"A filosofia deveria nos ajudar a enfrentar o mundo, a vida e a morte. (...) Mas aqui não é o caso; aqui o caso é aprender a usar a filosofia para que, quem sabe, você levante de manhã menos perdido do que faz quase todo dia. Ou, quem sabe, menos mentiroso sobre si mesmo e sobre o que sente e vê. Ou, quem sabe, entenda melhor o tempo em que vivemos. (...) Conhecer demanda trabalho, conversar com outras pessoas e ler alguns livros. (...) Uma opinião vazia, qualquer bêbado tem.
(...) Mas (...) existem outros motivos para vivermos uma vida que não sentimos que seja a nossa. Um desses motivos para não conseguirmos viver a nossa própria vida pode ser mais prosaico e banal: não termos grana e sermos obrigados a ser motoboy, e pronto. Ou trabalhar em telemarketing. Está na moda gente bonitinha falar que os mais jovens estão mudando seus valores para com o trabalho. Bobagem: (...) existe gente que pode escolher o que faz porque tem grana.
(...) Falar em sua própria língua é, antes de tudo, ter coragem de enfrentar os problemas que a filosofia nos traz, sem medo de sermos obrigados a pensar em coisas de que não gostamos. É desistir de agradar quando se pensa." (pg. 26 / 30-31 / 38)
(...) Mas (...) existem outros motivos para vivermos uma vida que não sentimos que seja a nossa. Um desses motivos para não conseguirmos viver a nossa própria vida pode ser mais prosaico e banal: não termos grana e sermos obrigados a ser motoboy, e pronto. Ou trabalhar em telemarketing. Está na moda gente bonitinha falar que os mais jovens estão mudando seus valores para com o trabalho. Bobagem: (...) existe gente que pode escolher o que faz porque tem grana.
(...) Falar em sua própria língua é, antes de tudo, ter coragem de enfrentar os problemas que a filosofia nos traz, sem medo de sermos obrigados a pensar em coisas de que não gostamos. É desistir de agradar quando se pensa." (pg. 26 / 30-31 / 38)
Um dos debates mais comentados dos últimos dias foi o encontro entre Luiz Felipe Pondé e Leandro Karnal no programa Roda Vida da TV Cultura. Curiosamente, o que despertou um maior interesse das redes não foi necessariamente o debate, mas a
"Tem a figura do filósofo hoje, que é associada com alguém que (...) estuda, faz faculdade, mestrado, doutorado (...), alguém que tem um diploma de filosofia e, ao mesmo tempo, tem a figura do filósofo (...) que é alguém que tem um dom e um interesse por organizar um conhecimento, e olhar o mundo, como a gente fala em Filosofia, "fora do senso comum"; (...) significa olhar o mundo de um modo não tão comum, e não tão banal (...). Eu tenho muitos colegas que estudaram Filosofia comigo e se transformaram em profissionais de Kant, profissionais de Descartes, profissionais Platão, e passam a vida lendo esses autores,interpretando, e analisando, e portanto não estão fazendo filosofia no sentido de uma ferramenta que de alguma forma dialoga com o mundo, e tenta entender o mundo, e às vezes complicar o mundo. Então, neste sentido, (...) acho que você pode ter alguém que está nas mídias sociais e, por temperamento... Porque é muito difícil fazer Filosofia se você não angariar algum repertório... (...) Independente do diploma ou não, você tem que ter alguma disciplina pra angariar um repertório pra produzir algum tipo de olhar pelo mundo que não seja um olhar banal, de senso comum, como se fala em Filosofia. (...) Você pode conseguir esse tipo de olhar fora da faculdade se você tiver alguma disciplina e um certo temperamento. Então, não acho que os influenciadores de mídia serão os futuros filósofos, mas acho que você pode ter influenciadores de mídia que, em um dado momento, se diferenciam em termos de repertório, se interessam por um olhar mais sofisticado pelo mundo, e mais complexo, e de repente podem fazer a função de Filósofos sim, por que não?"
Com este perfil-de-autor em mente, recomendo a leitura de Filosofia para Corajosos, onde Luiz Felipe Pondé convida-nos a pensar com a própria cabeça, porém, sem esquecer que "existe uma gigantesca beleza no ato de pensar, (...) e que essa beleza não é uma simples criação minha ou sua. Ela é acessada quando dialogamos com toda uma tradição de pensamento. (...) Uma das coisas mais importantes em filosofia é a gratidão para com todos os que pensaram antes de você, ainda que você discorde deles."
Ed. Planeta de Livros
Sinopse: O objetivo deste livro é ajudar o leitor a pensar com a sua própria cabeça. Para tal, o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé, autor de vários best-sellers, se apoia na história da filosofia para apresentar argumentos para quem quer discutir todo e qualquer tipo de assunto com embasamento. Afinal, os grandes filósofos estudaram, pensaram e escreveram sobre os temas essenciais com os quais ainda lidamos no mundo contemporâneo. O livro está dividido em três partes: “Uma filosofia em primeira pessoa”, onde o autor conta como ele entende a filosofia; “Grandes tópicos da filosofia ao longo dos tempos”, que traz um repertório básico dos temas que todo mundo precisa conhecer mais a fundo; e “Por que acho o mundo contemporâneo ridículo”, uma análise ferina da sociedade atual.
É preciso coragem para desviar do senso comum. Embora rasa, a coletividade esmaga o indivíduo, e desafia nossa prudência e autonomia. O desejo pode tornar-se também insustentável, e destruir alicerces, bengalas e ânimos postiços. Na parte II do livro (um resumo da primeira está no excerto inicial do texto), Pondé convida o leitor a conhecer (e considerar) algumas das grandes questões que assombram os homens comuns, assim como a história da própria filosofia: 1) O que estamos fazendo aqui no mundo?, 2) Existe vida após a morte?, 3) Se Deus não existir, tudo é permitido?, 4) Existe evolução moral da humanidade?, 5) Dinheiro compra amor verdadeiro?, 6) A democracia é uma boa mesmo ou é um regime que junta quantidades enormes de idiotas e as joga sobre você?, 7) Mulher gosta de homem fraco e pobre?, 8) Vale a pena ser honesto?, 9) O que é melhor: um filho ou um cachorro? e 10) Ter conhecimento faz de você uma pessoa melhor?.
Realmente, é preciso coragem pra falar de si mesmo. E continuar acreditando naquilo que nos tornamos a cada dia. Pondé é bem direto nessa hora: "Gostamos de pensar em nós mesmos como caras legais e temos dificuldade de nos avaliarmos moralmente, como indivíduos e como espécie.(...) Mas não escrevo este livro para acomodar o pânico da classe média. Escrevo para quem deseja falar sua própria língua em filosofia, e o primeiro passo é não ter medo do que pensamos em silêncio, apesar de termos medo de dizer em voz alta." (pg. 48 e 59)
Com qual pensamento de mundo você se conecta? Quais ideias você não abandona, e quais escolheu para serem debatidas? Será que conseguimos distinguir aquilo que aceitamos daquilo que por obrigação ou medo toleramos? Ainda na parte II do livro, Pondé aborda os grandes embates entre religião e espiritualidade; metafísica e ceticismo; moral, ética, valores e hedonismo; economia, política e democracia. E acrescenta: "No final, a vida é, em muito, como passar o tempo sem se desesperar." (p. 143)
O livro encerra com uma reflexão sobre o mundo contemporâneo e seus ativismos, e claro, sobre os enganos de tudo isso. O último capítulo, "O silêncio do mundo" resume bem este espírito: "Não quero falar só do tema já desgastado da sustentabilidade. É o desejo humano que é insustentável".
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existe uma gigantesca beleza no ato de pensar, (...) e que essa beleza não é uma simples criação minha ou sua. Ela é acessada quando dialogamos com toda uma tradição de pensamento. (...) Uma das coisas mais importantes em filosofia é a gratidão para com todos os que pensaram antes de você, ainda que você discorde deles."
ResponderExcluirEssa parte é impecável!