“Sei que já tentei de tudo
Sei que já não quero mais lembrar
Só não sei como dizer pra mim
Toda vez eu me pergunto
Quem será que pode completar
Esses versos mudos que escrevi”
Ela olha sua própria imagem no espelho e encara os olhos manchados de rímel e lápis preto. Sabe que é bela e mesmo com a face chorosa ainda é bonita, mas não consegue espantar a sensação de que se tornou invisível.
No peito, algo dolorido ameaça sufocá-la e irrompe em soluços, liberando em lágrimas mal contidas a sensação amarga da rejeição a que se submeteu. No fundo culpa a si mesma, por ter se deixado levar por um sopro de fantasia, por ter almejado um pouco além do que tem.
Reconhece a sensação, porque já passou por isso antes. Acontece repetidamente, toda vez que abre uma brecha em si mesma e deixa algo/alguém lhe seduzir, lhe fazer sonhar, lhe fazer querer. Mas aí, logo em seguida descobre que adentrou em uma estrada de mão única. Que sonhou e quis sozinha.
Ela sabe o que vem a seguir. Vai mergulhar profundamente em si mesma e dar um tempo de todos, buscando reconstruir aquele pedaço dentro dela que ruiu. Depois de muito tempo é que alguns poucos vão notar sua ausência e perguntar o que há e ela vai desconversar, porque já não quer mais falar sobre isso. O momento em que ela precisava expor seus sentimentos passou.
Ela é do tipo que pede socorro em silêncio e só quem de fato presta atenção em seus olhos consegue ver o turbilhão que há dentro dela, porque seu olhar não esconde nada, ela não sabe fingir. Também não sabe como dizer às pessoas para não fazerem promessas que não podem cumprir. Está farta de dizerem a ela “pode contar comigo, sempre!”, sem saber o que isso realmente significa. Sim, porque “sempre” é muita coisa, mas ela lembra a si mesma o que John Green a ensinou pela voz de Hazel Grace, que “as pessoas não tem noção das promessas que fazem, no momento em que as fazem” (A Culpa é das Estrelas, Intrínseca, 2012) e tenta sinceramente desculpar os outros que não merecem o fardo de suas expectativas.
Tenta consolar a si mesma, dizendo que ao menos dessa vez o estrago não foi tão grande, que já passou por coisas muito maiores e mais difíceis, mesmo sabendo que é inútil. Cada dor é uma dor diferente. Vai ser sentida, a gente querendo ou não. Mas, também sabe que ao final de tudo, vai ficar mais forte, com uma cicatriz a mais no peito e uma dose a mais de cinismo com a vida.
Vai ouvir reclamações dos amigos pelo seu ceticismo com a vida amorosa e o ser humano em geral, e vai rir deles por isso. E vai seguir em frente, até passar por tudo isso de novo ou finalmente aprender a não ser a primeira a sonhar, a querer. Esperar encontrar reciprocidade é algo que ela já não suporta mais e prefere um dia ser surpreendida do que continuar à sua procura.
“Aos poucos vou reconstruindo
Aos poucos tudo volta pro lugar
Escutando a alma dizer que sim
Nesse mundo desatino
Espero a nova rima me encontrar
Nesses versos mudos que escrevi”
Que profundo... A gente sente... Um rasguinho na alma, lendo...
ResponderExcluirE o coração da amiga fica apertadinho de alegria, quando recebe um feedback desses <3
ExcluirLindo lindo sua crônica. Realmente, as pessoas não trem noção das promessas que fazem no momento em que as fazem. Eu tenho três pessoas que sei que posso contar sempre mesmo e elas podem contar comigo também.
ResponderExcluirVidas em Preto e Branco
É maravilhoso quando a gente encontra um porto totalmente seguro assim, nos dá a certeza de que não importa o rumo, sempre temos onde nos ancorar. Obrigada pela leitura e por suas palavras, és sempre bem vinda!!!
Excluir<3
Amei o texto! E, infelizmente, é uma realidade. As pessoas esquecem umas das outras, e esquecem suas tantas promessas... Reciprocidade não é algo a ser cobrado, mas algo a ser vivido. ❤️ Parabéns!
ResponderExcluirE que a gente encontre muita reciprocidade por aí!!! Obrigada por suas palavras, seja sempre bem vinda!!!
ExcluirBjos
<3
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