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março 15, 2016

Enquanto eu ponderava em silêncio - Walt Whitman


(quando não houver comentários para o mundo, volte-se à poesia...)





Enquanto eu lia o livro

Enquanto eu lia o livro, a famosa biografia:
- Então é isso (eu me perguntava)
o que o autor chama
a vida de um homem?
E é assim que alguém,
quando morto e ausente eu estiver,
irá escrever sobre a minha vida?
(Como se alguém realmente soubesse
de minha vida um nada,
quando até eu, eu mesmo, tantas vezes
sinto que pouco sei ou nada sei
da verdadeira vida que é a minha:
somente uns poucos traços
apagados, uns dados espalhados
e uns desvios, que eu busco
para uso próprio, marcando o caminho
daqui afora.)




Enquanto eu Ponderava em Silêncio

1

Enquanto eu ponderava em silêncio,
Retornando sobre meus poemas, considerando, muito demorando-me
Um Fantasma ergueu-se diante de mim, de aspecto desconfiado,
Terrível em beleza, idade e poder,
O gênio de poetas de antigas terras,
Como se a mim direcionasse seus olhos feito chama,
Com dedo apontado para muitas canções imortais
E voz ameaçadora, O que cantas tu?, disse;
Não sabes que há senão um tema para bardos sempiternos?
E que esse é o tema da Guerra, a fortuna das batalhas,
A feitura de soldados perfeitos?


2

Que assim seja, pois, respondi,
Também eu, altivo Vulto, canto a guerra – e uma maior e mais longa do que qualquer outra,
Travada em meu livro com fortunas várias – com fuga, avanço e retirada – a Vitória trêmula e deferida,
(No entanto, creio, certa, ou quase o mesmo que certa, afinal,) – O campo o mundo;
Pois a vida e a morte – para o Corpo, e para a Alma eterna,
Vede! também venho, entoando o canto das batalhas,
Eu, sobretudo, promovo bravos soldados.




Ao que foi crucificado

Meu espírito está com o teu, caro irmão,
Não te importes porque tantos, dizendo teu nome, não te compreendem;
Eu não digo teu nome, mas te compreendo (há outros também;)
Eu te especifico com graça, Ó, meu camarada, para saudar a ti e saudar àqueles que estão contigo, antes e depois – e aos que virão também,
Todos nós labutamos juntos, transmitindo o mesmo fardo e sucessão;
Nós poucos, iguais, indiferindo a terra, indiferindo o tempo;
Nós, que cingimos todo continente, toda casta – permitindo toda teologia,
Compaixonados, perceptivos, em harmonia com os homens,
Nós andamos silentes entre disputas e asserções, sem rejeitar os que disputam, nem o que é assertido;
Nós ouvimos berros e barulhos – somos tocados por divisões, ciúmes, recriminações por todo lado,
Eles se fecham peremptoriamente sobre nós, para cercar-nos, meu camarada,
No entanto andamos irrestritos, livres, por todo o mundo, em jornada por alto ou baixo, até deixarmos nossa marca indelével sobre o tempo e diversas eras,
Até saturarmos o tempo e as eras, que os homens e mulheres de raças e eras por vir, possam provar-se como nossos irmãos e amantes, como nós somos.



(Poemas encontrados na obra Leaves of Grass, em português, Folhas de Relva, em edição da Editora Hedra)

3 comentários:

  1. Que lindeza Rebs!
    Lendo essa coisas incríveis o dia até fica melhor♥

    Um beijo,
    Paloma
    surewehaveablog.com.br

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  2. Quando eu vi a foto do livro no instagram fiquei curiosa para vê o post! Que coisa linda de se ler... em dias como hoje, ao menos isso!

    Pandora
    O que tem na nossa estante

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. E de muitas formas, esqueci de dizer, esses textos combinam com os dias que temos, ou melhor, com os dias que tenho tipo... Adorei o "Ao que foi crucificado"!

      Excluir

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