A minha vida toda fui elogiada por ter sido tão madura, mesmo com pouca idade, o que me envaidecia quando eu era mais jovem. Hoje, eu vejo quanto perdi da minha adolescência por ser tão “madura”. Claro, eu não tive opção, então não me recrimino tanto e compenso comprando milhares de coisas do Mickey, pelúcias, pegando lembrancinhas em festa de crianças e rolando no chão com minhas sobrinhas. Algo muito maduro para meus trinta e poucos anos, sabe – gargalhadas!
Não estou dizendo que não é louvável ser considerado maduro ainda que jovem, pelo contrário, no mundo em que vivemos é uma coisa boa ter atitudes que são sempre relegadas a adultos. Mas, todo amadurecimento tem um custo. Às vezes, alto demais. E é sobre isso que se trata o Young Adult No Coração da Floresta, livro de estreia de Emily Murdoch e publicado no Brasil pelo selo Agir Now da Editora Nova Fronteira.
O livro conta a história de Carey Blackburn e sua irmã Jenessa, a partir do momento em que são encontradas no meio de uma floresta no Tenessee por uma assistente social e um homem, o pai de Carey. Narrado pela própria Carey, somos levados a uma jornada de sofrimento, privações e redescobertas.
Carey foi levada pela mãe quando ainda era uma criança, e ambas se esconderam na floresta por dez anos. A mãe de Carey alegava que tinha feito isso para protegê-las, já que o pai de Carey batia em ambas. Mas a mãe de Carey, uma ex-violinista que amava a música, não fez nada diferente nesse sentido. Pelo contrário, conforme Carey vai tentando se adaptar a sua nova vida, com uma família, teto, roupas limpas e quentes, comida e água quente à vontade, ela compara sua vida atual com o passado violento vivido junto da mãe, uma mulher desequilibrada e viciada em drogas, que usava a própria Carey como forma de pagamento a homens inescrupulosos e doentes que pagavam algumas moedas para poder tocar em uma criança indefesa que não faz a mínima ideia do quão errado era o que estava acontecendo.
Só que Carey deixou de ser indefesa quando a mãe engravidou pela segunda vez e a menina que mal dava conta de si, teve que cuidar da sobrevivência de um bebê, já que sua mãe estava sempre fora e quando voltava não se importava com as filhas, somente quando lhe convinha. Essa responsabilidade pela vida de outra pessoa, transformou Carey em uma adulta rapidamente, que cuidava de uma criança provendo refeições à base de animais que ela mesma caçava, lavando as roupas de ambas no riacho, aquecendo o corpo da irmã no frio arrebatador do inverno na floresta, e provendo educação para si e para Jenessa através da leitura de livros que a mãe eventualmente trazia quando os encontrava no lixo. O maior consolo dessa existência precária, era o violino que a mãe a ensinou a tocar e com o qual Carey tem uma conexão tão profunda, que a mantém sã diante de todas as preocupações diárias.
Mas a Carey da floresta, responsável e forte, não sabe como agir agora que tem que viver na casa do pai, do qual ela nem se lembra e do qual tem uma imagem dura e triste formada pelas palavras da mãe, junto de Melissa, a adorável esposa de seu pai e sua filha Delly, uma jovem adolescente que não deixa nada a desejar quando se trata de ser o estereótipo da “loira patricinha americana que não gosta de concorrência”. Carey ainda tem que se preocupar com o fato de que precisa frequentar uma escola regularmente, não pode mais receber “educação em casa” e o ajuste social após tantos anos vivendo na floresta, tendo por companhia a irmã caçula, as árvores e os animais.
“Eu ainda pareço exatamente a mesma garota que morava no mato (...). Ainda pareço ter olhos de coruja, queixo pontudo e ser séria. Ainda pareço saber mais do que deveria, o que é verdade” – pág. 113
Com coragem e resiliência Carey tenta se ajustar, não por si mesma, mas por Jenessa, que está adorando cada novidade e vivendo intensamente cada momento dessa nova vida, como se aquele tivesse sido o seu lugar desde sempre. Carey sabe disso porque Jenessa é muito expressiva, ainda que não fale em voz alta há mais de um ano. E o motivo da mudez seletiva de sua irmã, é o pior pesadelo de Carey. Porque pode leva-la a perder tudo o que conseguiu nessa nova vida, inclusive perder a própria irmã. E nada mais importa para Carey do que manter sua irmã segura.
“Palavras são armas. Armas são poderosas. Assim como palavras não ditas. Assim como armas não usadas” – pág. 36.
Essa foi uma leitura muito difícil de ser feita, ainda que eu tenha devorado o livro. O ritmo da escrita de Emily é muito fluido, muito limpo. E mesmo que o tema seja aterrador, violento, doloroso, Emily consegue fazer a narrativa de todos os eventos de uma maneira sutil, sem chocar demais o leitor. Afinal, estamos na cabeça de uma jovem muito sensata e madura, que optou por manter o melhor de sua existência precária dentro de si, em meio a uma vida cheia de provações e privações e que vai descobrindo aos poucos, que muito de sua vida passada não passou de mentiras e que em meio às diversidades é muito fácil justificar os atos hediondos de alguém que supostamente nos ama, quando essa pessoa é a única que temos.
Carey, como qualquer pessoa no lugar dela, vai sendo destruída e reconstruída, conforme a luz da verdade vai clareando os fatos que ela julgava conhecer. E acima de tudo, ela descobre que a verdade é realmente libertadora, ainda que dolorosa.
“Ninguém me avisou que ficar próxima das pessoas, às vezes, significava magoar, tanto a elas quanto a mim” – pág. 180.
Recomendo para aqueles que tem o coração forte... Porque não é uma leitura fácil, nem para entreter. É para transformar.
Algumas coisas são impossíveis de deixar para trás...
Um trailer abandonado. escondido em meio a uma reserva florestal. é o único lar de que Carey se lembra. Aos 15 anos. as árvores são as guardiãs de sua vida mal-afortunada. e o único ponto positivo é sua irmã mais nova. Jenessa. que depende de Carey para sobreviver. Elas só têm uma a outra. considerando que a mãe das meninas. mentalmente instável. muitas vezes desaparece por dias sem fim. Até que um dia. após um sumiço mais longo do que o habitual. dois estranhos aparecem. De repente. as meninas são tiradas da floresta e levadas a um mundo novo e surpreendente de roupas. meninos e aulas.
Agora Carey precisa enfrentar a verdade escondida por trás do seu sequestro. dez anos antes. assombrada por um passado que não a deixa seguir em frente... Um passado sombrio e misterioso. em que jaz o motivo de Jenessa não falar uma palavra há mais de um ano. Carey sabe que precisa proteger a irmã. assim como seus segredos. ou se não pode colocar em risco toda essa nova vida que criou para si.
Oie!
ResponderExcluirNão conhecia o livro, mas pela resenha, acho que eu leria bem devagar e a leitura seria difícil pra mim também.
Eu sou meio mole, mas acho que valeria a pena a leitura.
Beijos
Oi Thai! Esse é do tipo que pede pra deixarmos uma caixinha de lenços à mão mesmo rs. Bjooo
ExcluirMenina, adorei a resenha.
ResponderExcluirAdoro livros que nos fazem refletir sobre a vida. Esse me pareceu ser um deles.
Beijos,
Fê
Algumas Observações
E haja reflexão Fe!!! Leia sim, é muito bom!
ExcluirBjos
O tema parece ser bem forte deste livro, mas pelo que você descreveu deve ser bom porque você "o devorou" e nem todo livro nos anima a devorá-lo. Não conhecia este livro, adorei a resenha! Abraços
ResponderExcluirPois é Cíntia, eu queria saber logo se todo esse sofrimento da personagem ia acabar e qual era o segredo que a atormentava... Leitura incrível!
ExcluirBjoooo
Gente! Que resenha boa e que livro forte! Fiquei meio chocolada conforme fui lendo. Um livro para ser digerido aos poucos né? Com bastante calma para ficar chocado e entender a trama. A mãe drogada usando a própria filha, engravidando de novo e as irmãs na floresta. Que história densa. Fiquei super curiosa com o livro, nossa, preciso procurar para ler. Adorei sua escrita, me ajudou bastante a ficar cativada! Amei <3
ResponderExcluirObrigada flor! E é bem isso, leitura que eu devorei, mas ainda estou absorvendo ❤
ExcluirBjoooo
Não conhecia o livro. A resenha e as citações que colocastes me chamaram atenção. Coitada da Carey e da mãe, sozinhas na floresta,precisando sobreviver, fugindo de um monstro.. :c
ResponderExcluirImpressionante mesmo!
ExcluirBeijos!
Partilho do mesmo sentimento, sempre me falaram que eu era madura demais para a minha idade.
ResponderExcluirA dissertação me fez querer ler sobre.. incrivél.
É um privilégio acompanhado de um fardo May, mas que nos faz ser quem somos.
ExcluirBeijos!
Oi, eu tô doida pra ler esse livro, já tá na minha listinha. Adorei a resenha e seu blog é lindo!!
ResponderExcluirObrigada flor! Quando tiver a oportunidade de le-lo, conta pra gente o que achou ❤
ExcluirBeijooo