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outubro 03, 2016

Depois de Você - Jojo Moyes | Intrínseca - Ou: comentário-polêmica por Rebeca C. + Resenha fofa por Gih Medeiros


"Eu mal conseguia dizer o nome de Will. Ouvindo histórias sobre relações familiares, os casamentos de trinta anos, as casas, vidas e filhos compartilhados, eu me sentia uma fraude. Eu havia sido cuidadora de alguém durante seis meses. (...) Como eu poderia explicar que tínhamos nos entendido muito depressa, que compartilhávamos piadas simples, verdades bruscas e segredos sinceros? De que maneira eu poderia relatar que aqueles poucos meses haviam mudado a forma como eu me sentia em relação a tudo? Que ele modificara tão completamente meu mundo que nada mais fazia sentido sem ele?"

Lou Clark tem muitas perguntas. E o leitor também. Especialmente quando o amor atropela a vida e a própria vida atropela todo o sentido. Em Depois de Você, um ano ou dois são insuficientes para um novo começo, e a história de Lou é sinônimo desta saudade (e medo) que prevalece.

Por ter uma maior proximidade com as narrativas da perda através da escrita de outros autores (especialmente Matthew Quick em Quase uma Rockstar e A Sorte do Agora), confesso não ter me identificado com esta sequência de Jojo Moyes. Sim, esta opinião talvez soe um tanto polêmica, mas por também ter vivenciado uma situação recente de luto, passei a olhar a história um pouco mais pelo ponto de vista de Will, e não pela ideia de "redenção" que assombra o coração de Lou neste segundo livro.

Veja bem, não quero de modo algum desmerecer o sentimento de impotência de quem vivenciou e vivencia um grande trauma; porém, é importante aceitar que a fatalidade será sempre parte da experiência humana, e que para sobreviver será preciso conviver com cada chaga e ferida, e, principalmente, com suas cicatrizes. Daí ser um pouco difícil, enquanto leitora, me envolver com esta nova-mesma Lou, que leva suas dores para uma cidade e uma rotina de trabalho ainda mais doloridas, mesmo tendo recebido de Will o desejo e a real possibilidade de finalmente "viver uma nova vida". Lou poderia ter permanecido em sua introspecção e luto em qualquer outra realidade social, temporal e geográfica (sua irmã e pais, por exemplo, dificilmente teriam alguma oportunidade de 'recomeçar', já que seus papéis familiares estavam mais que determinados, não podendo "passar adiante", por exemplo, a responsabilidade de cuidar de um avô enferno e um filho pequeno, especialmente quando é pouca a renda familiar para a sobrevivência), mas Lou deliberadamente escolheu viver sob o teto de dor em que estava vivendo, e agregou ao seu pesar toda uma nuvem de novos dramas à sua vida.

"Nossa, que texto cruel e pessimista, hein!" É, de algum modo, caros leitores. Não é assim vida?... Eu pelo menos não consigo enxergar, admito, esta alguma ideia de redenção se não for de forma transcedental, ou seja, em/através de uma realidade além da humana. Mas não trataremos disto, no momento... Voltando a Depois de você, eis o que temos a ser considerado: de algum modo, por não "ter salvo" Will de sua "decisão-do-fim", Lou passou a acreditar neste necessário - ainda que indeterminado - período de martírio, especialmente quando uma "segunda missão" bate à sua porta em busca de um resgate e um pouco de empatia. Afinal, seria esta a oportunidade de "consertar" o destino que, ateriormente, por suas mãos não foi possível?

Jojo nos deixa esta e outras perguntas, e sempre-ainda o enredo mais difícil de toda a sequência, o da morte de Will no primeiro livro. Bom, enquanto escolha pessoal, eu Rebeca não defendo eutanásia ou quaisquer políticas de mortes assistidas; por outro lado, defenderei sempre a noção de responsabilidade individual, com todos os seus deveres e, principalmente, consequências. Dirão alguns: "ah, mas que escolha egoísta, Will não pensou na Lou, nem em sua família"... Bom, se nossa conversa tem como único princípio o sentimento de que os vivos é que sofrem com a perda de um ente querido, estaremos consideramos como menor a dor de uma pessoa que, por um mal qualquer que seja, permanece vivendo em condições nada satisfatórias... Enfim, esta não é uma realidade assim tão próxima do brasileiro, portanto, qualquer debate se firma em situações assim hipotéticas. Mas quando penso que Will escolheu o seu destino, Lou também teve a oportunidade de escolher o seu, e... É assim que a vida segue. Nem sempre com o final dos mais felizes, porém, na maioria das vezes, com aquela quase-última oportunidade de escapar ao precipício. Basta querer...

Como diria Renato Russo, toda dor vem do desejo de não sentirmos dor. Será que se pensarmos um pouco mais nisso a vida doeria menos?

...

ENFIM... :) Para espantar essa realidade cética demais rs, acompanhe agora uma leitura um pouco mais sensível, compartilhada por nossa amiga Gih Medeiros.



Depois de Você
Por: Gih Medeiros

É muito difícil falar sobre o luto, sobre a perda, de maneira que quem nunca passou por isso não se sinta desconfortável ou entediado (sim, tem gente que não liga para o que você sente depois de 4 meses, que é o tempo que o mundo costuma relevar as atitudes das pessoas que perderam alguém que amam).

Talvez por isso o livro Depois de Você tenha gerado tanta polêmica. Pois como Jojo Moyes poderia escrever uma nova história sem a presença de Will Traynor? Que graça teria? O que Lou Clark poderia fazer além de se acabar de chorar?

Bem, assim como na realidade (falo por experiência própria), a vida, bem ou mal continua para aqueles que ficaram, e achei muito corajoso por parte da Jojo ter mostrado o que aconteceu depois de tudo o que houve em Como eu era antes de você, algo que na maioria das vezes nos perguntamos ao término de um livro tão emocionante.

"Aprendemos a conviver com a perda, com as pessoas que nos deixam. Porque elas permanecem conosco, mesmo não estando vivas, mesmo não respirando mais. Não é a mesma dor avassaladora que sentimos no começo, aquela que nos invade e dá vontade de chorar nos lugares errados, que nos deixa irracionalmente irritados com todos os idiotas que ainda continuam vivos, enquanto quem amamos está morto. Mas aprendemos a nos adaptar. É como se acostumar com um buraco dentro de nós" (pg. 112)

Num estado de profunda depressão é que encontramos Lou Clark. Ela mora sozinha em Londres, trabalha num bar em um aeroporto onde pode fingir ser outra pessoa e se afastou de sua família, desde o ocorrido há 18 meses (leia Como eu era antes de Você). Não consegue voltar a ser como antes de conhecer Will e também não consegue seguir em frente, presa em uma espécie de limbo, onde é obrigada a se manter em movimento, mas sem ver nada do que ocorre ao seu redor.

Impulsionada pela raiva que sente da dor que não a deixa, ela tenta se anestesiar para que possa simplesmente viver um dia após o outro. Numa das vezes em que seus sentimentos a arrebatam e ela se entrega ao álcool como distração, sofre um grave acidente ao cair de um telhado. Esse acontecimento traz junto consigo uma série de outros que vão mudar a vida de Lou novamente. Primeiramente por proporcionar a reaproximação com a família, especialmente a mãe, que também tem passado por um momento de mudança ao tentar fazer algo por si própria que não envolva a vida doméstica. Segundo por levá-la (a contragosto) a frequentar um grupo de terapia de luto, onde ela conhecerá pessoas que passam por esse momento delicado e encontram ali um lugar seguro para falar de seu sofrimento, que é estranho e único para cada um.

Também é nesse momento, em que Lou tenta seguir sua vida sem ser perturbada o tempo todo pela presença constante de Will, que alguém ligado ao passado dele aparece para bagunçar de vez a rotina que ela tentou criar para si mesma.

Durante essa jornada pela busca do débito de uma dívida que Lou imagina ter com Will, ela vai descobrir mais sobre si mesma do que imaginou conhecer a vida inteira, finalmente descobrindo que é possível amar novamente, mesmo que seu coração ainda se dedique a alguém que não se faz mais presente e que somos pessoas em constante evolução, buscando alcançar nosso máximo potencial, enquanto estimulamos os outros a fazer o mesmo, ainda que isso signifique afastamentos e reencontros. Assim como na vida real.

"Percebi o que realmente havia feito. Eu me dei conta de que poderia ser o eixo da vida de uma pessoa, algo que a prendesse ali. Vi que apenas minha presença bastaria." (pg. 294)

A maneira delicada como Jojo escreve, me encantou e eu mal posso esperar para ler todos os seus livros <3


6 comentários:

  1. Acho que o fato de vivenciarmos nossas perdas em períodos diferentes, fizeram dessa discussão algo extraordinário. Provavelmente há 3 anos atrás, quando meu pai se foi tão precocemente e de forma tão rápida (para mim sempre será cedo), eu não teria essa empatia toda com a Lou que tenho agora. Mas, apesar de trabalhar diariamente com tantos Wills, eu nunca tive a experiência de ver de forma íntima como é a vida de alguém que passa o que ele passou, mas entendo a escolha dele, como deixei claro na resenha anterior. Mas a pergunta que não cala em minha mente é: Lou fez as escolhas dela ou foi levada a escolhê-las? Minha experiência pessoal não foi a de ter escolhas e ainda assim me vejo tendo que escolher todos os dias levantar da cama e ir trabalhar em algo que apesar de muito "bonito" (quem tá de fora sempre vê a grama mais verde), não preenche o espaço que ficou aqui (trabalho no fim das contas, serve para pagar contas rs - trocadilho infame). Entendo totalmente seu ponto de vista amiga, só acho que daqui há alguns anos, talvez você olhe para Lou com um olhar mais generoso, assim como eu nesse momento-tempo de vida.
    Um beijo imenso e repleto de gratidão por confiar em mim para tal discussão.
    <3

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    1. Amiga, justamente por "não ter tido a escolha" de fugir à perda (não apenas a do meu pai, mas a de tantas outras, desde sempre) é que passei a acreditar ainda mais na necessidade de se ter coragem, e coragem para lidar com o "lado feio" do cotidiano. Ser um pouco "cético" e "pessmista" nem sempre é o que as pessoas próximas esperam da gente, mas acho que para sobrevivermos a este mundo em constante queda (e ao nosso próprio coração), é preciso olhar para as possibilidades de cada momento, e tentar encontrar uma melhor sobrevida em tudo isso, tanto para nós como para os que de mãos dadas caminham com a gente...

      É claro que meu cotidiano fora da área de saúde (sou designer, então, a ideia de "empatia" no meu trabalho não é assim tão poética rs) de algum modo me impossibilita de ser um pouco mais "esperançosa" em meu comentário sobre o luto e a Lou; no entanto, "pensar um pouco como Will" (ou seja, a de não querer que o próximo sofra com o nosso sofrimento - lembrando: não concordo com a escolha-do-fim de Will, mas...) é também parte da realidade, e acredito que também uma das formas de conseguirmos ser um pouquinho mais fortes quando as rasteiras da vida aparecerem pelo caminho...

      É difícil mesmo... But... Vida que segue.

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  2. Concordo de certa forma com as duas resenha, mas acredito que a primeira resenha representa melhor as minhas impressões sobre esse livro .
    Fiquei decepcionada com o rumo que a Lou tomou na vida depois do fim de "Como eu era antes de você", principalmente depois da carta no fim do livro.Ficou parecendo que ela se esqueceu completamente do que ele lhe falava , ou seja , achei que ela estava falhando com o Will , não procurando fazer o curso de moda que ela havia conseguido entrar com o incentivo dele e não consigo achar que ela tenha alguma dívida com o Will.Ela fez de tudo para que ele mudasse de idéia .Ninguém pode mudar a cabeça de alguém.
    Não concordo com a eutanásia, que com certeza é um tema polêmico , mas se pararmos para pensar nas limitações que o Will tinha e a saúde frágil é facilmente compreensível a escolha dele.
    Porém gostei muito dos personagens desse livro e do Sam.
    A escrita da Jojo como sempre foi maravilhosa , fazendo ficar difícil de abandonar a leitura w torcer pela Lily , pelo Sam e também pela Lou alcançarem o seu final feliz.

    Beijos

    Meu mundinho quase perfeito

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    1. Oi, Babi! Poisé, terminei o livro também pensando em Sam, e de alguma forma em Nathan... Ainda que pareçam irreais (isto é, caras bonitões, como os das histórias da Colleen Hover, e de personalidades heróicas, como os de Nicholas Sparks rs), acho importante acreditar que "pessoas comuns" podem ser assim boas e, de forma totalmente imprevista (e nem sempre interessada), atravessar o nosso caminho e "fazer diferença".
      Enfim, eu até que curto essa literatura meio "motivacional-otimista"; não dá pra ficar lendo só tragédia na vida não rs.
      Bjs

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  3. Migas vocês são lacradoras mesmo hein haha
    Primeiro: O BLOG TÁ LINDO!<3
    Segundo: Rebs, me apaixonei pela sua resenha, e vou me casar com ela.
    Terceiro: Gih, sua resenha me fez querer ler o livro embora eu tenha certeza de que não vou gostar hahah

    Tô evitando essa leitura até onde posso, mas tenho certeza que qualquer hora vou acabar lendo só pra tirar essa pulguinha da mente.
    Mas amei a percepção de vocês<3
    Um beijo,
    Paloma
    surewehaveablog.com.br

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  4. Oi, Pah! Jojo é que nem John Green: você sabe que em algum momento ficará muito revoltada com a história, massss... impossível não ler! :D O próximo livro da série é o meu preferido, "A última carta de amor", glicose pura!, mas sem muita tragédia, principalmente :D Mas enfim, continuemos neste controverso mundinho da sra Moyes! Tem muito assunto (e treta rs) pra comentarmos ainda :) <3
    Bjs,
    Reb

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