"- Há vitórias que se transformam em derrotas, meu caro Watson. A principal dificuldade de um detetive é não poder entregar ao carrasco alguém de quem se pode provar a culpa por não haver lei anterior que a preveja!
Isso me ensinara meu amigo Sherlock Holmes havia anos, mas confesso que na época não compreendi a profundidade da afirmação, pois para mim a infalível justiça britânica sempre tivera a abrangência necessária para proteger a estabilidade de nossa sólida civilização. (...) Esse exemplo me foi apresentado na forma de uma de nossas aventuras mais peculiares, que passou a fazer parte do rol das que fui obrigado a manter no mais absoluto segredo. (...) Ninguém até hoje dela soube, mas, por ser tão importante, preciso relatá-la nem que seu destino venha a ser a escuridão das gavetas." (p. 121-122)
É preciso cumplicidade para que haja um segredo, assim como um cúmplice é necessário para que permaneça o mistério e também o crime. Para desvendar o que permanece em secreto, é preciso reunir provas, traduzir o sigilo, e assim chegar à confissão e ao esconderijo. Seja na literatura ou no cotidiano das capitais, é preciso perspicácia para desarmar o silêncio, e também um pouco de sorte, ou um menor grau de miopia.
Como toda história precisa de uma introdução, foi nas páginas dos jornais e folhetins que o chamado romance policial surgiu, há quase dois séculos, com histórias que despertaram a atenção do leitor para uma realidade nada romanesca, onde episódios de impensável brutalidade confundiam-se com as próprias manchetes dos jornais. Por sua proximidade assim cotidiana, a ficção policial explorava os limites da crueldade humana, criando em sua audiência o anseio de se chegar às páginas finais da história e de seus crimes, bem como de suas sentenças.
Um dos pioneiros nesta escrita foi Edgar Allan Poe, em meados dos anos 1800, com a publicação de The Murders in the Rue Morgue (Assassinatos na Rua Morgue), The Mistery of Marie Rogêt (O Mistério de Mary Roget) (1842-1843) e The Purloined Letter (A Carta Roubada) (1845). Nas décadas seguintes, o alcance literário das obras de Poe permitiu que outros autores, como Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930), trouxessem a investigação para o centro da narrativa, evidenciando não apenas o mistério, mas a perspicácia de seus protagonistas. Imortalizado por Conan Doyle, Sherlock Holmes é um dos nomes-referência neste gênero literário, e sua narrativa viria a influenciar toda uma geração de autores, de Agatha Christie a Pedro Bandeira. Sobre este, é bem possível que algum de seus clássicos infanto-juvenis (como A Droga da Obediência e A Droga do Amor) já tenha passado por sua estante, e quem sabe permanecido como uma lembrança destes tempos que não se distanciam (um exemplo do alcance da obra de Pedro Bandeira é a marca de mais de vinte milhões de exemplares em toda sua carreira!). Caso você ainda não conheça as obras do autor, recomendamos Melodia Mortal, recém publicado pela Editora Rocco, onde Bandeira resgata a atmosfera da Londres do século passado e as investigações e casos que tornaram o endereço da Baker Street 221B um dos mais emblemáticos de todos os tempos.
Isso me ensinara meu amigo Sherlock Holmes havia anos, mas confesso que na época não compreendi a profundidade da afirmação, pois para mim a infalível justiça britânica sempre tivera a abrangência necessária para proteger a estabilidade de nossa sólida civilização. (...) Esse exemplo me foi apresentado na forma de uma de nossas aventuras mais peculiares, que passou a fazer parte do rol das que fui obrigado a manter no mais absoluto segredo. (...) Ninguém até hoje dela soube, mas, por ser tão importante, preciso relatá-la nem que seu destino venha a ser a escuridão das gavetas." (p. 121-122)
É preciso cumplicidade para que haja um segredo, assim como um cúmplice é necessário para que permaneça o mistério e também o crime. Para desvendar o que permanece em secreto, é preciso reunir provas, traduzir o sigilo, e assim chegar à confissão e ao esconderijo. Seja na literatura ou no cotidiano das capitais, é preciso perspicácia para desarmar o silêncio, e também um pouco de sorte, ou um menor grau de miopia.
Como toda história precisa de uma introdução, foi nas páginas dos jornais e folhetins que o chamado romance policial surgiu, há quase dois séculos, com histórias que despertaram a atenção do leitor para uma realidade nada romanesca, onde episódios de impensável brutalidade confundiam-se com as próprias manchetes dos jornais. Por sua proximidade assim cotidiana, a ficção policial explorava os limites da crueldade humana, criando em sua audiência o anseio de se chegar às páginas finais da história e de seus crimes, bem como de suas sentenças.
Um dos pioneiros nesta escrita foi Edgar Allan Poe, em meados dos anos 1800, com a publicação de The Murders in the Rue Morgue (Assassinatos na Rua Morgue), The Mistery of Marie Rogêt (O Mistério de Mary Roget) (1842-1843) e The Purloined Letter (A Carta Roubada) (1845). Nas décadas seguintes, o alcance literário das obras de Poe permitiu que outros autores, como Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930), trouxessem a investigação para o centro da narrativa, evidenciando não apenas o mistério, mas a perspicácia de seus protagonistas. Imortalizado por Conan Doyle, Sherlock Holmes é um dos nomes-referência neste gênero literário, e sua narrativa viria a influenciar toda uma geração de autores, de Agatha Christie a Pedro Bandeira. Sobre este, é bem possível que algum de seus clássicos infanto-juvenis (como A Droga da Obediência e A Droga do Amor) já tenha passado por sua estante, e quem sabe permanecido como uma lembrança destes tempos que não se distanciam (um exemplo do alcance da obra de Pedro Bandeira é a marca de mais de vinte milhões de exemplares em toda sua carreira!). Caso você ainda não conheça as obras do autor, recomendamos Melodia Mortal, recém publicado pela Editora Rocco, onde Bandeira resgata a atmosfera da Londres do século passado e as investigações e casos que tornaram o endereço da Baker Street 221B um dos mais emblemáticos de todos os tempos.
Assim como nas histórias de Conan Doyle, os personagens de Pedro Bandeira narram seus casos com minuciosa precisão e veracidade (nada como a parceria de Guido Carlos Levi, profissional da área médica - assim como Conan Doyle, inclusive - cuja especialidade possibilitou uma escrita ainda mais próxima da realidade dos laudos e perícias presentes em toda investigação), o que contribui para que o leitor tenha a sensação de estar presente em cada cena de crime, ou, simplesmente, participando de uma conversa regada a charutos e brandy com os imortais Sherlock e Watson.
O diferencial de Melodia Mortal foi a escolha de seus autores em se distanciar das histórias de folhetim e dedicar-se a desvendar os mistérios relacionados às mortes de diversos gênios da música, como Mozart, Chopin, Tchaikovsky e muitos outros. Ao longo de seus capítulos, as biografias criadas por Bandeira e Guido Levi em muito se aproximam do original de Conan Doyle, especialmente por sua menção a episódios "vividos" em textos clássicos, como O signo dos quatro (1890) e O nobre solteirão (1892), por exemplo. Você pode ter certeza: Melodia Mortal será uma leitura que provocará uma experiência muito além da investigação policial, já que o trabalho de seus autores adicionou diversos elementos de história geral e da música, especificidades da medicina e da gastronomia (aliás, um dos destaques do livro são os capítulos dedicados a Confraria dos Médicos Sherlockianos, que consistem em diversos encontros no estilo "clube de leitura" de um grupo formado por 12 especialistas de renome que, munidos das histórias de Holmes e Watson, compartilharão suposições e diagnósticos acerca dos mistérios ainda não completamente solucionados pela medicina de outros séculos), tornando a narrativa muito mais 'saborosa' :)
Para conhecer mais sobre a obra, leia a entrevista com os autores no site da Rocco, e é claro, envolva-se com os mistérios deste encantador universo da Baker Street!
Para conhecer mais sobre a obra, leia a entrevista com os autores no site da Rocco, e é claro, envolva-se com os mistérios deste encantador universo da Baker Street!
Algumas das misteriosas mortes desvendadas por Holmes, Watson, Bandeira e Levi:
Vincenzo Bellini (1801-1835)
Morreu aos 33 anos na casa de um casal de amigos, depois de se queixar de dores e sofrer uma convulsão. Os donos do local deram ordens ao jardineiro para impedir a entrada de qualquer pessoa. No último dia da vida de Bellini, ambos viajaram para fora do país. De início, Sherlock questiona: teria sido envenenado? A investigação passa por pesquisas em busca de casos semelhantes baseados em relatos médicos da época.
Fréderic Chopin (1810-1849)
Filho de uma polonesa ex-vizinha de Chopin, um pianista comenta com Sherlock as várias crises pulmonares sofridas pelo compositor e sua fatídica morte em decorrência da tuberculose. Analisando detalhes de sua biografia, no entanto, o detetive britânico contesta a hipótese, mas o caso permanece sem resolução. Somente em 2016, médicos "sherlockianos" chegam ao real motivo da morte do músico: uma doença congênita.
Vincenzo Bellini (1801-1835)
Morreu aos 33 anos na casa de um casal de amigos, depois de se queixar de dores e sofrer uma convulsão. Os donos do local deram ordens ao jardineiro para impedir a entrada de qualquer pessoa. No último dia da vida de Bellini, ambos viajaram para fora do país. De início, Sherlock questiona: teria sido envenenado? A investigação passa por pesquisas em busca de casos semelhantes baseados em relatos médicos da época.
Fréderic Chopin (1810-1849)
Filho de uma polonesa ex-vizinha de Chopin, um pianista comenta com Sherlock as várias crises pulmonares sofridas pelo compositor e sua fatídica morte em decorrência da tuberculose. Analisando detalhes de sua biografia, no entanto, o detetive britânico contesta a hipótese, mas o caso permanece sem resolução. Somente em 2016, médicos "sherlockianos" chegam ao real motivo da morte do músico: uma doença congênita.
Melodia Mortal - Pedro Bandeira e Guido Carlos Levi
Sinopse: Após mais de 20 milhões de exemplares vendidos de seus livros destinados a crianças e jovens, Pedro Bandeira estreia na ficção adulta em um romance escrito em parceria com o médico Guido Carlos Levi. Melodia mortal combina música, história e ciência em uma narrativa policial que resgata o detetive Sherlock Holmes e seu braço direito John H. Watson – personagens criados por Arthur Conan Doyle em 1887. São eles que acabam por conduzir uma intrincada investigação, à luz dos conhecimentos da medicina contemporânea, sobre as polêmicas e jamais totalmente elucidadas mortes de alguns dos maiores compositores de todos os tempos.
A Confraria dos Médicos Sherlockianos, formada por 12 especialistas de renome, cada um em sua área, se reúne periodicamente para conversar sobre o famoso detetive inglês e suas façanhas. E não é incomum que tantos profissionais de saúde sejam obcecados por Holmes – afinal, o que é um exame clínico senão uma procura minuciosa por pistas que possam levar a um diagnóstico adequado? Mas aquele encontro tinha sabor especial, pois chegara a hora de dar início à análise de um tesouro exclusivo: as aventuras redigidas pelo próprio doutor Watson que, revelando a paixão de Sherlock pela música erudita, foram esquecidas por mais de um século em meio à poeira e ao bolor na Universidade de Londres.
O material inédito em posse do grupo conta com incríveis deduções de Sherlock Holmes, que, aliadas à evolução da medicina, são capazes de finalmente decifrar os últimos dias de Beethoven, gênio tão grande quanto o número de controvérsias relacionadas a seu óbito: envenenamento por chumbo, sífilis, sarcoidose, hepatite infecciosa, cirrose alcoólica, diabetes, pancreatite, necrose papilar renal ou pneumonia? E será que uma simples ameba pôde vitimar Bellini? Mozart teria sido assassinado? Tchaikovsky se suicidou com um copo de água contaminada pela bactéria da cólera? Schumann, que vivia entra a exaltação e a melancolia, poderia ser classificado como bipolar? Seriam os sintomas de Chopin relacionados à tuberculose ou a alguma doença de origem genética?
Com um texto elegante e saboroso, Bandeira é capaz de emular com precisão – tanto em conteúdo quanto em tom e rimo – as clássicas aventuras escritas por Doyle em novos casos com participações especiais de figuras histórias como Sigmund Freud e George Bernard Shaw, enquanto as décadas de experiência de Levi como infectologista conferem realismo e credibilidade científica aos intrigantes encontros da Confraria dos Médicos Sherlockianos. Além de contar com mistérios de primeira linha, Melodia mortal é um livro repleto de diversão e conhecimento para leitores de todas as idades.
A Confraria dos Médicos Sherlockianos, formada por 12 especialistas de renome, cada um em sua área, se reúne periodicamente para conversar sobre o famoso detetive inglês e suas façanhas. E não é incomum que tantos profissionais de saúde sejam obcecados por Holmes – afinal, o que é um exame clínico senão uma procura minuciosa por pistas que possam levar a um diagnóstico adequado? Mas aquele encontro tinha sabor especial, pois chegara a hora de dar início à análise de um tesouro exclusivo: as aventuras redigidas pelo próprio doutor Watson que, revelando a paixão de Sherlock pela música erudita, foram esquecidas por mais de um século em meio à poeira e ao bolor na Universidade de Londres.
O material inédito em posse do grupo conta com incríveis deduções de Sherlock Holmes, que, aliadas à evolução da medicina, são capazes de finalmente decifrar os últimos dias de Beethoven, gênio tão grande quanto o número de controvérsias relacionadas a seu óbito: envenenamento por chumbo, sífilis, sarcoidose, hepatite infecciosa, cirrose alcoólica, diabetes, pancreatite, necrose papilar renal ou pneumonia? E será que uma simples ameba pôde vitimar Bellini? Mozart teria sido assassinado? Tchaikovsky se suicidou com um copo de água contaminada pela bactéria da cólera? Schumann, que vivia entra a exaltação e a melancolia, poderia ser classificado como bipolar? Seriam os sintomas de Chopin relacionados à tuberculose ou a alguma doença de origem genética?
Com um texto elegante e saboroso, Bandeira é capaz de emular com precisão – tanto em conteúdo quanto em tom e rimo – as clássicas aventuras escritas por Doyle em novos casos com participações especiais de figuras histórias como Sigmund Freud e George Bernard Shaw, enquanto as décadas de experiência de Levi como infectologista conferem realismo e credibilidade científica aos intrigantes encontros da Confraria dos Médicos Sherlockianos. Além de contar com mistérios de primeira linha, Melodia mortal é um livro repleto de diversão e conhecimento para leitores de todas as idades.
Oi Rebeca, tudo bem?
ResponderExcluirEsse foi um livro regado à grandes expectativas. Esperei ansiosamente para começar a ler e achei que seria incrível. O que eu tenho a dizer é: nós não nos conectamos. Na verdade achei chato. Já explico. Talvez eu estivesse com as expectativas altas, talvez eu estivesse com o pensamento lá na série de TV em que Benedict Cumberbatch interpreta brilhantemente o melhor Sherlock que eu já vi… Talvez! Mas em minha defesa eu tentava o tempo todo me desassociar da figura dele, e entender que o formato televisivo tem outras características, e pode ser que pra mim seja o melhor jeito de ver o nosso amado detetive em ação. Porém, foi quase como matar a saudades de um velho amigo, então o livro ganha pontos em me aproximar desse personagem que tanto gosto.
Beijos.
Oi Isabela! Confesso que o reencontro com Bandeira era, desde o início, minha maior expectativa <3 É claro que Holmes e Watson igualmente pertencem ao meu "imaginário investigativo" (mas olha, confesso que não assisti a série que você citou :/ e com certeza, parece ser uma produção pra se colocar no topo da wishlist! já anotei aqui <3), mas foi com a ingênua perspicácia dos Karas que eu comecei a me interessar por este gênero literário, então... ao encontrar em Melodia Mortal não apenas um bom tributo a Conan Doyle, mas também aos personagens do Bandeira que há muito conhecemos, foi difícil não ter uma experiência de leitura meio assim, com cara de reencontro, onde histórias e referências tão distantes se transformaram em um encontro com antigas páginas de mim mesma...
ExcluirNão sei se esta é uma sensação que se repetirá no coração de muitos outros leitores, mas... sempre vale a tentativa <3 Quem sabe, vai que durante a leitura surge uma chama "elementar" na gente, não é mesmo?
Valeu pela visita, Isa! Até a próxima :) Bjs