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agosto 26, 2015

Viole(n)t


Aos quinze ou dezessete arqueamos os ombros por não suportar o peso de nossos tão-poucos dias. Porque os anos pesam, como se nos ombros o peso de uma multidão, não importando se multidão os três ou quatro de nossa casa ou os quatrocentos dos corredores da escola, ou ainda os de toda a população de um estado como Indiana. O peso da tal multidão parece inesgotável porque maioria das vezes simplesmente é. 

Sob os olhares desse algum-lamúrio que é também a escola, o encontro de Finch e Violet acontece em um dos poucos lugares onde podemos sobreviver a quaisquer situações-limite:  


"A perfect day. Start to finish. When nothing terrible or sad or ordinary happens. 
 Do you think it's possible?" ¹


No caso, o lugar da proximidade, da força inesperada de um encontro.  


https://www.youtube.com/watch?v=NCzRRL5Kh2o



Estar próximo, aproximar-se. Para onde você se volta quando pensa em fugir à gravidade do mundo, das coisas, das pessoas? Literaturas como All the bright places nos fazem lembrar que dói apegar-se ao que nos feriu, mas pode doer ainda mais quando nos apegamos ao que foi ferido por nós mesmos.

E o mundo de Violet foi ferido por este mesmo mundo que por vezes incompreensível, à beira do inaceitável, principalmente nestes nove-meses-após-o-incidente (p. 18) onde seu sorriso ficou esquecido nos álbuns de fotos, dando voz a umas duas ou três frases de resistência ("I will never know what that means because as soon as I hear the word 'survivor', I get up and walk out",  p.22).²

Já o mundo de Finch era de uma dor menos brusca, talvez porque sua dor não tenha nunca partido, assim como partidos eram os cacos dos que em atropelo se esgueiravam pela vida de Finch, causando-lhe mais dor e mais partilha.

Alguma saída pra isso?


Como em toda narrativa-que-dói, a dor desfaz-se de forma abrupta, ainda que temporariamente, no intervalo de alguns dias bons de nossa adolescência, ou simplesmente enquanto as regras do bom-encontro permanecerem vivas, e sendo vividas.

All the bright places é um daqueles livros que podem ser lidos sem este peso narrativo do é-apenas-um-livro-de-adolescentes-que-desistem-da-vida (bem, até certo ponto do livro. Depois fica complicado concordar com isso). Ainda assim, apesar dos grandes pesares da história, acredito que o livro possa inspirar seus leitores a uma eterna possibilidade-de-saída, independente de qual seja a gravidade-real de nossos dias.*

"So not today", I sing. "Because she smiled at me".³

E continuamos.




Jennifer Niven - All the bright places. Great Britain: Penguin Books, 2015.
Por lugares incríveis - Editora Seguinte, 2015.


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¹ "Um dia perfeito. Do início ao fim. Onde nada terrível ou triste aconteça. Voce acha que é possível?" (p.11).

² "Nunca saberei o que tudo isso significa porque logo que ouço a palavra 'sobrevivente' tenho vontade de ir embora."

* Nota mental: nunca fazer a resenha de um livro antes de terminá-lo, porque spoiler: o livro não termina fofinho.

³ "Então, não será hoje", eu canto. "Porque ela sorriu pra mim."

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