"Ellie relê a carta e se vê, inexplicavelmente, com os olhos cheios d’água. Não consegue desviar o olhar da letra grande, cheia de volteios. A urgência das palavras a toca mais de quarenta anos depois de elas terem sido escritas. Ela vira a carta, confere o envelope em busca de alguma pista. Está endereçado à caixa postal 13, Londres. O que você fez, caixa postal 13?, pergunta ela mentalmente.
Então se levanta, repõe a carta cuidadosamente no envelope e vai até o computador. Abre a caixa de mensagens e pressiona “atualizar”. Nada desde a mensagem que recebera às 19h45.
Tenho um jantar, linda. Desculpe — já estou atrasado. Até. Bj."
Então se levanta, repõe a carta cuidadosamente no envelope e vai até o computador. Abre a caixa de mensagens e pressiona “atualizar”. Nada desde a mensagem que recebera às 19h45.
Tenho um jantar, linda. Desculpe — já estou atrasado. Até. Bj."
Jojo Moyes gosta de temas complicados. Após minha terceira leitura dentre suas obras, acho que posso chegar a essa conclusão. A Última Carta de Amor é como um soco nas últimas costelas, uma região sensível e delicada, mas particularmente dolorosa de nosso corpo. É um drama adulto, sobre pessoas adultas, mas que não sabem disso.
Preciso confessar logo de cara que não gostei desse livro como gostei dos lidos anteriormente. Não consegui, por mais recomendado que ele seja. Claro que, inicialmente, me senti apaixonada pela escrita da Jojo, que em nada deixa a desejar quanto às questões técnicas, mas não tive empatia com seus personagens. E isso pra mim é fundamental como leitora, eu preciso me ver em alguma parte da história para que ela não seja apenas mais uma leitura para passar o tempo.
Há muito conflito moral nessa história que mescla amores do passado e do presente, porém ambos com uma condição que até pode ter se tornado banal na sociedade atual, mas que de maneira alguma é tranquila: relações entre pessoas comprometidas. Talvez eu esteja sendo extensivamente moralista (minha criação não me permite ver com simpatia alguém - mesmo que seja um personagem fictício - que escolhe se envolver com uma pessoa casada), mas nunca fui fã de um romance “proibido”. Eles costumam acabar muito mal. E isso porque não há possibilidade de nenhum dos atores sair incólume. Alguém sempre se machuca no processo. “Tá, mas a vida é dolorida”, alguém pode pensar. E ela é, pra todos nós, mas isso não nos dá o direito de magoar outras pessoas propositalmente ou desdenhosamente.
Em momentos muito diferentes no tempo, conhecemos Ellie e Jennifer. Ellie é jornalista, moderna, inteligente e vive um caso com um escritor casado. Jennifer é esposa de um magnata, rica, bonita, supostamente agradável e fútil, até conhecer um jornalista e se apaixonar por ele, vivendo um tórrido romance. Ambas apaixonadas, ambas sofrendo pelo amor que sentem. E não consegui torcer por nenhuma das duas.
Meu impasse com esse enredo se resume a isso, não tenho empatia com as personagens principais. Não consigo assimilar uma mulher que se diz moderna e independente, como a Ellie, ficar com um homem casado e não demonstrar nenhum tipo de remorso pelo sofrimento que está causando. Nem consigo admitir que ela justifique a si mesma que se o cara está com ela “é porque não é feliz no casamento”. Que desculpinha mais ridícula, vamos combinar. Quando um casamento não dá certo, as pessoas seguem suas vidas separadas, não ficam “procurando fora o que não encontram em casa”, esse é um pensamento medíocre e arcaico.
O homem que decide ter um relacionamento extraconjugal é um safado pra dizer o mínimo, e se a mulher decide se envolver com ele mesmo sem garantias de que o futuro dos dois juntos é viável, ela invariavelmente sabe que vai dar tudo errado. Não vamos ser hipócritas e dizer que ela foi iludida, porque não foi.
Da mesma forma, não sinto simpatia nenhuma pelo personagem de “pobre garota rica, que teve que se casar por status”. Até entendo as atitudes de Jennifer devido à época em que vivia e na sociedade em que estava inserida, mas achei-a de uma fraqueza detestável. Outras mulheres reais, da mesma época, conseguiram ser elas mesmas e não um mero enfeite em um casamento que nem consegue ser de fachada. Talvez essa fosse a intenção de Jojo, não nos dar uma heroína, mas alguém com defeitos e falhas, como todo mundo.
Boot, "o galã" da história, nem de longe conseguiu me cativar, apesar de suas missivas serem muito expressivas e até tocantes. É o que lhe redime, porque fora isso sua catarse como ser humano demorou muito a chegar. Aliás, esse é um dos pontos negativos do livro, a história se arrastou muito para o meu gosto, muitas cenas foram desnecessárias, não acrescentaram em nada aos personagens nem ao enredo e o momento em que finalmente entendemos o que de fato está acontecendo foi muito breve, assim como o aparecimento do único personagem que realmente achei instigante por seu humor ácido e sinceridade desconcertante: Rory.
Sei que muitos ao ler essa crítica vão pensar: “mas é apenas um livro e isso acontece o tempo todo na vida real”. E eu entendo perfeitamente que a aura trágica de toda essa história acabe atraindo leitores de todo o mundo, afinal somos românticos incuráveis. Para mim, o problema é romantizar uma situação que não é bonita nem prazerosa, onde a suposta felicidade do casal ocorra à custa da infelicidade de tantas outras pessoas. Não estou dizendo que eles deveriam sacrificar seu grande amor em nome de outrem. Só estou dizendo que poderiam agir de outra maneira, fazer escolhas que ainda que causassem alguma dor, não provocariam tanto estrago em suas próprias vidas.
Claro que sempre tem alguém para dizer: “Mas a gente não escolhe de quem vai gostar!”. E é verdade, não é uma escolha racional e consciente, mas isso não nos justifica. Podemos não ter controle sobre nossos sentimentos, mas podemos escolher se vamos nos envolver com outra pessoa que não está disponível e a quem vamos magoar nesse processo.
A leitura foi mais lenta do que eu estou acostumada, mas não foi perdida. Jojo Moyes é uma autora excelente, sabe contar uma bela história sem ser repetitiva, ela não abusa do clichê, mesmo tendo licença para isso.
O ponto alto do livro é justamente a maneira como Jojo distribui a história, mesclando passado e presente, mas sem nos deixar confusos com a cronologia dos fatos e os trechos de algumas últimas cartas e mensagens que ela angariou de diversas pessoas reais a cada início de capítulo, são emocionantes e nos remetem ao sentimento de Ellie quando leu as cartas de Boot. Algo entre a nostalgia do que foi e a saudade do que ainda não vivemos.
“Certa vez uma pessoa sábia me disse que escrever é perigoso, pois nem sempre podemos garantir que nossas palavras serão lidas no espírito em que foram escritas” – pg 368.

Quatro décadas depois, a jornalista Ellie Haworth encontra uma dessas cartas endereçadas a Jennifer durante uma pesquisa nos arquivos do jornal em que trabalha. Obcecada pela ideia de reunir os protagonistas desse amor proibido - em parte por estar ela mesma envolvida com um homem casado -, Ellie começa a procurar por "B", e nem desconfia que, ao fazer isso, talvez encontre uma solução para os problemas do seu próprio relacionamento.
Com personagens realisticamente complexos e uma trama bem-elaborada, A última carta de amor, primeiro livro de Jojo Moyes publicado pela Intrínseca, entrelaça as histórias de paixão, adultério e perda de Ellie e Jennifer.
Virei fã da Jojo, mas a partir da leitura dos outros livros. "A última carta de amor" foi o primeiro livro que comprei dela, há uns 4 ou 5 anos. Comecei a ler duas vezes, mas não avancei muito. Talvez seja essa mesma falta de empatia com os personagens. Em breve farei uma nova tentativa.
ResponderExcluirBeijos, Entre Aspas
Pois é Carla, li outros primeiro, e todo mundo falava muito bem desse. Não rolou pra mim, mas para a maioria sim, então apesar de minha visão, não estou negativando a leitura. Quando concluir a leitura, nos conte o que achou ;)
ExcluirBeijos
Comecei a ler o livro duas vezes e parava, comecei agira de novo numa leitura bem lenta, mas já estou finalizando e sinceramente estou muito curiosa para saber o final da história .
ResponderExcluir