navegar pelo menu
julho 03, 2018

A vida em espiral - Abasse Ndione | Rádio Londres | Por: Camila Coelho

Olá, Leitores! Tudo bem com vocês? A dica literária de hoje vem da Camila Coelho, uma de nossas novas colunistas. A Camila tem 21 anos, é formada em História e compartilha leituras no blog Livre Narrativa e também em sua página no Instagram. Para esta primeira postagem, o livro escolhido foi o A vida em espiral, de Abasse Ndione , publicado pela Rádio Londres. Confira a resenha:




Sinopse: A vida em espiral é a história de um motorista de táxi e de sua fulgurante carreira como traficante de maconha Amuyaakar Ndooy e seus quatro amigos são inseparáveis, e passam a maior parte de seu tempo fumando yamba (maconha), bebendo e filosofando sobre a vida. Depois de uma gigantesca operação policial antidroga, a yamba vira produto escasso e Amuyaakar resolve se tornar sipikat (traficante de maconha), uma escolha que o levará para um caminho cheio de perigos e obstáculos de todos os tipos e que acabará mudando para sempre o destino dos cinco amigos. A vida em espiral é um verdadeiro on the road africano, que descreve sem falsos moralismos, a corrupção, a pobreza, as injustiças e a falta de horizonte dos jovens senegaleses. No entanto, é uma história regada de ironia e dominada por um surpreendente otimismo. Esses elementos são entrelaçados através de um mecanismo narrativo perfeito e de uma linguagem extraordinariamente expressiva. Quando foi publicado no Senegal, onde o tema da droga é considerado um assunto tabu, A vida em espiral causou um escândalo, no entanto se tornou um sucesso imediato de público, ganhando o prestigioso Prêmio Literário Internacional da Fundação Léopold Sédar Senghor.“No Senegal, ‘A vida em espiral’ é um livro lendário: em Dakar, se alguém leu um só livro na vida, é quase sempre esse. Cativante como um noir, é uma história de traficantes e consumidores de maconha, totalmente desprovida de moral salvo aquela imposta pela realidade cotidiana: só o crime paga.”


Resenha: A vida em espiral - Abasse Ndione

O livro conta a história de Amuyaakar Ndoy, um rapaz de 25 anos que é taxista, nascido e morador de Sambey Karang, aldeia localizada em Rio que, junto com seus 4 amigos Bukari, Badara, Yaba Xanca e Laay Gooté, são consumidores de yamba (maconha). Mas com uma guerra às drogas que foi instaurada por lá, o início do livro nos traz a busca deles por maconha, afinal o único cara que eles ainda conheciam que vendia, foi preso (essa cena se dá logo no primeiro capítulo). Após essa prisão e esses meses em que eles ficaram sem a droga, Amuyaakar decide se tornar sipikat (traficante). E é a partir dessa decisão que o resto da história vai se desenrolar.

Acho que a principal questão que chama atenção no livro não é nem o enredo em si, mas as discussões que Ndione traz em relação às drogas, mas também, pra gente que não conhece muito da cultura e da religião deles - o islamismo -, é muito interessante também estar um pouco mais próximo das tradições que eles cultuam, que nós não sabemos quais são.


Guerra às drogas

No início do livro, como uma espécie de prefácio, o autor nos contextualiza, para que entendamos o porquê de tudo que vai acontecer no livro. Então, nessas primeiras páginas, ele nos conta que acontecimento específico deu início a essa era em que a maconha é criminalizada, e tudo que contribuiu, posteriormente, para que a substância fosse ainda mais demonizada durante os anos.

E sobre essa criminalização, é muito bom ler um livro sobre pessoas consumindo maconha e procurando formas de consumi-la independentemente dela ser criminalizada ou não, porque isso nos mostra que não interessa se determinada droga (seja ela qual for) é legal ou não, as pessoas vão continuar consumindo, porém, ao criminalizar, não se tem assistência alguma a essas pessoas que estão se viciando em determinada droga e nem a certeza de que estão consumindo um produto de boa qualidade (querendo ou não, continua sendo um produto, como sei lá, nossa amada Coca-Cola).

Aí você me diz “mas ah, tá fazendo apologia à maconha, é isso?” Não. Não estou. O álcool já foi criminalizado, e já passou pelo mesmo processo que hoje as outras drogas passam. Na década de 20 e 30, nos Estados Unidos, Al Capone, o gangster famoso que todo mundo conhece, vendia whisky. Vendia bebidas que hoje, a gente consome livremente, dentro da lei. Então é bem legal que um livro trate de um assunto tão importante de se falar, principalmente atualmente.


Cultura e Religião

O outro ponto que eu gostei muito no livro foi a respeito da religião e da cultura daquele povo. Eles são majoritariamente muçulmanos, então, durante a narrativa toda, vamos tendo informações sobre a religião deles em pequenas doses. O capítulo que eu achei mais interessante sobre o assunto é o capítulo 23.

Nesse capítulo, os mais velhos da comunidade convocam uma espécie de reunião para discutir a respeito dos jovens dali, que estão se entregando ao consumo de álcool e outras drogas. E é interessante ver como os jovens não tem lugar de fala ali. Ndione traz essa discussão, de quem tem voz no meio disso tudo, e até que ponto esses mais velhos querem realmente ouvir os mais jovens, ou se querem só impor seus dogmas e tradições a eles.

Um dos amigos de Amuyaakar, Bukari, em um momento dessa reunião, pede a palavra e, no meio de sua fala, diz o seguinte:

“– Deus não proibiu apenas o álcool, a droga e a prostituição. Toda má conduta é um pecado. Se vocês não se embebedam, cometem entretanto faltas igualmente condenáveis. A sua devoção não passa de suas cinco orações, se tanto! Os senhores não conseguiram nem realizar a eleição do Grande Imã por falta de franqueza, verdade e honestidade. Pois há critérios para a escolha de um Imã. Não quiseram observá-los e escolher entre os dois protagonistas. Hoje, toda a aldeia está dividida por sua culpa e a Grande Mesquita está fechada. Beber é considerado pelo Corão um pecado, mas não está dito em nenhuma surata que é um pecado que leva irremediavelmente ao inferno. Em compensação, em várias suratas, Deus repreende os torpes que, por seus atos escusos, dividem dois ou mais muçulmanos, dizendo-lhes que a entrada do paraíso jamais será para eles.” p. 144


A vida em espiral

A última coisa que eu acho interessante dizer sobre o livro é o sentido do título. Acredito que o nome “A vida em espiral” remeta ao número de acontecimentos “circulares” que acontecem. E por que coloquei entre aspas? Porque são acontecimentos circulares, porém eles nunca voltam ao início e parecem que nunca tem fim, assim como uma espiral.




________________________________________


Gostaram da resenha? Já leram o livro? Me conta aí embaixo nos comentários. E, se gostou, curte o post também aqui embaixo, compartilha e segue o blog.

Um abraço, e até logo!
Camila

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial