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fevereiro 09, 2016

[Resenha] Sobre a coletânea de poemas Desconhecer, de Ricardo Lima



Em parceria com o Ateliê Editorial, recebemos para resenha Desconhecer, livro de poemas do jornalista paulistano Ricardo Lima, Coordenador Editorial da Unicamp e autor de cinco outras obras. A publicação conta ilustrações da professora Lygia Eluf e um acabamento gráfico primoroso, próprio a diversos títulos do Ateliê.


Ao receber o livro, perguntaram-me como a poesia poderia ser comentada em um texto cotidiano, como o de um blog ou resenha. Acredito que no interior desta pergunta esteja a dúvida quanto a possibilidade de encerrarmos a obra em um comentário desafinado ou invasivo, em contradição ao pensamento e lógica do próprio autor. E sendo o texto poético envolto em exposição e bruma, por vezes silenciamos nosso olhar, como se à espera de um modo-de-ler ou crítica, para apenas em seguida iniciarmos uma qualquer leitura.

Para um encontro com a poesia, é preciso apreciar a palavra, desejá-la, e expor-se à sua presença; para encontrar-se em um poema, é necessário atravessar suas neblinas, e ouvir a multidão que o texto nos faz conhecer. Nesta leitura não-acadêmica de um livro, basta apenas visitar o mundo de cada estrofe, e habitar em cada um de seus caminhos.

Neste universo de Ricardo Lima, encontramos uma geografia de lar e memória, onde por entre sombras de árvores e céu traçamos as cores de um alguém que, assim como a vida, distancia:


nasci para cultivar
mundo
que não verei

neto do meu filho
cidadezinha asiática
sombra de algumas sementes

nasci para cultivar uma encosta
com floresta.


Neste febril semblante, encontraremos no texto a voz que o poeta guardou? Em sua epígrafe, Clarice em assertiva: Quando a gente se revela, os outros começam a nos desconhecer. E nas páginas seguintes o leitor e o poema confrontam-se em incertezas e vestígios:


o silêncio bem guardado
do que já se perdeu

as respostas mal ouvidas
 do que ainda suspeita

os solavancos da língua  
os pudores, a espreita

novas perguntas   
a cada taxi

e a resposta   
que não encontra o caminho 


Em pouca pontuação e sem títulos, Desconhecer é para o autor uma possibilidade de "leitura mais ininterrupta do livro, como se fosse um grande poema". No espaço de 40 poemas, o leitor poderá em Desconhecer construir um temporário lugar, eventualmente arenoso, onde de mãos dadas a liberdade e a noite poderão equilibrar-se; no intervalo desta fiança, um passo em falso pode esvaziar toda lembrança, e aproximar-nos do alfabeto que o poeta encontrou. E esta talvez seja uma das grandes experiências de um poema.



Sobre a Ateliê Editorial

A Ateliê Editorial está no mercado desde 1995, atuando principalmente nos segmentos de literatura – ensaios, crítica literária e outras matérias de natureza acadêmica; comunicação e artes; arquitetura; edição de clássicos da literatura; e estudos sobre o livro e seu universo. O objetivo desta casa é levar ao público leitor livros de alta qualidade editorial, em edições cuidadosas que primam pela atenção ao conteúdo, à forma e à expressão. Isso transparece tanto nas capas quanto no rigor e fidelidade textual, o que pode ser comprovado pelos diversos prêmios nacionais e internacionais já recebidos pela editora – como Jabuti, APCA e IDA International Design Awards (EUA).

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2 comentários:

  1. Você e suas leituras maravilhosas! Eu sempre li muitos poemas, há algum tempo me distanciei um pouco disso, mas eu adoro ler. E tem muito poeta bom por aí, escondidinhos, escrevendo estrofes ao vento até chegar a algum olhar assim sensível como o seu.

    Bjux, Reb.
    Diego, Blog Vida & Letras
    www.blogvidaeletras.blogspot.com

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  2. O bom uso das palavras, seja através de uma letra de uma canção, seja através de uma prosa bem construída ou através de um poema que nos toca o âmago, é de fato libertador. Que feliz nós somos, por poder vivenciar tudo isso.
    Beijo, beijo.
    http://ameninaquenaoparadeler.blogspot.com.br/

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