
Depois de ler o poema hoje pensei que talvez eu queira ser escritora. Mesmo achando que nunca vá escrever um poema tão bom quanto o seu, talvez eu possa fazer algo com meus sentimentos, mesmo os de tristeza, medo ou raiva. Talvez ao contar as histórias, por pior que sejam, não deixemos de pertencer a elas. Elas se tornam nossas. E talvez amadurecer signifique que você não precisa ser uma personagem seguindo um roteiro. É saber que você pode ser a autora.
(Carta a Elizabeth Bishop)
Terminei Cartas de Amor aos Mortos pensando se deveria escrever uma carta a autora ou a algum de seus personagens. Talvez não escreva, mas guardo do livro a ideia de que é preciso "conversar" com quem nos inspira, e neste diálogo descobrir o quê em nós que se identifica com os objetos de nossa admiração.
A história de Ava Dellaira é narrada por Laurel, uma estudante que compartilha seus dias em cartas destinadas a artistas como Kurt Cobain, Amy Winehouse e River Phoenix; artistas que em algum momento de suas carreiras não resistiram a pressão que o mundo lhes oferecia, e desapareceram, deixando um rastro de vida e obras incompletas. Laurel sabe que estes personagens não podem ouvi-la, mas será nesta cumplicidade da escrita que a menina aliviará o peso de seus dias, e seguirá vivendo.
E neste crescente de títulos do gênero sick-lit (a saber, uma literatura feita a partir da exposição de personagens muito jovens a traumas e dores quase irreversíveis), inquieta-me ainda seu principal enredo: O quão doente estamos? Ou melhor: O que em nós que (por tanta inadequação) dói demais e precisa de inúmeras páginas pra ser amenizado?
Não pretendo responder sobre as dores de nós-leitores e tampouco as deste gênero literário mas, dentre as obras que conheci (As Vantagens de Ser Invisível; Por Lugares Incríveis; Quase uma Rockstar), Cartas de Amor aos Mortos destaca-se por sua simplicidade, e por encontrar alguma beleza na maior das melancolias (que, no caso da personagem Laurel, resume-se a perda de sua irmã e a separação de seus pais - sendo estes também dois dos grandes "temas" da tal sick-lit).
Das cartas do livro, as destinadas a Kurt e Amy são das mais intensas pois, ainda que a partida destes tenha sido injusta para os que ficam, especialmente seus filhos, Lauren percebe que a dor é o que permite que pessoas que o mundo julga comuns criem obras infinitas, que perdurarão por muitas gerações: Amy, fazendo o que você fazia, você estava em todas as capas de tabloide. E do jeito que o mundo é hoje, com todo mundo acompanhando a vida de todo mundo e tentando ver tudo, isso muda a história. Isso transforma sua vida na versão que outra pessoa faz de você. E não é justo. Porque sua vida não pertencia a nós. O que você nos deu foi sua música. E sou grata por isso.
E você, caro leitor, também já se identificou com algum livro escrito neste formato diário-carta? Conta pra gente :)
Algumas referências:
Nirvana - In Utero
Amy Winehouse - Rehab
Jim Morrison - Light my Fire
River Phoenix - Filme Stand my me
Cartas de amor aos mortos
Ava Dellaira
SP: Ed. Seguinte, 2014
Prestes a começar o ensino médio, Laurel decide mudar de escola para não ter que encarar as pessoas comentando sobre a morte de sua irmã mais velha, May. A rotina no novo colégio não está fácil, e, para completar, a professora de inglês passa uma tarefa nada usual: escrever uma carta para alguém que já morreu. Laurel começa a escrever em seu caderno várias mensagens para Kurt Cobain, Janis Joplin, Amy Winehouse, Elizabeth Bishop… sem nunca entregá-las à professora.
Nessas cartas, ela analisa a história de cada uma dessas personalidades e tenta desvendar os mistérios que envolvem suas mortes. Ao mesmo tempo, conta sua própria vida, como as amizades no novo colégio e seu primeiro amor: um garoto misterioso chamado Sky.
Mas Laurel não pode escapar de seu passado. Só quando ela escrever a verdade sobre o que se passou com ela e com a irmã é que poderá aceitar o que aconteceu e perdoar May e a si mesma. E só quando enxergar a irmã como realmente era - encantadora e incrível, mas imperfeita como qualquer um - é que poderá seguir em frente e descobrir seu próprio caminho.
“Uma história brilhante sobre a coragem necessária para continuar vivendo depois que nosso mundo desmorona. Uma celebração comovente do amor, da amizade e da família.” - Laurie Halse Anderson, autora de Fale!
Vejo tantas criticas perfeitas sobre este livro que não sei quantas vezes implorei para alguém me dar ele kkkk Esse livro na minha perspectiva (de não ter lido ele) tem um atrativo em especial que é o formato dele de "diário-carta" que traz consigo uma forma mais leve de relatar algo. Vou ver se consigo ler este livro até o fim do ano rsrs.
ResponderExcluirUm abraço!
Túlio.