Ao longo do tempo, a obra de Jane Austen
tem sido amplamente discutida e a cada novo trabalho a respeito de sua
obra, vemos as opiniões dos críticos mudarem. Ela já foi considerada
genial, previsível, irônica, moralista, elitista, racional e muitos
outros adjetivos contraditórios entre si.
O que todos esses críticos concordam é que ela escrevia histórias com as quais o leitor dito “comum” da época, se identificaria. Bom, pelo número de vendas de suas obras na atualidade, podemos dizer que não importa o que os críticos possam dizer, sua obra mexe com os leitores.
Dando continuidade ao nosso especial para homenagear a autora, vamos falar de mais duas obras de sua autoria, lidas por essa que vos escreve:

Conforme, vai crescendo, a situação muda um pouco, já que os tios e Edmund, um primo em especial, começam a tratar-lhe com maior consideração e gentileza, cedendo-lhe um lugar de fato na família, ao qual ela tem dificuldade em entender e aceitar, já que toda sua vida sentiu e foi ensinada que isso não era a realidade dela. Não se engane em pensar que ela é uma mocinha boba e "coitadinha". Apesar da aparência frágil e da extrema timidez e modéstia, Fanny concentra em si diversos conflitos da alma humana, mostrando-se uma personagem forte e profunda e muito mais sensata e inteligente que os primos e as próprias tias. E apesar de seu coração gentil e grato por tudo que a vida lhe proporcionou através de pequenos momentos de alegria, ela é firme em não permitir que outros decidam seu destino, quando o momento decisivo de sua jornada chega.
O enredo se baseia na jornada da própria Fanny e da família que a acolheu, além de suas relações com uma família que habita no mesmo local e frequenta os mesmos círculos sociais dos habitantes de Mansfield Park. Os personagens dessa história cheia de elementos conflitantes como contratos sociais, preconceitos, escravidão, autoconhecimento, riqueza e amor, são muito bem elaborados e suas verdadeiras essências, boas ou más, não são tão estereotipadas como vemos em outras obras de Jane Austen, mostrando que mesmo alguém de má índole, pode sim ter momentos de redenção, ou alguém de bom coração e de inteligência superior, pode ser ludibriado pelo encantamento superficial com a beleza de outrem.
E se há algo nessa obra que a diferencia das demais, é que Jane conseguiu criar um personagem principal masculino, que eu considero detestável, por sua estupidez em se deixar envolver por pessoas que desdenham de sua condição e escolhas pra vida, mas ainda assim com a esperança de que haja uma mudança de paradigmas, coisa que pessoas apaixonadas infelizmente fazem na vida real também. Ao mesmo tempo é admirável que ele não desista de seus propósitos e plano de vida para satisfazer um comportamento na pessoa amada que ele julga supérfluo e mesquinho.
Mais uma vez, Jane mostrou que estava a frente de seu tempo, falando de temas tão atuais que me parecia uma história contemporânea ao invés de um clássico da literatura inglesa.
E se há algo nessa obra que a diferencia das demais, é que Jane conseguiu criar um personagem principal masculino, que eu considero detestável, por sua estupidez em se deixar envolver por pessoas que desdenham de sua condição e escolhas pra vida, mas ainda assim com a esperança de que haja uma mudança de paradigmas, coisa que pessoas apaixonadas infelizmente fazem na vida real também. Ao mesmo tempo é admirável que ele não desista de seus propósitos e plano de vida para satisfazer um comportamento na pessoa amada que ele julga supérfluo e mesquinho.
Mais uma vez, Jane mostrou que estava a frente de seu tempo, falando de temas tão atuais que me parecia uma história contemporânea ao invés de um clássico da literatura inglesa.
Em Abadia de Northanger, publicado postumamente (1817), podemos ver uma face mais leve da escrita de Jane em uma paródia dos romances góticos que estavam na moda naquele período. A heroína Catherine Morland, é uma jovem de imaginação fértil que adora romances repletos de aventuras sombrias que se passam em antigos castelos ou mosteiros de arquitetura gótica e seu maior desejo é viver uma dessas aventuras.
De temperamento dócil e até ingênuo, Catherine se vê rodeada de pessoas da alta sociedade inglesa, e chama a atenção de alguns jovens de melhor situação financeira que a sua. Podemos acompanhar através dessa narrativa, como era a vida social dos jovens naquela época, com seus bailes quase que diários, o despertar do interesse pelo sexo oposto, a maledicência com que os adultos julgavam os jovens de que tanto se gabavam na frente uns dos outros, e a doçura de uma protagonista que não vê maldade em ninguém.
Catherine encontra sua própria aventura quando é convidada a passar alguns dias na Abadia de Northanger, residência de um Coronel e seus dois filhos, com quem ela estreita laços de amizade e acaba sendo alvo da própria imaginação romântica ao perambular pelos cômodos da Abadia.

Como nas demais histórias escritas por Jane, vemos nossa heroína crescendo com as situações a que é submetida, sem deixar de lado seus próprios conceitos e sentimentos. Trate-se de uma leitura mais rápida, mais afiada, pois apesar de ter sido publicada posteriormente à morte de Jane, ela o escreveu entre 1798 e 1799, sendo um de seus primeiros textos a serem finalizados, e é considerado por alguns estudiosos um romance de aprendizagem, onde ela sutilmente critica os romances góticos e defende os romances em geral, que na época eram escritos principalmente por mulheres e considerados de segunda categoria, mesmo que o enredo não se foque nisso.
Uma curiosidade a respeito desse livro, é que foi o primeiro em que Jane foi apresentada como autora. Até então, seus livros haviam sido publicados anonimamente, (apesar de a família não conseguir esconder completamente a autoria dos romances), mas seu irmão Henry escreveu uma nota biográfica em Abadia de Northanger para sua publicação, onde trouxe a público informações sobre a vida e últimos momentos de Jane, além da maneira como ela via sua obras, mesmo que seu nome não constasse na capa.
Aguardo vocês para continuar essa deliciosa discussão sobre as obras dessa autora atemporal. <3
Ps: As ilustrações deste post são da artista Sara Maese e as edições consultadas são as da Martin Claret que tanto amamos!
Ps 2: Você pode conferir a primeira parte deste especial Jane Austen aqui.
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