H.G Wells, o "historiador dos anos a vir", como definido por Joseph Conrad, é tido como o mais influente escritor de ficção científica do século XIX, e ainda em nossa era goza de prestígio por clássicos como Guerra dos Mundos (1898), A Máquina do Tempo (1895) e O Homem invisível (1897). Sobre o último, há um fascinante imaginário sobre um ser humano que atinge um estado de invisibilidade, o qual, se não criado, foi fortalecido após seu livro de 1897.
Iping, pacato vilarejo no interior da Inglaterra, é o cenário da história. Em locais pequenos, a chegada de um visitante é um contexto perfeito para fomentar variados comentários por toda cidade; quando este hóspede da pousada da sra. Hall apresenta um visual cujas luvas, chapéus e gorros o impossibilitam de ser identificado, somados a uma personalidade evasiva e um extenso aparato de materiais para estudos químicos, este homem apresenta elementos suficientes para causar comentários mesmo se ocorresse na cosmopolita Londres.
Teorias e palpites sobre o insistente invólucro do misterioso homem se espalham, sendo um acidente, a tentativa de esconder uma deformidade visual, apenas a primeira. A excentricidade do visitante, de certo, não se limita a perspectiva dos interioranos. Logo entenderemos: estamos diante de um cínico, com comportamento debochado maximizado por uma inquietação que parece ter como razão algum insucesso.
Com exceção do estranho visitante, a maioria dos personagens da história são de papel secundário. Sem detalhes fornecidos, servem para ambientar a história em bares, nas ruas, na própria pousada. O leitor desse clássico irá assimilar com facilidade a vida em Iping no final do século XIX. As explicações teológicas populares aparecem naturalmente como para qualquer fonte do desconhecido; furtos e estranhos acontecimentos parecem estar cada vez mais ligados ao "estranho".
Um homem com essa personalidade não iria revelar-se nem ao menos para o leitor de maneira não-extravagante. Griffin, sobrenome que pode gerar muitas teorias para o esplêndido personagem, é a única identificação que encontraremos. Sua singularidade é atestada pela extravagante maneira que leitores e personagens descobrem, tratar-se, sim, de um homem invisível.
"An invisible man is a man of power."
Sua condição faz Griffin sentir-se imune às ameaças aos seus desejos. O excesso de segurança no estado de invisibilidade complica parcialmente seu caminho, que se torna mais árduo por uma incômoda solidão. De fato, atesta que antes do "invisível" há um "homem". Após perigosos contratempos em seus planos é a hora ideal da retirada: um colega de faculdade, Dr. Kemps, pode ser sua salvação, entretanto, Kemps percebe o que Griffin se tornou, não somente em sua forma física, mas em essência, e pode apresentar-se como um obstáculo.
A história do homem invisível é então detalhada: ainda por ele somos convencidos da possibilidade científica com uma interessante explicação sobre a percepção humana das luzes e o caminho que seria traçado para alcançar a invisibilidade; ao mesmo tempo, a perversão do vilão imperceptível mostra-se além da fúria pós-condição, mas uma prévia personalidade já propensa ao maligno, mesmo que outros momentos humanizem Griffin e deixem a discussão sobre seus atos aberta.
"His temper, at no time very good, seems to have gone completely at some chance blow, and forthwith he set to smiting and overthrowing, for the mere satisfaction of hurting."
Mais do que o natural interesse que o assunto desperta, Wells sempre soube utilizar seus criativos temas sem abandonar aspectos sociais, emulando a natureza humana em histórias espetaculares e adicionando um calculado espaço para convencer os mais céticos do prazer imaginativo que é fantasiar aquela realidade descrita em suas ficções científicas. O Homem invisível encorpou-se em 1897, para se tornar um personagem utilizado nos filmes, quadrinhos, jogos e todas fontes contemporâneas de arte e entretenimento que ainda se curvam a originalidade do notável criador de clássicos H.G. Wells.
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