Conhecer a história de vida de alguém através de uma biografia, é sempre uma experiência enriquecedora que muitas vezes nos leva a um outro tempo e lugar. Mas, raramente isso é possível com a pessoa que inspirou tal biografia ainda viva. Ter esse privilégio é como conhecer de perto uma lenda viva e fazer parte da sua história. Foi assim que me senti ao ler Maurício – A história que não está no gibi, primeira publicação do selo Primeira Pessoa do grupo editorial Sextante.
Difícil não se emocionar ou se envolver com a história de alguém que contribuiu para que eu me tornasse uma leitora tão voraz, alguém que está tão em pauta nos dias atuais quanto estava durante a minha infância e antes que eu chegasse ao colo da minha mãe. Alguém, que eu nem conheço pessoalmente (ainda!), mas com quem tenho uma afinidade sem explicação!!! Meus caros, é impossível segurar essa emoção e o envolvimento quando a pessoa é tão palpável, tão próxima de seu público, quanto Maurício de Sousa consegue ser.
Maurício nasceu em Santa Isabel, cidade situada na região do Alto Tietê em São Paulo, que até hoje tem ares de cidade do interior apesar da proximidade com a metrópole paulista. Mas, logo teve de dividir a infância entre Mogi das Cruzes, uma das maiores cidades da região do Alto Tietê e a capital paulista em idas e vindas dos pais, numa tentativa de melhorar de vida – como ainda é feito nos dias de hoje! Ainda na infância descobriu os quadrinhos, que foram a porta de entrada não apenas para sua alfabetização, como também para o desenrolar de sua habilidade como desenhista. Habilidade que lhe custou a formação no ensino médio, já que em um momento de “descuido”, foi pego por um professor que lhe reprovou em sua matéria durante alguns anos, até Maurício desistir de continuar seus estudos, algo que não era incomum na época.
Trabalhando desde criança em diversas ocupações, passou por muitas “profissões” até conseguir chegar ao posto que queria ocupar, recebendo “nãos” de pessoas “entendidas” profissionalmente do ofício de desenhista. Mas, Maurício se recusava a desistir, apenas continuou aprimorando sua técnica e conhecimento até a oportunidade perfeita surgir.
“A história, o mundo está cheia de ‘nãos’ que podiam fazer sentido para quem os disse, mas que depois se revelaram estupendas bolas fora. A gravadora Decca recusou os Beatles por julgar que eles nunca teriam futuro na música e muito menos aceitação do público. Criadora do bruxo Harry Potter, J. K. Rowling levou mais de 10 nãos antes de encontrar a editora que publicaria seu primeiro livro. Walt Disney foi demitido de um jornal sob a alegação de ter pouca imaginação e nenhuma ideia original. Mesmo batendo no muro, nenhum deles desistiu” – pág. 12.
Dono de uma personalidade forte, Maurício nunca desanimou diante das negativas que recebeu, apenas aceitou pegar atalhos ou caminhos inesperados que o levariam a conquistar uma oportunidade, contando para isso com a ajuda e apoio não só da família, como de pessoas que enxergavam nele o potencial futuro e ao longo do tempo, de pessoas que apostavam em seu talento e carisma pessoal, afinal seus quadrinhos falam uma língua universal, compreendida em qualquer lugar do mundo. E nesse relato, ele nos mostra de forma humilde e generosa, como alcançou corações de crianças do mundo inteiro, em locais impensáveis para ele quando deu início ao trabalho como jornalista (na época não era necessário cursar Faculdade para ser jornalista, bastava escrever bem e ser esperto para captar o que podia ser de interesse do público leitor, algo em que o Maurício já era pós-graduado com tão pouca idade), trabalho esse que lhe abriu as portas para a prática do desenvolvimento de desenhos e em pouco tempo tirinhas que se transformaram em sua marca pessoal.
“Duas lições me acompanhariam vida afora. A primeira é que queimar pontes nunca é bom negócio para ninguém. Isso só gera desgaste, ruptura, isolamento, oportunidades perdidas. A segunda é que, como meu pai, também gosto de estar certo. Mas, se não estiver, ao contrário dele, hoje eu incentivo as pessoas a demonstrarem onde está o erro no meu modo de pensar ou de fazer as coisas. Eu gosto de ser convencido, de que me apontem um caminho melhor do que aquele que eu tinha sugerido” – pág. 37.
Nessa autobriografia, ele nos conta como seus dez filhos inspiraram personagens que adentraram a casa das famílias brasileiras em períodos difíceis do governo brasileiro e da educação religiosa, que durante muito tempo exigiu o fim das revistas infantis por considerar seu conteúdo impróprio e abusivo. Nesse cenário similar à Inquisição Espanhola, Maurício conseguiu destoar de muitos autores de gibis ao demonstrar uma capacidade incrível de escrever e mostrar como a infância pode ser boa e divertida, conseguindo de certa forma um indulto da Igreja para continuar distribuindo suas histórias.
“Jamais tive crise de criatividade. A maioria das histórias sempre veio num jorro, como se já estivessem escritas em algum lugar do cosmos e eu as captasse e colocasse no papel” – pág. 64.
“Duas lições me acompanhariam vida afora. A primeira é que queimar pontes nunca é bom negócio para ninguém. Isso só gera desgaste, ruptura, isolamento, oportunidades perdidas. A segunda é que, como meu pai, também gosto de estar certo. Mas, se não estiver, ao contrário dele, hoje eu incentivo as pessoas a demonstrarem onde está o erro no meu modo de pensar ou de fazer as coisas. Eu gosto de ser convencido, de que me apontem um caminho melhor do que aquele que eu tinha sugerido” – pág. 37.
Nessa autobriografia, ele nos conta como seus dez filhos inspiraram personagens que adentraram a casa das famílias brasileiras em períodos difíceis do governo brasileiro e da educação religiosa, que durante muito tempo exigiu o fim das revistas infantis por considerar seu conteúdo impróprio e abusivo. Nesse cenário similar à Inquisição Espanhola, Maurício conseguiu destoar de muitos autores de gibis ao demonstrar uma capacidade incrível de escrever e mostrar como a infância pode ser boa e divertida, conseguindo de certa forma um indulto da Igreja para continuar distribuindo suas histórias.
“Jamais tive crise de criatividade. A maioria das histórias sempre veio num jorro, como se já estivessem escritas em algum lugar do cosmos e eu as captasse e colocasse no papel” – pág. 64.
Com o tempo, Maurício aprendeu não apenas a desenvolver personagens, como também a expandir seus negócios, transformando sua marca num negócio lucrativo e de fácil acesso a todas as crianças através do desenvolvimento de produtos, brinquedos, peças de teatro, filmes e qualquer coisa que possa nos lembrar de sua turminha. Também desenvolveu com o tempo, o crescimento de seus personagens, que hoje podem ser vistos tanto na infância, com os clássicos gibis, quanto nas revistas da Turma da Mônica Jovem que resgatou um público que ama a turminha, mas que já não compreendia suas tramas ou se envergonhava de ler as histórias clássicas de Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão e Chico Bento, em suas travessuras infantis, transformando-se imediatamente em um sucesso de vendas no país que é tão duramente criticado pela falta de incentivo à leitura às novas gerações.
Acompanhar a trajetória de Maurício, é conhecer também um pouco da história do nosso país nesses últimos oitenta anos ao menos, onde através de situações que ele e a família enfrentaram, podemos ter um vislumbre dos costumes, da política e do desenvolvimento do pensamento artístico e social ao longo do tempo, além de observar o amadurecimento de uma mente criativa e a visão de um empreendedor que não deixa escapar oportunidades, não para angariar mais lucro (o que convenhamos, se ele decidisse usar a partir de hoje o que já foi produzido até então, não precisaria mais inovar ou desenvolver nada para isso, seu portfólio fala por si só), mas para responder a um desafio que o move desde que ele pode se lembrar: porque não?
“Com mais de 80 anos, uma pessoa já passou por tanta coisa que tem toda a consciência de que certos comportamentos ou reações não valem a pena, como se estressar por algo que, de um jeito ou de outro, será resolvido e voltará ao normal. Por outro lado, essa pessoa também aprendeu que as coisas mais importantes da vida estão associadas à família, à simplicidade, à solidariedade e ao amor” – pág. 221.
Sinto que, por mais que eu fale e elabore a respeito, não estou fazendo jus à essa leitura. Não apenas movida por um sentimento de reverência por falar de alguém que admiro, mas porque Maurício merece mais, sua história merece mais. Ler sua biografia me fez sentir como se estivesse sentada em seu estúdio, observando-o trabalhar enquanto batemos papo, como se fôssemos amigos de longa data, sem frescura nem rebuscamento na linguagem. Uma simples, honesta e gentil conversa.
Espero que você aí do outro lado, possa ter essa oportunidade também, de rir e se emocionar com esse genial e fabuloso ser humano ao conhecer a sua jornada, porque ele está contando-a para você!!!
“Em última instância, sou um sobrevivente, um homem que começou do nada, realizou seu sonho e não quer desistir dele de jeito nenhum.
Enquanto eu estiver por aqui, saiba que foi você quem sempre alimentou meus sonhos. Depois que eu partir, não se esqueça de que ideias e também sonhos improváveis, é que movem o mundo. De um jeito ou de outro, sempre estarei com vocês” – pág. 300.
Aaaa que lindo!!!
ResponderExcluirRealmente é uma emoção muito grande se ver mergulhada em uma história tão linda de alguém que a gente admira muito.
Relembrei da alegria que sentia cada vez que chegava o pacotinho do correio, com os meus Gibis preferidos. Hoje, mantenho essa alegria através dos meus filhos.
A sua resenha está perfeita e, se antes já queria esse exemplar, agora estou ainda mais ansiosa.
Adorei!
😘
Obrigada querida!!! Espero que se emocione também ao ler! Tá muito lindo o livro! 😘❤
ExcluirOi! Eu confesso que estou louca por essa autobiografia. Conheci o Maurício em 2015, na Bienal e foi algo surreal. É como você disse, foi alguém que nos fez amar a leitura. Até hoje costumo pegar uns quadrinhos da Turma da Mônica de ez em quando. E além disso, só tenho visto elogios a esse livro e olha que o povo não costuma ser fã de biografias.
ResponderExcluirAmei o seu texto, consegui sentir o quanto você gostou. Parabéns, beijos.
https://almde50tons.wordpress.com/
Ai que invejinha branca de você *_* mas eu ainda vou realizar esse sonho de conhecer o Maurício! Bjoooo ❤
ExcluirOlá!
ResponderExcluirÉ aquele autor brasileiro que é impossível não conhecer e não amar! Quanto eu adorava ler as bandas desenhadas da Mónica! Ainda se mantêm todas ali na estante do meu quarto e ainda é o tempo em que me divirto com aquelas tirinhas... Sinceramente não costumo gostar de ler biografias mas a desse homem, que acabou por fazer parte da minha infância, poderia ficar muito bem na minha estante!
Acho que não tem ninguém que não tenha sido influenciado por Maurício né? Bjoooo ❤
ExcluirMaurício de Sousa é unânime né? Não tem como não amar, a história dele parece ser linda mesmo, não costumo ler biografias mas a dele tem um espaço na minha estante!
ResponderExcluirDe fato a história de vida dele é emocionante... Como ele mesmo disse, começou do nada enfrentando dificuldades que nós não fazemos ideia! Livro pra ler e reler e se inspirar!
ExcluirBjoooo ❤
Que lindo! Eu adoro Maurício de Sousa, aprendi a ler com a Mônica e seus amigos, não tem como não amar! E embora eu não seja muito das biografias, estou querendo muito ler esse livro! Adorei a sua resenha!
ResponderExcluirVale muito a pena, não é uma biografia como as que a gente está acostumada a ver por aí!
ExcluirBjoooo ❤
AHhh eu vi este livro na Livraria Cultura e fiquei suuuuper ansiosa pra lê-lo. Lindo demais as histórias do Mauricio, de vida e como desenhista e dono do maior gibi infantil do brasil. Amooo
ResponderExcluirLeitura indispensável!!! Bjoooo ❤
ExcluirAinda preciso ler esse livro! Maurício de Sousa é aquela pessoa que através de seus personagens estive presente na vida de milhares de crianças.
ResponderExcluirE continua até hoje né? Muito recomendado!!!
ExcluirBjoooo ❤
Oie equipe, tudo bem com vocês?
ResponderExcluirAaah, quando vi o lançamento desse livro fiquei tão empolgada! Eu descobri recentemente que gosto muito de biografias, e essa do Maurício me interessa muito, sou apaixonada pelos Gibis!
Adorei o post :)
Com Carinho,
Ana | Blog Entre Páginas
www.entrepaginas.com.br
CONCORRA A UM EXEMPLAR DE "AS TUMBAS DE ATUAN" - https://goo.gl/SmjGCh
Oi Aninha!!! Quando tiver a oportunidade, leia! Muito inspirador! Bjoooo ❤
ExcluirOiee Regiane ^^
ResponderExcluirEu ainda não conhecia esse livro *-* acho que mais da metade dos leitores brasileiros desenvolveram paixão pela leitura graças ao Maurício, né? Sei que comigo também foi assim. Não conhecia sua história, e fiquei surpresa com algumas das coisas que você mencionou na resenha. Imagino que ler o livro e ficar a par de toda a sua vida seja ainda mais surpreendente.
MilkMilks ♥
Achei a ideia da sextante muito legal, o Mauricio fez parte da minha infância e tenho um amor enorme por seus personagens.
ResponderExcluirBeijos
Que bonito! Eu amo Maurício de Sousa , a primeira vez que eu ouvi o nome dele foi na Turma da Mônica kkkk não perdia nenhum capítulo! Até jogava um jogo que tinha... Eu amo esse homem <3 , amei o post , bjssss e un forte abraço!!
ResponderExcluirInfelizmente ainda não está disponível em Portugal :(
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