
Imagine que você um dia acorda, se levanta, veste uma roupa qualquer em modo automático e, de repente, não faz ideia de como faz para amarrar seus sapatos. Olha para suas roupas e não tem a mínima noção de como elas são feitas, que material é utilizado em sua fabricação, nem como conseguir mais delas. Sente fome, mas não tem o mais remoto conhecimento de como pode preparar uma refeição. Imagine que você passa o dia fazendo alguma atividade simples, como copiar em uma folha o que está escrito em um jornal, tentando fazer as conexões necessárias para entender os fatos narrados, até que finalmente uma cena se forma em sua mente, baseado no que acabou de copiar, e você, exultante, revive essa imagem na sua cabeça, repetidas vezes, acrescentando detalhes aqui e ali aos poucos, montando todo um cenário em sua imaginação... que se desfaz quando você dorme. Ao acordar, no dia seguinte, aquele lampejo de pensamento espontâneo se foi, tudo o que você supostamente aprendeu no dia anterior pela primeira vez se foi da sua mente, e você fica com a sensação de que algo está faltando dentro de si, mas não sabe dar nome a essa sensação, nem sabe se de fato ela é real... Assustador não?
Essa é a realidade do povo de Dartana, um planeta castigado por “uma maldição” que impede seus habitantes de absorver qualquer aprendizado que os faça evoluir em sua jornada difícil e miserável, cheia de restrições e desencanto. Para tentar acabar com essa maldição, de tempos em tempos surge um deus guerreiro que deve marchar até o Combatheon, um mundo que serve como plataforma de batalha para que os deuses que chegam de outros planetas, cujos habitantes também sofrem da mesma maldição, entrem em guerra. Mais do que a glória ou mostrar-se superior, tais deuses precisam da vitória para libertar seus planetas dessa “maldição do pensamento”.
“O deus viria para que o povo, sem saber, fizesse a única coisa que poderia fazer para encerrar a maldição do pensamento. O povo de Dartana marcharia atrás de seu deus de guerra para lutar, para combater junto ao portento divino, para fazer com que seu deus de guerra fosse o campeão contra outros tantos deuses” – pg. 10.
O exército que acompanha cada deus nessa empreitada é formado por soldados, homens que na maioria das vezes nunca pegaram em nenhum tipo de arma de combate, construtores, escolhidos entre aqueles que possuem algum tipo de habilidade natural para “montar” coisas ou “transformar” matéria prima bruta em algo útil, e as feiticeiras guerreiras, mulheres com poderes místicos que deveriam servir de interlocutoras entre o deus e os construtores e soldados durante a batalha, além de usarem seus poderes para curar os feridos.
“No chão mágico do Combatheon, os construtores estariam livres da maldição do pensamento e naquele novo lugar, ao mesmo tempo místico e sombrio, sua mente estaria livre para aprender, para entender o que as feiticeiras falavam e conseguiriam juntar os ingredientes e as peças, como se um toque do deus entrasse em sua cabeça e as fizesse entender e imitar e imitar as armas enxergadas em outras estrelas. Durante esse tempo, seria crucial que os soldados protegessem as feiticeiras, já que eram as únicas que falavam com os deuses e também as que tinham poder para curar os soldados feridos nos campos de batalha. Por isso, caso perdesse suas feiticeiras, o exército estaria condenado, pois nenhum construtor entenderia as ordens de seu deus. Se ficasse sem construtores, igualmente estaria perdido, pois nenhum soldado construiria tão rápido quanto um construtor; e se ficasse sem soldados, todo o exército desmoronaria quando fosse necessário defender o deus de guerra no momento em que ele congelasse os movimentos para se conectar com os jarros através do imenso manto de estrelas. As feiticeiras ensinavam que todos deveriam lutar por todos para manterem o deus de guerra em marcha. Um por todos e todos por um” – pg. 32.
Claro que a escolha de quem vai e de quem fica não é fácil. Sempre tem aqueles que desejam desafiar o perigo, sair de uma vida de privações e mesmice, ou aqueles que sentem em seu íntimo uma fé tão grande na vitória de seu deus que acabam se destacando dos demais e chamando a atenção das feiticeiras, que fazem a escolha dos candidatos mais prósperos entre a população. Mas há também quem não acredite em nada disso, e que na verdade crê em algo muito mais sinistro e perigoso, sussurrado por vozes estranhas em um raro lampejo de ideias: “Os deuses não deviam partir. Se eram donos de tanto conhecimento, por que não ficavam em Dartana e ensinavam sua magia e seus conhecimentos para os mortais? Os deuses, já que eram divinos, deveriam compartilhar, ter compaixão agora, antes de sumirem na luz do Portão de Batalha” – pg. 125.
Mas, uma vez ultrapassado o Portão de
Batalha, não há mais volta, e os simplórios dartanas acabam sendo
vítimas do tempo pois, ao chegarem ao Combatheon, a guerra já está
instalada, e eles estão completamente despreparados para o que vão
enfrentar, amargando derrotas, tentando lidar com a profusão de
conhecimento que de repente acomete seus intelectos, e com a
possibilidade de ficarem presos ali para sempre após seu exército ser
dizimado junto com o deus que lhes prometeu a vitória.
Os
poucos sobreviventes, perdidos em si mesmos e com parcas orientações
deixadas pelo deus, precisam atravessar essa terra repleta de perigos e
morte se quiserem encontrar uma maneira de voltar para casa, a agora
distante Dartana. Mander, um general obcecado por vingança é quem vai
lidera-los, junto a Jeliath, um jovem construtor ansioso por
conhecimento; Parten e Thaidena, um jovem casal apaixonado de soldados,
que temem mais do que tudo perderem um ao outro; Tazziat, uma feiticeira
guerreira que não tem mais objetivos em lutar sem seu deus a guia-la, e
Dabynne, uma feiticeira novata, que foi escolhida a preferida do deus
de guerra, e que carrega sem saber, dentro de si, um segredo que pode
ser a grande salvação de seu povo: “Sua condição única criou um elo
entre a vida e a morte. Seu coração transbordará de amor e fará toda a
história do seu povo mudar” – palavras do deus de Dartana, dirigidas à
Dabynne – pg. 209.
Mas,
para saber o desfecho dessa história eletrizante, só lendo esse que é o
primeiro volume de uma trilogia que vai nos levar não apenas a nos
distrair com uma fantasia digna dos maiores bardos da literatura
fantástica, mas também a nos questionar sobre o poder do conhecimento e
do aprendizado... Uma questão tão fundamental e tão pouco percebida pela
maioria das pessoas atualmente.
Mesclando conceitos de universos
múltiplos (ou multidimensionais) com a primitividade em que vivem as
sociedades que não conseguem evoluir por não absorverem o aprendizado,
nem conseguirem desenvolver os potenciais de suas inteligências, André
Vianco mais uma vez surpreende, nesse que provavelmente é o texto mais
complexo e mais detalhado de sua carreira, além de ter um enredo muito
bem elaborado e cinematográfico, publicado pelo selo Fábrica 231 da
Editora Rocco.
Cada
detalhe desses mundos, da forma como as pessoas vivem, seus
sentimentos, as batalhas físicas e mentais nas quais se envolvem, são
perfeitamente visualizadas pelo leitor, que é levado para dentro dessa
existência triste de um povo que mal consegue sobreviver sem o auxílio
de seres místicos, como as feiticeiras, e que de repente é lançado no
meio de um drama familiar, na cidade de Osasco (essa nunca fica de fora
né André?), onde algumas pessoas mais sensíveis à existência desses
outros mundos, servem de canal para os deuses buscarem conhecimento
sobre armas e estratégias de guerra (afinal nós aqui da Terra, não
sofremos da “maldição do pensamento”), mas que enquanto cedem às vozes
dos deuses em suas cabeças, acabam espalhando medo e confusão pelo
caminho, nesse thriller intenso e arrebatador, escrito por um autor que a
cada obra, consegue ser totalmente original dentro do seu modo de
escrita.
Tive
o prazer e a honra de conhecer o André pessoalmente, em 2011, durante o
lançamento de O Caso Laura, seu primeiro título pela Rocco. Já havia
lido alguns livros dele por indicação do meu namorado na época e, depois
disso, não parei mais de acompanhar as novidades que esse mago das
palavras nos traz. O que posso dizer sobre a sua escrita é que ela é de
uma versatilidade ímpar: cada livro seu parece ter sido escrito por uma
pessoa diferente, mas ao mesmo tempo, quando se conhece o modo do André
de contar histórias, você consegue reconhecer a sua marca, que é tão
sutilmente estabelecida e bem desenvolvida que só os desatentos deixam
passar. Mas, de uma coisa eu tenho convicção, é impossível ser desatento
durante a leitura de qualquer uma das obras do André!!!
André Vianco
No insólito mundo de Dartana, os habitantes são incapazes de guardar conhecimento. Qualquer aprendizado é sumariamente esquecido quando dormem. A única esperança para acabar com este sofrimento é o nascimento de um deus guerreiro, capaz de vencer outros deuses e liberar o conhecimento para seus seguidores. Primeiro livro da nova trilogia de André Vianco, Dartana surpreende por apostar numa fantasia com ares de ficção científica, que bebe na fonte de clássicos do gênero como Star Wars. E André Vianco faz isso com enorme talento, mostrando por que é um dos grandes representantes do gênero fantasia no país.
O nascimento do deus Belenus é o sinal que todos aguardavam, a esperança de que o sofrimento pode estar chegando ao fim. E os jovens Jeliath e Dabbynne marcham junto das feiticeiras e dos soldados para o Combatheon, uma outra dimensão e uma arena onde um combate épico define a sorte de vários mundos.
A chegada em Combatheon não é como o imaginado, e agora Jeliath e seus amigos têm que lutar para sobreviver antes de pensar em salvar o seu mundo. Estranhas descobertas e inesperados reencontros fazem parte da nova realidade do grupo. Enquanto buscam novas armas através de uma estranha conexão com a Terra e a família de Gláucia e Doralice, os jovens ficam sabendo um pouco mais sobre o Combatheon, os misteriosos e poderosos deuses guerreiros e outros planetas e povos.
Em Dartana, André Vianco leva aos seus leitores uma história épica, sobre uma jornada onde a esperança não termina. Um livro recheado de ação intensa e grandes surpresas que mostra um universo incrível onde o inesperado é corriqueiro. Dartana é mais um sucesso com a marca de Vianco, agora pelo selo de entretenimento Fábrica231.
O nascimento do deus Belenus é o sinal que todos aguardavam, a esperança de que o sofrimento pode estar chegando ao fim. E os jovens Jeliath e Dabbynne marcham junto das feiticeiras e dos soldados para o Combatheon, uma outra dimensão e uma arena onde um combate épico define a sorte de vários mundos.
A chegada em Combatheon não é como o imaginado, e agora Jeliath e seus amigos têm que lutar para sobreviver antes de pensar em salvar o seu mundo. Estranhas descobertas e inesperados reencontros fazem parte da nova realidade do grupo. Enquanto buscam novas armas através de uma estranha conexão com a Terra e a família de Gláucia e Doralice, os jovens ficam sabendo um pouco mais sobre o Combatheon, os misteriosos e poderosos deuses guerreiros e outros planetas e povos.
Em Dartana, André Vianco leva aos seus leitores uma história épica, sobre uma jornada onde a esperança não termina. Um livro recheado de ação intensa e grandes surpresas que mostra um universo incrível onde o inesperado é corriqueiro. Dartana é mais um sucesso com a marca de Vianco, agora pelo selo de entretenimento Fábrica231.
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