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agosto 18, 2017

Um verão para recomeçar - Morgan Matson | Editora Novo Conceito



"Não conseguia dormir. Esse parecia ser o tema do verão, já que ficava acordada por horas todas as noites, mesmo depois de ter trabalhado o dia inteiro e ficar exausta, quando deveria cair no sono tão logo colocasse a cabeça no travesseiro. Mas, assim que me deitava, ficava horas me revirando na cama, meus pensamentos não me deixando dormir. Parecia que, desde que chegamos ao lado Phoenix, estava constantemente me confrontando com todas as coisas que fizera de errado nos últimos cinco anos e nas quais tentei não pensar. E era sempre à noite, quando não conseguia escapar, que os pensamentos tomavam conta de minha mente, se recusando a ir embora." (p. 234)

Como lidar com a dor de uma despedida? Não é de hoje que a literatura young adult levanta essa questão, especialmente a partir de enredos baseados em despedidas e recomeços, como o da autora Morgan Matson, recentemente publicado pela Novo Conceito. Ainda que a intenção de seus autores não seja a de oferecer respostas, e sim relatos (ficcionais ou não) de quem precisou lidar com uma reviravolta brusca em sua vida, o contato com textos young adult pode despertar no leitor a sensibilidade necessária para uma reflexão a respeito de como estamos hoje e de como sobrevivemos até aqui.

Um verão para recomeçar conta a história de Taylor Edwards, uma jovem que guarda na memória um trauma vivido aos doze, quando a profusão de sentimentos e experiências nunca antes imaginadas (o primeiro amor, o ciúme e a disputa por esse amor) surge de forma avassaladora, paralisando-a, não restando senão uma única opção: abandonar este primeiro capítulo de sua adolescência, logo assim no início, e literalmente fugir.

No entanto, como acontece não apenas nas páginas de um livro, mas em nossa própria juventude, é bem possível que acontecimentos cotidianos (nem sempre planejados - aliás, quase nunca planejados!) nos façam reencontrar aquela pessoa que nos magoou (e, principalmente, aquela que magoamos) em algum momento do passado, e de forma também inesperada tenhamos que aprender a sobreviver a este reencontro, lidando com toda a culpa, remorso e com nossa própria imaturidade.

Histórias young adult nos surpreendem também por sua simplicidade, e pela atenção que seus personagens dedicam a inúmeros acontecimentos que escapam ao trauma. Talvez por entenderem, de forma intuitiva mesmo, que cada pequena nova história e conquista pode se tornar o passo necessário para se tocar a vida e prosseguir, ainda que a memória de tudo o que nos paralisou ainda insista em nos perseguir. No enredo da jovem Taylor, além do desastre de seu primeiro destino amoroso e da apatia que se seguiu ao longo de sua adolescência, chegou o dia em que foi preciso amadurecer muito rápido, e lidar com a iminência de mais uma perda (a incurável doença de seu pai), e igualmente encarar o desafio desta juventude que a intimava a dar um passo adiante, qualquer que fosse, ainda que a vontade de fugir a este segundo ataque brutal da vida ainda falasse alto dentro de si.

É claro que uma escrita assim, em tom de diário e confissão, em muitas maneiras intensifica os sentimentos ruins, assim como os medos de seus personagens (com os quais nos identificamos prontamente); na história de Morgan Matson, no entanto, me chamou atenção este mínimo de esperança que surge com a inesperada colaboração dos eventos presentes em seu próprio dia-a-dia, como a responsabilidade, atenção e cuidado que precisaremos tirar de algum lugar esquecido dentro da gente e simplesmente "devolver para o mundo", como se no intuito de aprendermos a conviver melhor com nossos familiares, colegas e amigos, bem como com aquilo que nos traumatizou no passado. Quando conseguimos não fugir ao que nos amedronta, uma pequena brecha se abre, e é bem possível que um ou outro relacionamento possa ser até restaurado.

Por vezes também, histórias young adult, quando lidas sob a ótica de que "é apenas um livro, escrito por uma autora de idade próxima a minha" percam um pouco de seu encanto (isto é, será que a autora realmente viveu isso, ou será que é tudo invenção? Na minha opinião, com a leitura a gente acaba entendendo que isso realmente não importa, afinal, uma boa história acaba sendo maior que qualquer dúvida que o leitor possa ter a esse respeito...); Um verão pra recomeçar traz esse diferencial de ser ao mesmo tempo adulto, por tratar de temas como reconciliação, luto, responsabilidade e futuro, e igualmente trazer a ingenuidade de quem ainda está a descobrir o mundo, e com cada descoberta se sentir motivado a abraçar esse tal desconhecido e seguir em frente. Um sonho e um dia por vez; uma dor e uma superação por vez.
O recomeço e a despedida acompanham a todos, em tantos momentos, neste algum lugar do coração e da memória onde tudo demora pra deixar de doer (a gente até que não acredita, mas sempre chega o dia em que tudo - senão uma parte - dói menos). Ainda assim, quando observado com alguma distância - e com alguma esperança, o passado é capaz de se transformar em "retrospectiva", e com o entendimento nosso de cada dia é bem possível que a própria vida se converta em instantes de contentamento. Muitos instantes. Cabe a nós lutar para acreditar nisso...

Um verão para recomeçar é uma história capaz de emocionar a todos e despertar inúmeras páginas de sorrisos. Dentre os young adults do mês, o romance de Morgan Matson é leitura recomendadíssima, com certeza! :)



“Foi somente então, quando cada dia que eu passava com ele era contado, que eu percebi o quanto eles eram preciosos. Milhares de momentos para os quais eu não tinha dado o devido valor — principalmente por achar que teríamos milhares de outros...”;

A família de Taylor Edwards não é muito próxima – todos estão ocupados demais com seus afazeres –, mas, quase sempre, eles se dão muito bem. Quando o pai de Taylor recebe más notícias sobre a saúde dele, a família decide passar, todos juntos, o verão na casa do lago Phoenix.

Fazia cinco anos que eles não passavam o verão naquele lugar, que agora parece bem menor do que antes. E, apesar da tristeza, os momentos em família os aproximam novamente. Além disso, Taylor descobre que as pessoas que ela pensou ter deixado para trás continuam ali: sua ex-melhor amiga e seu primeiro amor (que está muito mais bonito do que antes). Com o passar do verão, e com os laços quase refeitos, Taylor e sua família tornam-se cada vez mais conscientes de que estão correndo contra o tempo diante da doença de seu pai. Mas, apesar de tudo, o aprendizado que fica é que sempre é possível ter uma segunda chance.


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