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maio 18, 2016

O Livro do Desassossego - Fernando Pessoa

"Que me pesa que ninguém leia o que escrevo? Escrevo-o para me distrair de viver, e publico-o porque o jogo tem essa regra. Se amanhã se perdessem todos os meus escritos, teria pena, mas, creio bem, não com pena violenta e louca como seria de supor, pois que em tudo ia toda a minha vida." (Fragmento do Trecho 118)


Criamos um costume de, aqui no Blog, compartilhar todo tipo de Literatura. Dentro de nossas preferências, é claro, mas há um gosto pelo diálogo com obras tanto consideradas clássicas como também contemporâneas, produzidas nesta alguma informalidade de nossos dias.

Há pouco mais de um mês encontrei na Saraiva uma edição das Obras Completas de Álvaro de Campos, publicada pela editora portuguesa Tinta da China. Já na Travessa, recentemente, encontrei outro exemplar de Pessoa, publicado pela mesma editora. Por ser um autor que merece uma maior atenção e estudo, neste momento compartilhamos algumas citações d'O Livro do Desassossego, e também algumas sinopses de edições encontradas nos principais sites e livrarias. Para uma resenha aprofundada sobre esta publicação, sugerimos a leitura do texto compartilhado pelo Blog Letras In.verso e Re.verso :)


Tudo quanto o homem expõe ou exprime é uma nota à margem de um texto apagado de todo. Mais ou menos, pelo sentido da nota, tiramos o sentido que havia de ser o do texto; mas fica sempre uma dúvida, e os sentidos possíveis são muitos." (Fragmento do Trecho 148)


Tinta da China

"Toda a literatura consiste num esforço para tornar a vida real. Como todos sabem, ainda quando agem sem saber, a vida é absolutamente irreal na sua realidade direta; os campos, as cidades, as ideias, são coisas absolutamente fictícias […]. São intransmissíveis todas as impressões salvo se as tornarmos literárias.", Fernando Pessoa

O «Livro do Desassossego» é um dos maiores feitos literários do século XX. Obra-prima póstuma, retrato da cidade de Lisboa e do seu retratista, compõe‑se de centenas de fragmentos, oscilando entre diário íntimo, prosa poética e narrativa, num conjunto fundamental para compreender o lugar de Fernando Pessoa na criação da consciência do mundo moderno.

Jerónimo Pizarro, reconhecido estudioso pessoano, regressa às fontes dos textos que Fernando Pessoa pretendia incorporar no «Livro do Desassossego» e redefine o cânone da sua autoria. Com uma nova organização e aperfeiçoando a decifração de quase todos os fragmentos, este livro reúne os atributos para se tornar a edição de referência.


"Dar a cada emoção uma personalidade, a cada estado de alma uma alma." (Fragmento do Trecho 26)
 


Composto de centenas de fragmentos, dos quais Fernando Pessoa publicou apenas doze, o narrador principal deste livro é o semi-heterônimo Bernardo Soares. Oscilando entre temas como as variações de seu estado psíquico, a paixão, a moral e o conhecimento, o livro não apresenta uma narrativa linear; antes é composto de diversos trechos e partes que se articulam de maneira mais ou menos aberta. Ainda assim, é a obra de Pessoa que mais se aproxima do romance.

Nesta nova edição, o pesquisador Richard Zenith estabelece nova ordem, acrescenta trechos recentemente descobertos, descarta outros que só após a digitalização do acervo do autor puderam ser corretamente compreendidos - a caligrafia difícil dava margem a inúmeros equívocos - e se posiciona em relação às novidades adotadas na recém-lançada edição crítica da obra, publicada em 2010 em Portugal e tida como base segura para as interpretações do texto.

"As coisas sonhadas só têm o lado de cá... Não se lhes pode ver o outro lado... Não se pode andar à  roda delas... O mal das coisas da vida é que as podemos ir olhando por todos os lados. As coisas de sonho só têm o lado que vemos... Têm amores só puros, como as nossas almas." (Fragmento do Trecho 346)



http://www.globaleditora.com.br/literatura/catalogo-geral/?colecao=225&LivroID=10058Global Editora

É o livro da vida de Fernando Pessoa, finalmente editado como o autor queria, respeitando todos os semi-heterônimos que fazem parte dele, devidamente assinados - Vicente Guedes, Barão de Teive e Bernardo Soares. Vale explicar que a expressão semi-heterônimo é do próprio Pessoa, que considerava como heterônimos apenas três: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Ainda assim, são vozes muito próprias, que partem de biografias inventadas como personagens de teatro. Não estarem misturados ou até preteridos como em publicações passadas é a grande novidade dessa edição, preparada por uma das mais respeitadas especialistas na obra de Fernando Pessoa, Teresa Rita Lopes. Por isso a sugestão do plural do nome: Livro(s) do Desassossego. Assim como o autor foi vários, o livro também é.

A primeira parte é O livro de Vicente Guedes. Os textos nessa época ainda são muito influenciados pela corrente literária simbolista. A segunda parte, O livro do Barão de Teive, já assume um tom mais seco, de um personagem que definiu por si o fim da própria vida. A terceira parte, O livro de Bernardo Soares, é notoriamente parte do que conhecemos como Modernismo. Todos têm introduções que iluminam suas leituras, escritas por Teresa Rita Lopes, em linguagem descomplicada, ainda que contendo profundo conhecimento de causa.

Fernando Pessoa morreu cedo, em 1935, aos 47 anos. Astrólogo, ele teria previsto a data de sua morte. E organizou o que pôde, em maços de textos e indicações, o Livro do Desassossego. Começou a escrevê-lo jovem, mas documentos demonstram que desde cedo já se tratava de um projeto. A organizadora desta novíssima edição de um clássico da Literatura mundial, Teresa Rita Lopes, implode um argumento comum sobre a obra, de que ela pode ser editada de forma aleatória: Se Pessoa tivesse publicado o Livro do Desassossego tinha-o estruturado como o fez, o foi prevendo ao longo da vida. Como exemplo, ela ainda lembra que Mensagem, único livro de Pessoa publicado em vida, teve sua organização intensamente trabalhada pelo autor.

"São horas talvez de eu fazer o único esforço de eu olhar para a minha vida. Vejo-me no meio de um deserto imenso. Digo do que ontem literariamente fui, procuro explicar a mim próprio como cheguei aqui." (Fragmento do Trecho 17)

2 comentários:

  1. Gente,
    Amei esse post ! Sou louca com algumas frases soltas do autor mas confesso que não li nenhum livro por completo. Seu texto nos mostra coisas lindas e em poucas linhas conseguiu me convencer a procurar a saber como ler Fernando Pessoa e seus outros "eus".
    Obrigada !
    Parabéns !

    Beijos, Renatinha.
    Entre Aspas

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  2. "Não conheço prazer como o dos livros, e pouco leio.Os livros são apresentações aos sonhos, e não precisa de apresentações quem, com a finalidade da vida, entre em conversa com eles. (...)" DELEITE NA ALMA, ASSISTIR O FERNANDO SEMPRE PRESENTE AQUI.

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