
Em parceria com o Ateliê Editorial,
recebemos para resenha Desconhecer, livro de poemas do
jornalista paulistano Ricardo Lima, Coordenador Editorial da Unicamp e
autor de cinco outras obras. A publicação conta ilustrações da
professora Lygia Eluf e um acabamento gráfico primoroso, próprio a diversos títulos do Ateliê.

Ao receber o livro, perguntaram-me como a poesia poderia ser comentada em um texto cotidiano, como o de um blog ou resenha. Acredito que no interior desta pergunta esteja a dúvida quanto a possibilidade de encerrarmos a obra em um comentário desafinado ou invasivo, em contradição ao pensamento e lógica do próprio autor. E sendo o texto poético envolto em exposição e bruma, por vezes silenciamos nosso olhar, como se à espera de um modo-de-ler ou crítica, para apenas em seguida iniciarmos uma qualquer leitura.
Para um encontro com a poesia, é preciso apreciar a palavra, desejá-la, e expor-se à sua presença; para encontrar-se em um poema, é necessário atravessar suas neblinas, e ouvir a multidão que o texto nos faz conhecer. Nesta leitura não-acadêmica de um livro, basta apenas visitar o mundo de cada estrofe, e habitar em cada um de seus caminhos.
Neste universo de Ricardo Lima, encontramos uma geografia de lar e memória, onde por entre sombras de árvores e céu traçamos as cores de um alguém que, assim como a vida, distancia:
nasci para cultivar
mundo
que não verei
neto do meu filho
cidadezinha asiática
sombra de algumas sementes
nasci para cultivar uma encosta
com floresta.
Para um encontro com a poesia, é preciso apreciar a palavra, desejá-la, e expor-se à sua presença; para encontrar-se em um poema, é necessário atravessar suas neblinas, e ouvir a multidão que o texto nos faz conhecer. Nesta leitura não-acadêmica de um livro, basta apenas visitar o mundo de cada estrofe, e habitar em cada um de seus caminhos.
Neste universo de Ricardo Lima, encontramos uma geografia de lar e memória, onde por entre sombras de árvores e céu traçamos as cores de um alguém que, assim como a vida, distancia:
nasci para cultivar
mundo
que não verei
neto do meu filho
cidadezinha asiática
sombra de algumas sementes
nasci para cultivar uma encosta
com floresta.
Neste febril semblante, encontraremos no texto a voz que o poeta guardou? Em sua epígrafe, Clarice em assertiva: Quando a gente se revela, os outros começam a nos desconhecer. E nas páginas seguintes o leitor e o poema confrontam-se em incertezas e vestígios:
o silêncio bem guardado
do que já se perdeuo silêncio bem guardado
as respostas mal ouvidas
do que ainda suspeita
os solavancos da língua
os pudores, a espreita
novas perguntas
a cada taxi
e a resposta
que não encontra o caminho
Em pouca pontuação e sem títulos, Desconhecer é para o autor uma possibilidade de "leitura mais ininterrupta do livro, como se fosse um grande poema". No espaço de 40 poemas, o leitor poderá em Desconhecer construir um temporário lugar, eventualmente arenoso, onde de mãos dadas a liberdade e a noite poderão equilibrar-se; no intervalo desta fiança, um passo em falso pode esvaziar toda lembrança, e aproximar-nos do alfabeto que o poeta encontrou. E esta talvez seja uma das grandes experiências de um poema.

Sobre a Ateliê Editorial
A Ateliê Editorial está no mercado desde 1995, atuando principalmente nos segmentos de literatura – ensaios, crítica literária e outras matérias de natureza acadêmica; comunicação e artes; arquitetura; edição de clássicos da literatura; e estudos sobre o livro e seu universo. O objetivo desta casa é levar ao público leitor livros de alta qualidade editorial, em edições cuidadosas que primam pela atenção ao conteúdo, à forma e à expressão. Isso transparece tanto nas capas quanto no rigor e fidelidade textual, o que pode ser comprovado pelos diversos prêmios nacionais e internacionais já recebidos pela editora – como Jabuti, APCA e IDA International Design Awards (EUA).
Você e suas leituras maravilhosas! Eu sempre li muitos poemas, há algum tempo me distanciei um pouco disso, mas eu adoro ler. E tem muito poeta bom por aí, escondidinhos, escrevendo estrofes ao vento até chegar a algum olhar assim sensível como o seu.
ResponderExcluirBjux, Reb.
Diego, Blog Vida & Letras
www.blogvidaeletras.blogspot.com
O bom uso das palavras, seja através de uma letra de uma canção, seja através de uma prosa bem construída ou através de um poema que nos toca o âmago, é de fato libertador. Que feliz nós somos, por poder vivenciar tudo isso.
ResponderExcluirBeijo, beijo.
http://ameninaquenaoparadeler.blogspot.com.br/