Histórias de infância, quando lidas na vida adulta, despertam uma afetuosa nostalgia. Resgatar boas lembranças de nosso passado (ainda que o ato de lembrar traga certa melancolia) pode se tornar um proveitoso exercício de autoconhecimento, especialmente quando compartilhamos estes breves (porém duradouros) episódios de nossa biografia. E quando a literatura brasileira é quem fala sobre a vida, não há como não mencionarmos uma de suas maiores protagonistas: Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, ou simplesmente Cora Coralina.
Cora é uma autora ímpar, que como poucos traduziu a simplicidade de seus dias. Em diversos contos e poesia, a autora engrandeceu a riqueza de ser mulher e mãe, camponesa e escritora, livreira e sobrevivente. Porque a vida que dói e amanhece, a escrita de Cora é como um ciclo de renovação e permanência por entre estrofes de esperança e equilíbrio.
Cora nos deixou há algumas décadas, porém, seu legado permanece, seja em reedições (como as da Global Editora) como no cuidado com que seus familiares dispensam à sua memória, inclusive a literária.
Cora é uma autora ímpar, que como poucos traduziu a simplicidade de seus dias. Em diversos contos e poesia, a autora engrandeceu a riqueza de ser mulher e mãe, camponesa e escritora, livreira e sobrevivente. Porque a vida que dói e amanhece, a escrita de Cora é como um ciclo de renovação e permanência por entre estrofes de esperança e equilíbrio.
Cora nos deixou há algumas décadas, porém, seu legado permanece, seja em reedições (como as da Global Editora) como no cuidado com que seus familiares dispensam à sua memória, inclusive a literária.
Em "A menina, o cofrinho e a vovó", Cora parte de uma experiência biográfica (a solidão e a viuvez, em uma vida que não dispensa a pausa, que exige de nós sempre um recomeço) para criar uma fábula cotidiana, dedicada ao público infanto-juvenil, onde uma senhora decide dedicar-se à produção de bolos e doces, tanto para resgatar a sabedoria que vem da casa (e de si mesma) como também uma forma possível de sustento.
Muitas
são as dificuldades da Vovó nesta fábula (como poderia cozinhar, se faltavam-lhe panelas, tachos de cobre, utensílios, e
até uma geladeira?); ainda assim, a força de sua memória foi
suficiente para sustentar suas mãos e, a partir destas, iniciar com toda
dignidade uma nova etapa em sua vida, que viria a tornar-se novamente próspera em um futuro não muito distante. Trazendo para os nossos dias, o leitor encontra em Cora uma grande sabedoria: a de que a decisão para recomeçar (qualquer que seja a nossa idade; apesar dos inúmeros contratempos) deve partir de nós mesmos, e da esperança de que a própria vida (assim como o destino) nos aproxime
de pessoas solidárias, cuja empatia será uma força a mais para a realização de nossos
projetos. Mas voltando à história, foi exatamente o que aconteceu com a nossa Vovó, que recebeu um inesperado presente de sua neta, cuja grandeza foi suficiente para abraçar este sonho-sobrevida, e renovar os laços de familiaridade e sangue com aqueles que nunca esquecera.
Um segundo ponto a observar nesta história é a forma com que a vida nos apresenta, de tempos em tempos, possibilidades (nem sempre tão evidentes, é berm verdade) de sairmos
de um cotidiano sem perspectivas (principalmente financeiras) e viver por nossa conta, através do fruto de nosso trabalho, e com toda esta garra aceitar o desafio de empreender. Embora a mensagem de Cora esteja em fábulas e rimas, este é um desafio realmente difícil,especialmente em nosso país, mas
que serve como grande lição para que encontremos em nós mesmos (e naqueles
que nos acompanham pelo caminho) a força para dependermos o mínimo possível de
entidades, instituições, governos, enfim, de quaisquer instâncias que nos desindividualizem. Afinal, enquanto houver
força em nosso coração, físico e espírito, não há nada mais gratificante
que a experiência de recomeçar e, através desse esforço, prosperar.
Um último ensinamento é o de que a iniciativa para um novo modo de vida
precisa caminhar de mãos dadas com o sonho de nossa independência, principalmente a financeira.
Esta é uma lição que a pequena netinha compartilha com a sua avó, em um encontro repleto de boas lembranças e uma grande esperança: entre uma emoção e outra, a avó se preocupa com o presente recebido pela netinha (a saber, uma sacolinha com todas as suas economias), se toda esta doação não iria lhe fazer falta em sua vida. E foi através de uma doce resposta que a netinha demonstra não apenas um grande coração, mas um enorme otimismo: - Não, Vovó, se eu precisar do dinheiro, eu junto tudo novamente.
Em
um tempo onde é quase nulo o ensino da autonomia pessoal através de nosso próprio suor e do cuidado financeiro, o livro
de Cora Coralina é como uma luz de bondade e otimismo a clarear nossos
tão conturbados pensamentos. Que este trecho da autobiografia de Cora,
ainda que ilustrada em tons de ficção, possa ser uma leitura que traga
algum incentivo em nossa caminhada, e que o exemplo da pequena netinha
possa ser uma inspiração para nossos filhos, e para todos os quem cuidamos. Por
uma vida com mais afeto e iniciativa, e com menos dependência de tudo o
que nos puxa pra baixo e nos faz desviar do caminho :)
Obrigada Global Editora por reeditar mais esta belíssima história!
"Nada não. O doce se fazia. O freguês comprava, mandava novos fregueses. Então a velha ganhou dinheiro. Comprou tacho, tachos. Todo tamanho, sempre o cobre antigo, velho. Asa de bronze. (...) Nem usa tantos. Simbolismo. (...) Deixará para quando morrer, para filhas, netas e bisnetas. Símbolos vivos do seu trabalho produtivo. Ensinamento. Lição. Lição de vida. Sempre proveitosa."
A menina, o cofrinho e a vovó - Uma menina e sua avó. Mesmo distantes, que tesouros elas trocam? Nesta
história, Cora Coralina conta como uma avó trabalhadeira recebeu um
presente simples e generoso da neta. Um presente que ajudou a avó a
realizar seu sonho. E, como entre avós e netos a moeda de troca é variada, como será que a avó agradeceu?
Sobre a autora: Cora Coralina é o pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto (1889-1985). Nasceu na cidade de Goiás, antiga Villa Boa de Goyaz. Filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado por D. Pedro II, e de Jacinta Luísa do Couto Brandão. Foi criada às margens do rio Vermelho, em casa comprada por sua família no século XIX, quando seu avô ainda era uma criança. Estima-se que essa casa foi construída em meados do século XVIII, sendo uma das primeiras construções da antiga Vila Boa de Goiás. Aos 15 anos de idade, Ana vira Cora, derivativo de coração. Coralina veio depois, como uma soma de sonoridade e tradução literária.
Poeta e contista brasileira de prestígio, tornou-se um dos marcos da literatura brasileira. Cora Coralina iniciou sua carreira literária aos 14 anos com o conto “Tragédia na Roça” publicado no “Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás”.
Casou-se com o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Brêtas e teve seis filhos. O casamento a afastou de Goiás por 45 anos. Ao voltar às suas origens, viúva, Cora Coralina iniciou uma nova atividade, a de doceira (conheça a obra Doceira e Poeta). Além de fazer seus doces, nas horas vagas ou entre panelas e fogão, Aninha, como também era chamada, escreveu a maioria de seus versos.
Publicou o seu primeiro livro aos 76 anos de idade e despontou na literatura brasileira como uma de suas maiores expressões na poesia moderna. Em 1982 – mesmo tendo estudado somente até o equivalente ao 2º ano do Ensino Fundamental – Cora Coralina recebeu o título de doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Goiás e o Prêmio Intelectual do Ano, sendo, então, a primeira mulher a receber o troféu Juca Pato. No ano seguinte foi reconhecida como Símbolo Brasileiro do Ano Internacional da Mulher Trabalhadora pela FAO. Morreu em Goiânia, aos 95 anos, em 1985.
A Global Editora publica as obras de Cora Coralina com exclusividade e, em seu blog, disponibiliza diversas entrevistas, depoimentos e resenhas sobre a autora e suas obras.
Poeta e contista brasileira de prestígio, tornou-se um dos marcos da literatura brasileira. Cora Coralina iniciou sua carreira literária aos 14 anos com o conto “Tragédia na Roça” publicado no “Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás”.
Casou-se com o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Brêtas e teve seis filhos. O casamento a afastou de Goiás por 45 anos. Ao voltar às suas origens, viúva, Cora Coralina iniciou uma nova atividade, a de doceira (conheça a obra Doceira e Poeta). Além de fazer seus doces, nas horas vagas ou entre panelas e fogão, Aninha, como também era chamada, escreveu a maioria de seus versos.
Publicou o seu primeiro livro aos 76 anos de idade e despontou na literatura brasileira como uma de suas maiores expressões na poesia moderna. Em 1982 – mesmo tendo estudado somente até o equivalente ao 2º ano do Ensino Fundamental – Cora Coralina recebeu o título de doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Goiás e o Prêmio Intelectual do Ano, sendo, então, a primeira mulher a receber o troféu Juca Pato. No ano seguinte foi reconhecida como Símbolo Brasileiro do Ano Internacional da Mulher Trabalhadora pela FAO. Morreu em Goiânia, aos 95 anos, em 1985.
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