Em uma livraria, guias de viagem podem ocupar uma tarde inteira. Páginas e páginas de praias, arranha-céus, catedrais, ruínas... Se pudesse viajar pra qualquer lugar do mundo, qual você escolheria?
Dizem que toda viagem tem início com essa vontade de céu, mar ou estrada... e que nem sempre é necessário passaporte e tênis para partir. Afinal, idealizar o futuro ou aqueles quinze dias de férias já é o início de uma grande jornada, e quem sabe de um grande destino!
Concordam? :)
Concordam? :)
Em A Casa dos Seis Tostões, publicado pela Ateliê Editorial, o autor Paul Collins realiza ambos os sonhos: cruzar continentes para escrever um livro, e conhecer novos mundos enquanto percorre inúmeras livrarias.
Parece ficção, mas a viagem de Paul Collins acontece em um vilarejo real, localizado no País de Gales, chamado Hay-on-Wye, ou, carinhosamente, A Cidade dos Livros, onde a população de páginas é infinitamente superior a de casas, jovens, gatos ou mesmo anos de fundação da cidade.
"É difícil saber quantas vezes fomos expostos a uma palavra, a um rosto, a uma ideia, antes de nos termos apropriado deles (...): 'A história de uma ideia é, necessariamente, a história de muitas ideias. As ideias, como os rios caudalosos, nunca têm uma única nascente. (...) E, justamente por causa disso, muitas vezes é difícil achar a nascente de um rio ou os primórdios de uma ideia.'
Pode-se dizer o mesmo deste livro. Eu o escrevi; meu nome está na página de rosto. Mas ele não proveio totalmente de mim: proveio de muitos autores, e de muitos livros, sem um ponto de partida claro. Eu não conseguiria nem mesmo dizer como este livro começou de verdade." (p. 20)
Sinopse: Paul Collins e sua família abandonaram as colinas de San Francisco para se mudarem para o interior do País de Gales – para se mudarem, na verdade, para a vila de Hay-on-Wye, a “Cidade dos Livros”, que ostenta mil e quinhentos habitantes e quarenta livrarias. Convidando os leitores a entrarem em um santuário para os amantes dos livros, A Casa dos Seis Tostões é uma meditação sincera e muitas vezes hilária sobre o que os livros significam para nós.
Paul Collins, A Casa dos Seis Tostões - Perdido numa cidade de livros. SP: Ateliê Editorial, 2016.
Pode-se dizer o mesmo deste livro. Eu o escrevi; meu nome está na página de rosto. Mas ele não proveio totalmente de mim: proveio de muitos autores, e de muitos livros, sem um ponto de partida claro. Eu não conseguiria nem mesmo dizer como este livro começou de verdade." (p. 20)
Sinopse: Paul Collins e sua família abandonaram as colinas de San Francisco para se mudarem para o interior do País de Gales – para se mudarem, na verdade, para a vila de Hay-on-Wye, a “Cidade dos Livros”, que ostenta mil e quinhentos habitantes e quarenta livrarias. Convidando os leitores a entrarem em um santuário para os amantes dos livros, A Casa dos Seis Tostões é uma meditação sincera e muitas vezes hilária sobre o que os livros significam para nós.
Paul Collins, A Casa dos Seis Tostões - Perdido numa cidade de livros. SP: Ateliê Editorial, 2016.
Se toda viagem tem início com um sonho, o que dizer de um sonhador que encontrou nos livros a razão de seu destino? Por seu entusiasmo e pesquisa, o autor Paul Collins poderia ser considerado um "idealizador literário"; porém, para o velho vilarejo de Hay-on-Wye, este "sobrenome livresco" é destinado ao quase centenário Richard Booth (uma espécie de "prefeito" da cidade) que, não satisfeito em transbordar prateleiras com sua obsessão coleção, decidiu construir um castelo e povoá-lo unicamente com livros.
Parece surreal, mas o sonho de Booth literalmente tomou conta de toda a vizinhança, transformando-se no próprio espírito da cidade, que, com o passar dos anos, tornou-se um "santuário" de publicações inimagináveis (como por exemplo um livro dedicado aos modos e costumes da Inglaterra Vitoriana, assim como um inusitado 'dicionário' com todos os livros de capa vermelha já publicados no mundo - !?), atraindo leitores e livreiros de todas as partes, seja para uma visita ou para conduzir um novo empreendimento na cidade.
Paul Collins narra esta viagem com uma riqueza de detalhes, além de muita graça e curiosidade; mesmo sem conhecer os personagens e autores e livros mencionados, o leitor se sentirá em Hay-on-Wye, e certamente disposto a conhecer mais desta inusitada vizinhança compartilhada por Collins.
Taí uma leitura leve, envolvente e divertida, e literalmente Literária :)
Paul Collins narra esta viagem com uma riqueza de detalhes, além de muita graça e curiosidade; mesmo sem conhecer os personagens e autores e livros mencionados, o leitor se sentirá em Hay-on-Wye, e certamente disposto a conhecer mais desta inusitada vizinhança compartilhada por Collins.
Taí uma leitura leve, envolvente e divertida, e literalmente Literária :)
"... a coisa mais interessante na Booth's é que ela está lotada de coisas que não serão vendidas nem em mil anos. Deve-se manter equilibrada a proporção entre o totalmente obscuro e o instantaneamente familiar: se se tiver muito mais de um ou do outro, chegarão sem falta a falência ou a insipidez. Precisa-se de alguns livros esquisitos 'sem valor' porque (...) a impossibilidade de reconhecer alguns títulos em seu estoque dá a toda a seleção uma aparência de profundidade. E nao há como saber o que as pessoas podem querer realmente. Cada um tem ideias pessoais de valor; uma história que corre entre os livreiros fala de um comerciante de livros que, tendo perguntado a um proprietário rural por quanto ele venderia a antiga biblioteca da família este lhe respondeu: O preço de duas cadelas." (p. 139)
"Existe, no final da Castle Street, uma livraira empoleirada na esquina. (...) A livraria se chama Bookend, e é um nome muito apropriado, pois trabalha basicamente com saldos: é de fato um fim para esses livros. Uma vez fizeram uma liquidação na qual se pagava um preço fixo por uma cesta cheia de livros, pagando por peso exatamente como se faz quando se vai comprar um saco de batatas ou um carregamento de bauxita.
(...) Evitei entrar nessa livraria durante todo o tempo em que estive aqui. Eu costumava comprar saldos de livros com frequência, feliz da vida por encontrar uma pechincha, mas agora é muito deprimente pensar nisso. Para qualquer autor, há algo profundamente melancólico na mesa de saldos de uma livraria. (...) Os caminhos que levam à mesa de saldos são tantos que estão além da nossa compreensão. (...) Às vezes, as pessoas simplesmente não compram esses coitados de jeito nenhum. (...) O que é bem estranho, considerando que isso custa ao editor admitir que (...) eles também não sabem como vender o livro dele." (p. 244-245)
"- Essa tal de internet, não sei pra que serve.
- Não serve pra nada. Ninguém ganha dinheiro com ela.
- Os clientes não podem ver o livro. E num livro usado o estado de conservação é tudo.
- É isso mesmo. Eles não podem pegá-lo e dar uma boa olhada, senti-lo. - O homem balançou a cabeça com autoridade. - Então, para que serve?
Fico tentado a interromper, para corrigi-los, mas então decido: não, vamos deixar assim. Compro livros usados na internet o tempo todo; para um pesquisador que depende de livros velhos, é uma ferramenta notável. E as pessoas ganham dinheiro com isso, sim. Mas quando se procura um livro na internet, normalmente já se sabe o que se está procurando. Procurar um livro específico em Hay é um trabalho sem esperança; só se consegue encontrar os livros que procuram a gente, aqueles que nem se sabia que se deviam procurar." (p. 51)
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