado, compreensível, divertido e
agradável. (...) Mas nem a própria Londres podia manter mrs. Crowe viva
para sempre. (....) E Londres, embora Londres ainda exista, jamais será
de novo a mesma cidade." (trecho de Retrato de uma londrina)
Cenas londrinas compila seis crônicas nas quais Virginia Woolf confirma sua paixão por sua cidade natal. Virginia faz um retrato da década de 1930 ao observar o encanto da moderna Londres. Ao se deslocar para a perspectiva tanto de grandes homens quanto de cidadãos comuns, a autora oferece uma visão original, clara e atraente do movimento orgânico das ruas.
Inicialmente publicado com cinco narrativas – produzidas entre 1931 e 1932 –, a este volume se soma a crônica descoberta na biblioteca da Universidade de Sussex, em 2005. É como se Virginia estivesse conduzindo o leitor por um passeio, começa nas docas de Londres, depois migra para o tumultuado comércio ambulante da Oxford Street, prossegue com um curioso giro por endereços de grandes homens – em busca de escritores ilustres. Há a contemplação das catedrais de St. Paul e de Westminster, e a visita à casa de Keats, em Hampstead. Por fim, o olhar se fixa na figura típica da mulher de classe média inglesa, para Ivo Barroso, “a visão de um microcosmo representativo de toda uma nacionalidade”.
Inicialmente publicado com cinco narrativas – produzidas entre 1931 e 1932 –, a este volume se soma a crônica descoberta na biblioteca da Universidade de Sussex, em 2005. É como se Virginia estivesse conduzindo o leitor por um passeio, começa nas docas de Londres, depois migra para o tumultuado comércio ambulante da Oxford Street, prossegue com um curioso giro por endereços de grandes homens – em busca de escritores ilustres. Há a contemplação das catedrais de St. Paul e de Westminster, e a visita à casa de Keats, em Hampstead. Por fim, o olhar se fixa na figura típica da mulher de classe média inglesa, para Ivo Barroso, “a visão de um microcosmo representativo de toda uma nacionalidade”.
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