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abril 23, 2016

O inverno que não acabou e outros contos, de Adriano de Andrade


Noturna é a paisagem, que em memória ou despedida acena: para enxergar o passo, é preciso claridade; para embalar o texto, há que se atravessar a neblina. Ainda assim, em julho ou à tarde, o que nos resta é a melancolia.

É no inverno que o autor traduz a raridade: em versos que escapam de seu interior, os primeiros passos rabiscam as paredes da casa e nos dizem que o assombro é um grito fechado, contrário e ensimesmado; de costas para o leitor, porém bem próxima, a infância é uma voz que à memória pertence, e que por vezes transborda no choro da própria noite, dos objetos, da companhia vazia de nós mesmos.

Nestes Outros contos, Adriano de Andrade retrata o que pela mão dos homens se desfaz: o lar, o encontro, qualquer nota de verdade; as velhas estrofes, o afago, tudo o que hoje são páginas, à beira do pó e esfareladas, a um dia de serem por nós esquecidas.

Enquanto o inverno não acaba, o autor e a tarde embalam suas cinzas: junto à lareira, pés de histórias, e um não-dito que saboreamos, ao gris de um mero conto, um fardo ou um pensamento.

* * *

Em parceria com o autor Adriano de Andrade, recebemos para resenha O inverno que não acabou e outros contos, uma publicação do Selo Novos Talentos da Editora Novo Século. Nossa colunista Regiane Medeiros já terminou a leitura e hoje compartilha suas impressões aqui no Blog. Como ainda estou iniciando a leitura (e a ansiedade de postar essa novidade acaba sendo maior que o ritmo de meu passar de páginas rs), compartilho sobre a obra apenas alguns parágrafos nesta introdução.

Você também pode conferir um dos contos no Issuu da Novo Século. Acompanhe também a fanpage do livro "O inverno que não acabou e outros contos" no Facebook

Sinopse: Um homem lutando contra as suas – amargas – lembranças; um psicopata oculto perturbando sua vítima em um cenário obscuro; dois mundos distintos que seguem caminhos paralelos e quase se cruzam; um erotismo imaginário preenchido com sofrimento alheio; o sonho perdido de uma criança e o vício na vida de um gênio. Elementos que compõem as narrativas curtas deste livro; uma seleção de contos para colocar suas sensações à flor da pele. Em um universo que percorre diferentes cenários relacionados às aflições que cercam o indivíduo, O inverno que não acabou e outros contos revela a eterna alternância dos sentimentos que resumem a esperança e a descrença na atitude humana.


“Conto é uma narrativa curta e que se diferencia dos romances não apenas pelo tamanho, mas também pela sua estrutura: há poucas personagens, nunca analisadas profundamente; há acontecimentos breves, sem grandes complicações de enredo; e há apenas um clímax, no qual a tensão da história atinge seu auge.” (Definição por Profa. Aline Duarte, Colégio Ari de Sá Cavalcante, Fortaleza – CE)

Em seu livro O Inverno que não acabou e outros contos, publicado pela editora Novo Século/Talentos da Literatura Brasileira, o mineiro Adriano de Andrade faz um excelente uso das características esperadas em um conto.

A cada página lida, é possível perceber a fluidez das palavras, que nos transportam para dentro do texto, nos fazendo ouvir “O ranger agudo da cadeira contra o assoalho da varanda não cessava, mesmo sem ter alguém sentado para fazê-la balançar” (pg 11), e experimentar sensações conflitantes como “não saber o que fazer, com o coração cheio, dilatado, preenchido por um sentimento que agora não tem mais destino, sem ter ninguém que possa receber todo aquele amor” (pg 25), diante da rejeição da pessoa amada.

Leva-nos a uma descarga de adrenalina diante do cenário de um suposto cativeiro, submetendo-nos ao terror psicológico que aflige o personagem narrador “Descalço, sentia o frio que vinha do piso molhado subir por entre meus dedos e arrepiar os pelos das minhas pernas. Tudo isso com uma respiração difícil e ofegante, por conta de uma corda presa ao meu corpo” (pg 58), bem como ao estado de excitação de um artista, promovido pela embriaguez, após tanto tempo lutando para se manter sóbrio, “Minha cabeça fervilhava à medida que a inspiração me sacudia. Comecei a pintar como havia muito não fazia. Um pouco tonto, é verdade, mas cheio de ideias” (pg 65).

Mas também nos leva por uma reflexão através de uma conversa até então inimaginável, sobre o processo de amadurecimento, que na maioria das vezes acompanha o avançar da idade: “As marcas que você carrega revelam o quanto você foi útil na vida de muita gente” (pg 68).

Magistralmente, Adriano faz com que através de histórias sombrias, alegres, tristes e reflexivas, enveredemos por sentimentos de pânico, horror, dores de amores perdidos, felicidade encontrada e compartilhada, saudades e melancolia, redescoberta e ausência, libertação e liberdade. 

Não contente, ainda faz graça com a própria maneira de ser do mineiro, sujeito com um modo bem peculiar de levar a vida, e que sabe exatamente como contar uma boa história, seja ela longa ou curta, verdadeira ou fictícia.

Acima de tudo, Adriano consegue fazer com que a cada leitura haja empatia, reconhecimento, assimilações. E isso somente uns poucos autores da atualidade conseguem, não é pra qualquer um.

“O que eu realmente queria era deixar meu passado em algum lugar, distante e guardado, para que ninguém mexesse nele, como se isso fosse possível.” (pg 15)

Resenha por Regiane Medeiros


Sobre o Autor: Nascido em Juiz de Fora–MG, Adriano de Andrade é graduado em Engenharia Elétrica, área em que desenvolveu seu mestrado e na qual trabalha atualmente. Morador de Niterói– RJ, seu mais recente reconhecimento no mundo literário foi a premiação do conto “Ruína”, incluído em uma coletânea a ser lançada ainda este ano. Em 2013, teve o texto “Conversa de asfalto” publicado no livro É duro ser cabra na Etiópia, de Maitê Proença. Participou também da coletânea Contos de todos nós (2009), com “Sete Palmos”, e de outras duas coletâneas de poesia, lançadas pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores.

3 comentários:

  1. Uma das resenhas mais incríveis que "O inverno que não acabou" recebeu desde o lançamento.

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    Respostas
    1. Muito obrigada, Adriano! Conhecer a sua obra foi também uma grande experiência para nós!

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    2. Adriano, foi uma leitura muito prazerosa, nós é que agradecemos. Sucesso!!!

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